A brasileira Virginia Bicudo (1910-2003), primeira analista sem formação médica da América Latina

A brasileira Virginia Bicudo (1910-2003), primeira analista sem formação médica da América Latina

Primeiro núcleo de analistas brasileiros foi formado em 1927

Na São Paulo do início do século 20, a Semana de Arte Moderna criou um clima propício à difusão da psicanálise. Artistas da vanguarda logo captaram o alcance da teoria sobre o inconsciente.

Poeta e membro da elite intelectual, o psiquiatra Durval Marcondes foi o primeiro psicanalista do país. Ele, que chegou a ter um poema publicado na revista “Klaxon”, dos modernistas, acabou fundando, jcom notáveis da antiga Faculdade de Medicina, um núcleo de estudos sobre psicanálise. O grupo foi o embrião da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, criada em 1927.

No ano seguinte, Marcondes lançou a “Revista Brasileira de Psicanálise”, enviou um exemplar a Freud e comunicou sua intenções de trazer o método ao Brasil.

Freud mandou uma resposta estimulante: disse que havia até comprado um dicionário de português com o intuito de ler a revista nas férias. A publicação não foi longe, só voltou a ser editada nos anos 1960.

O reconhecimento da Sociedade pela IPA (International Psychoanalytical Association) só veio em setembro de 1951. Demorou décadas porque, para se formarem como analistas e praticarem a clínica, os pioneiros precisavam ser eles mesmos analisados.

Para essa missão, a IPA enviou ao Brasil a psicanalista Adelheid Koch, que emigrou de Berlim com família e gramofone. Culta e elegante, era exímia na arte de usar e fazer chapéus e, pelo visto, tinha senso de humor. Dizia que se atarefa de formar psicanalistas por aqui não vingasse, seria chapeleira.

Depois de um tempo de adaptação, Adelheid Koch iniciou a análise e a formação dos pioneiros. Eram eles o próprio Marcondes mais Flavio Dias, Darcy Mendonça Uchoa, Frank Philips e Virginia Leone Bicudo _-uma socióloga negra de origem proletária que foi a primeira psicanalista não médica na América Latina.

Além de abrir o campo para analistas de outras áreas, Virginia Bicudo também se destacou pela divulgação das teorias freudianas.

Em 1950, ela criou um programa no rádio, “Nosso mundo mental”, e, em 1954, estreou coluna na então Folha da Manhã.

Arrojada, tinha ideias sobre a função social do analista e dava concorridas palestras no auditório do jornal.

Até meados dos anos 1970, a Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo era a única instituição que formava psicanalistas em São Paulo. Nesse período, porém, explodiram divergências entre profissionais.

Um dos pontos de conflito dizia respeito à exigência de que os candidatos a psicanalistas fizessem análise com um profisssional didata da Sociedade _como é até hoje.

Hoje, os filiados à Sociedade são 778. A entidade tem 49 núcleos regionais espalhados pelo país. Os núcleos que mantêm vícunculo com a IPA (International Psychoanalytical Association) são associados da Federação Brasileira de Psicanálise, que reúne cerca de 2.050 psicanalistas.

Os críticos viam nesse método uma hierarquia autoritária. Alegavam que tal sistema favorecia a concentração de poder, o que motivou a criação de outras entidades.

(Fonte: www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude – DEBORAH DE PAULA SOUZA COLABORAÇÃO PARA A FOLHA – 27/09/2011)