Primeiros cem anos Brasil Politica Jesuita Brasil – Os primeiros cem anos

0
Powered by Rock Convert

Brasil – Os primeiros cem anos
1500-1600
Pol?tica Jesu?ta
AldeamentoRedu??o em massa dos ?ndios a uma nova coletividade subordinada a autoridade do padre Col?gioForma??o de uma elite nativa com a fun??o de multiplicar e difundir a catequese

A conquista econ?mica: nas primeiras d?cadas de presen?a europ?ia na Terra de Vera Cruz o interesse mais concreto pela regi?o descoberta limitou-se ao extrativismo. A abund?ncia do ibirapitanga, o pau-de-tinta, como chamavam-no os ?ndios, estabeleceu a pr?tica do escambo dos europeus com os nativos. Em troca de objetos de enfeite e de muitos utens?lios pr?ticos, eles mostravam boa vontade em cortar e ajudar a transportar para os navios, os troncos retirados da floresta. A possibilidade de obter-se essa abundante madeira-tinta no litoral do que veio a se chamar Brasil, logo atraiu marinheiros normandos e bret?es e de outras na??es, prontos em abastecer as tecelagens flamengas e outras.

Entradas: verificou-se, paralelo ao extrativismo, o est?mulo por parte dos lusos, a que se fizessem v?rias ?entradas? partindo-se da costa, para averiguar a exist?ncia de alguma gema valiosa, ou veio de ouro ou prata. Lendas a respeito da exist?ncia de uma Serra das Emeraldas ou de outra inteiramente de Prata, as estimularam. Aproveitando-se das embocaduras dos rios, remando ou velejando em prec?rias canoas, por vezes remadas por ?ndios, v?rias opera??es de desbravamento foram feitas pelo interior do sert?o selv?tico. As primeiras expedi??es que temos registro foram as tr?s organizadas por Martim Afonso de Souza, sendo que a primeira delas realizou-se em abril de 1531, partindo da ba?a da Guanabara. A Segunda deu-se pr?xima a Canan?ia, atendendo a boatos de exist?ncias de minas e, por fim, a que desvendou o Rio da Prata atra?da pelas hist?rias de S?lis da exist?ncia de metal argentino na ?rea. Obedeceram essas entradas, dentro do poss?vel, os limites do Tratado de Tordesilhas, e formaram o que Bas?lio de Magalh?es classificou como ?pequena expans?o?, estendendo-se de 1504 at? 1696.

A cana-de-a??car: n?o se sabe a data exata da implanta??o dos primeiros engenho de cana-de-a??car no Brasil. O cultivo dela j? era dominada h? mais de s?culo pelos portugueses, provavelmente desde 1420, quando o Infante D. Henrique, esse faz-tudo do reino de Portugal, mandara trazer mudas da Sic?lia para plant?-las na ilha da Madeira e nas Can?rias. Stuart Shwartz, por sua vez, assegura-nos que a experi?ncia mais concreta com a lavoura da cana foi feita na ilha de S?o Tom?, revelada aos portugueses em 1471, uma das quatro ilhas do golfo da Guin?. Ali encontraram-se por assim dizer todos os elementos da pol?tica de coloniza??o atuando em conjunto (inclusive servindo como um campo de concentra??o agro-experimental para filhos de judeus) que formariam a base do complexo a?ucareiro que depois expandiu-se para a costa nordestina do Brasil e zona caribenha.

O primeiro alvar? tratando de promover sua introdu??o no Brasil data de 1516, quando o rei D. Manuel determinou que se encontrasse gente ?pr?tica capaz de dar princ?pio a um engenho de a??car no Brasil?. Desde que chegou foi uma planta imperialista, derrubando e queimando as matas, espantando ou preando os ?ndios e importando em seguida os cativos africanos. A hist?ria do Brasil dos primeiros s?culos esteve estreitamente ligada ? hist?ria do a??car.

O engenho: no Nordeste coube a Jer?nimo de Albuquerque fundar o primeiro deles em Pernambuco em 1535, chamado de engenho da Nossa Senhora da Ajuda, nas proximidades de Olinda. E, a partir de 1538, eles deram a se espalhar pelas margens da Baia de Todos os Santos. T?m a seu favor o massap?, terra negra acolhedora dos p?s-de-cana, que se estende desde o Rec?ncavo nas proximidades de Salvador, at? o Cear?, formando uma vasta ?rea apropriada para o desenvolvimento da ?civiliza??o do a??car? e base material para o surgimento posterior do baronato do massap?, que ser? o primeiro n?cleo s?lido da estrutura colonial assegurado pelo trip? – monocultura, latif?ndio e escravid?o.

No sul, menciona-se o famosos engenho de Martin Afonso de Sousa instalado em S?o Vicente em 1532 e chamado ?Senhor Governador?, todo ele provido de gente qualificada trazida da Europa para tal fim. A nobreza nativa: a exuber?ncia e o sucesso da produ??o a?ucareira fez com que a Coroa portuguesa desse privil?gios e foros especiais aos donos de engenho, tornando-os, -particularmente ?a gente da V?rzea do Capiberibe? de Pernambuco-, um tipo de nobreza nativa reconhecendo-os como o esteio do que viria a ser mais tarde a classe dominante brasileira por mais de tr?s s?culos e meio. Eram os bar?es do massap?, os soberanos do a??car.

