Pela primeira vez pesquisa registra o predomínio de brasileiros que se declaram pardos superando o total de brancos no Brasil

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O número de pardos supera o de brancos no Brasil pela primeira vez

Separação entre pretos e pardos é polêmicaFoto: Arte Agência Brasil

Separação entre pretos e pardos é polêmica Foto: Arte Agência Brasil

Censo 2022: população parda supera a branca pela 1ª vez desde 1872
IBGE mostra também crescimento da proporção de pretos

Movimentos sociais se reúnem em ato pelo Dia da Consciência Negra; grupo populacional inclui pardos e pretos (Foto: Taba Benedicto/Estadão© Fornecido por Estadão)

 

 

 

O número de brasileiros que se declaram pardos supera o total de brancos no Brasil de forma inédita. Nova fase de divulgação dos dados do Censo 2022, feita na sexta-feira, 22, mostra que cerca de 92,1 milhões de brasileiros (45,3% da população) se declararam pardas.

É a primeira vez que a pesquisa registra o predomínio desse segmento desde o início da série histórica em 1991, quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) passou a adotar as cinco categorias atuais (amarelos, brancos, indígenas, pardos e pretos).

O número de pessoas pardas no Brasil superou o de brancas pela primeira vez desde 1872. No ano passado, 92,1 milhões de pessoas se reconheciam pardas, enquanto 88,3 milhões, brancas. Os dados estão no Censo 2022 e foram divulgados nesta sexta-feira (22) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Entre os recenseamentos de 2010 e 2022, a população branca caiu de 47,7% para 43,5%, deixando de ser majoritária. Por outro lado, os pardos aumentaram a participação de 43,1% para 45,3%.

Outros 88,2 milhões (43,5%) se declararam brancos. Já outros 20,6 milhões (10,2%) se identificam como pretos. Um grupo de1,7 milhões (0,8%) se declara indígena e 850,1 mil (0,4%), amarelos. Na soma, pretos e pardos são 55,5%.

Em 2010, a população branca era de 47,7% enquanto os pardos representavam 43,1%. Em 2022, há inversão de posições (45,3% a 43,5%). “É a grande mudança de estrutura que apresentamos com os dados de 2022?, diz Marta Antunes, responsável pelo Projeto de Povos e Comunidades Tradicionais do IBGE.

Entre os motivos para a nova configuração, estão alterações demográficas e também na percepção dos brasileiros, que têm se reconhecido cada vez mais no grupo étnico-racial de pretos e pardos. Isso está ligado a um lento e gradual processo de reconhecimento social e superação de preconceitos em relação à população negra.

De acordo com o IBGE, parda é a pessoa que se identifica com a mistura de duas ou mais opções de cor ou raça. O instituto respeita o critério de autoidentificação, ou seja, cada informante responde sobre a percepção de sua cor e raça, conceitos que vão além da cor da pele e do fenótipo. Há vários critérios que podem ser usados pelo participante para responder a pesquisa como a origem familiar, etnia, questões socioeconômicas, entre outros.

A população preta saltou de 7,6% para 10,2%. Em 2022 eram 20,7 milhões de pessoas. A raça indígena também aumentou a participação no total de habitantes do país, de 0,4% para 0,6%, alcançando 1,7 milhão.

Além da população branca, a amarela também apresentou recuo, de 1,1% para 0,4%, somando 850 mil pessoas.

 

Nesse contexto, a população preta cresceu 42,3% ante o último levantamento. Se considerar o Censo de 1991, a população preta dobrou, passando de 5% a 10,2%.

“Há muitos fatores que podem influenciar. É um fenômeno multidimensional. A pergunta sobre cor e raça é uma percepção das pessoas sobre elas mesmas. É um processo relacional que tem a ver com contextos socioeconômicos e relações inter-raciais”, afirma Leonardo Athias, analista do IBGE.

Neste levantamento, o maior salto de autoidentificação foi verificado na população indígena, com 89% (mas o IBGE faz a ressalva de que houve um incremento no esforço de rastrear os indígenas nesta edição do Censo). Já a fatia de pardos subiu 11,9%.

Nos outros segmentos, os brancos tiveram decréscimo de 3% em relação ao último censo enquanto a população amarela teve queda de 59%. No último caso, o número se explica por causa de uma mudança metodológica, com uma pergunta de confirmação sobre a ascendência oriental.

 

 

Critérios

O IBGE tem como padrão agrupar as pessoas em cinco categorias, de acordo com a raça ou cor: branca, preta, amarela (de origem oriental), parda (inclui quem se identifica com a mistura de duas ou mais cores, exceto amarela) e indígena. A coleta de dados é feita por meio de autodeclaração.

É uma percepção que a pessoa tem dela mesma. As pessoas usam a questão da cor da pele, da aparência, questões socioeconômicas”, explica o pesquisador do IBGE Leonardo Athias.

O instituto explica que utiliza o conceito de raça como categoria socialmente construída na interação social e não como conceito biológico.