O engenho, uma das c?lulas da globaliza??o de ent?o, singular estrutura composta pela casa grande & senzala, a capela, e as terras cultivadas – o canavial e o mandiocal – formaria um tipo de feudo tropical, dominado autocraticamente pelo seu dono e lavrado pelo africano e seu companheiro de cativeiro, o boi. O propriet?rio, um gr?o-senhor, falava com seus escravos aos gritos da varanda do casar?o ou do alto da cela do cavalo, h?bito que depois exerceria para dirigir-se ao povo em geral. Local aut?nomo, como observou Fernando de Azevedo, distante do poder do governador-geral na sede da col?nia, e mais ainda del-rei, na long?nqua metr?pole. Tornou-se, para a classe dominante brasileira, uma esp?cie de escola do mandonismo, onde exercitou o poder utilizando alternadamente a chibata e a sedu??o. Gilberto Freyre atribui a eles, ao que denominou de sociedade patriarcal, a fa?anha de manter o imenso pa?s integrado, pois o dom?nio senhorial baseado no Nordeste brasileiro espalhou-se como um modelo a ser seguido pelas demais regi?es, fossem elas dedicadas ?s minas, ao caf? ou ao gado.

Nunca foi f?cil a vida no Brasil de antanho, de plantar e dar, de orar e colher. Como lembrou o mesmo Freyre ? Pa?s da Cocagne (da fartura) coisa nenhuma: terra de alimenta??o incerta e dif?cil ? que foi o Brasil dos tr?s s?culos coloniais. A sombra da monocultura esterilizando tudo. Os grandes senhores rurais sempre endividados. As sa?vas, as enchentes, as secas dificultando o grosso da popula??o o suprimento de viveres?.

A escravid?o: inequivocamente foi o engenho quem fixou e sedentarizou a coloniza??o do Brasil. Substituindo aos poucos a m?o-de-obra ind?gena sempre rebelada, pelos cativos trazidos em grande parte de Angola, na ?frica – o ?carv?o humano? incinerado na fornalha para a feitura do a??car, do mela?o, da rapadura e da cacha?a -, foi tamb?m o respons?vel pela difus?o do escravagismo brasileiro: ?Sem negros?, disse o Padre Vieira, ? n?o h? Pernambuco e sem Angola n?o h? negros?.

Comerciar cativos da Guin? – ainda que inicialmente para fins dom?sticos – era pratica comum dos mercadores portugueses bem antes dos grandes descobrimentos, tanto ? que a Coroa criou a Casa dos Escravos em Lisboa para organizar o neg?cio. Consta que Gil Eannes, ao trazer uma primeira leva deles para a capital em 1432, ou ainda em 1441, teria sido um dos mais conhecidos navegadores lusos a lucrar com o tr?fico negreiro. Lisboa por?m n?o era a ?nica a abrir seu porto para tal tr?fico pois Lagos no Algarve a seguia. Na metade do s?culo 16, a capital lusitana abrigava quase 10 mil escravos, uns 10% da sua popula??o. Na Bahia, apontam ter sido Jorge Lopes Bisorda quem, no ano de 1538, vendeu, ?a quem, melhor lhe pagou?, na Praia da ?gua dos Meninos em Salvador, a primeira carga do que no eufemismo dos traficantes chamavam de ?pe?as da ?ndia?, ou ainda de ?f?lego vivo?. Estes coitados vieram em grande parte para serem postos no eito, no trabalho de sol-a-sol da lavoura.

Inaugurava-se, segundo Pierre Verger, com esta venda do primeiro lote de infelizes trazidos da ?frica, o primeiro ciclo do tr?fico negreiro – o ciclo da Guin? -, fazendo com que at? 1591 mais de 52 mil escravos chegassem ao Nordeste. Pernambuco nesta ?poca j? possu?a 66 engenhos, e Gabriel Soares de Souza contou na Bahia mais de 40 deles.

Ao ciclo da Guin?, seguiram-se ainda, dedicados ? exporta??o de ?pe?as? da costa africana para o Brasil, os ?ciclos de Angola e do Congo?, no s?culo 17; o ?da Costa da Mina? at? 1770 ; e, por fim, encerrando o nefando com?rcio, o ?ciclo da baia de Benin? que se prolongou at? 1850.
Com as planta??es estrutura-se, no transcorrer do s?culo 16, o com?rcio triangular transatl?ntico, tendo um dos v?rtices em Lisboa, o outro na costa da Angola, e um terceiro no nordeste brasileiro. O a??car ir? centralizar as aten??es do mercantilismo portugu?s e, depois do holand?s, quando eles come?am a assolar o territ?rio Nordeste, a partir da incurs?o bem armada de Van Caarden na Bahia, em 1604.

S?culos mais tarde um observador notou que nenhuma daquelas distintas senhoras inglesas que, desde o s?culo 18, deram ? freq?entar os sal?es de ch?s abertos na capital londrina, podiam sequer imaginar o hist?rico de sofrimento, humilha??o e degrada??o humana que se ocultava por detr?s de cada torr?o de a??car que delicadamente colocavam na sua ch?vena para ado?ar a infus?o. Mal sabiam elas o quanto de suor e de sangue havia sido derramado para gerar aquela pedrinha branca e doce.

Powered by Rock Convert
Share.