Outra ressalva feita pelo estudo é que a população indígena no recenseamento é composta pelas pessoas que se declaram indígenas no quesito de cor ou raça – independentemente de viverem em terra indígena – e também pelas que se consideram indígenas, mesmo se identificando com outra das quatro cores. Por exemplo, uma pessoa parda que mora em um território indígena e se considera parte da comunidade.

Assim, enquanto o Censo identifica 0,6% da população (1,2 milhão) como sendo da raça indígena, a população indígena é estimada em 0,8% (1,7 milhão).

Trajetória histórica

Quando o primeiro censo foi realizado, em 1872, a população parda (38,3%) era levemente superior à branca (38,1%). Ao longo das décadas, a população branca foi se tornando majoritária até alcançar o pico de 63,5% em 1940 e entrar em tendência decrescente.

 

 

Separação entre pretos e pardos é polêmicaFoto: Arte Agência Brasil

Foto: Arte Agência Brasil

Também em 1940, os pardos atingiram a menor participação, 21,2%. Desde então, seguiram trajetória de crescimento até virarem majoritários em 2022 – apesar de recuo entre 1991 e 2000.

A população preta somava 19,7% dos habitantes em 1872 e apresentou seguidas perdas de participação até 1991, quando chegou à menor marca, 5%. Desde então, mais que dobrou até o Censo 2022, 10,2%.

O pesquisador Leonardo Athias explica que as mudanças no perfil da população não ocorrem apenas pela questão demográfica, ou seja, nascimento ou morte de pessoas. Mas também por outros fenômenos.

“Essas variações têm a ver com a percepção. Cor ou raça é uma percepção que as pessoas têm de si mesmas. É um processo relacional, tem a ver com contexto socioeconômicos, contextos das relações interraciais. É sempre importante a gente frisar a multidimensionalidade do fenômeno”, contextualiza.

“Mostra toda essa diversidade, variabilidade no tempo, no espaço, em relação ao pertencimento racial no Brasil”, completa.

2010 a 2022

Ao analisar a tendência mais recente no perfil étnico-racial da população brasileira, entre os recenseamentos de 2010 e 2022, a população preta apresenta 42,3% de crescimento proporcional, seguida pela parda (11,9%). A indígena teve a maior evolução percentual, 89%, sendo que na região da Amazônia Legal, o crescimento foi de 100%.

Para efeito de comparação, a população brasileira como um todo cresceu 6,5%. Brancos (-3,1%) e amarelos (-59,2%) apresentaram quedas.

Regiões

Os dados do IBGE apresentam recortes por regiões, estados e municípios. No Sul e no Sudeste, a população branca é majoritária, chegando a 72,6% no Sul.

Já o Norte, o Nordeste e o Centro-Oeste têm maioria parda, com destaque para o Norte, com proporção de 67,2%.

Entre os estados, o Rio Grande do Sul apresenta a maior proporção de brancos, 78,4%. O Pará tem o maior índice de pardos, 69,9%.

A Bahia é o estado com maior percentual de pretos, 22,4%. Roraima tem a maior participação de indígenas (14,1%), e São Paulo é onde os amarelos são mais numerosos, 1,2% dos habitantes do estado.

Municípios 

A região Sul, São Paulo e a parte sul de Minas Gerais é onde existem mais municípios com população predominantemente branca. As cidades com maior participação de brancos entre seus habitantes são as gaúchas Morrinhos do Sul e Forquetinha, com 97,4% e 97,2% respectivamente.

As demais regiões do país são compostas por municípios com população de maioria parda, com exceções, principalmente, em áreas de fronteira na região Norte e no sudeste do Pará, onde se destacam os indígenas.

“Tem uma concentração no norte de Roraima, mas também no Vale do Rio Negro e o Alto Solimões”, exemplifica o pesquisador do IBGE Fernando Damasco.

Uiramutã, em Roraima; e Santa Isabel do Rio Negro, no Amazonas, são os municípios com maior participação de indígenas entre os habitantes, 96,6% e 96,2%.

Em todos os 5.570 municípios brasileiros, apenas nove têm população majoritariamente preta. São oito na Bahia (Antônio Cardoso, Cachoeira, Conceição da Feira, Ouriçangas, Pedrão, Santo Amaro, São Francisco do Conde e São Gonçalo dos Campos) e um no Maranhão – Serrano do Maranhão, com 58,5%.

Em valores absolutos, os municípios com mais pretos são, na ordem, São Paulo (1,16 milhão), Rio de Janeiro (968 mil) e Salvador (825 mil). Entre as dez cidades com mais população preta absoluta, a única que não é capital é a baiana Feira de Santana, com 180 mil pessoas.

Idade 

Os dados coletados pelos recenseadores revelam que entre 2010 e 2022, a presença de pardos cresceu em todos os grupos de idade pesquisados. Por outro lado, a população branca teve redução em todas as faixas etárias.

O IBGE apresenta ainda o índice de envelhecimento – número de pessoas com 60 anos ou mais em relação a um grupo de 100 pessoas de até 14 anos. Quanto maior o indicador, mais envelhecida é a população.

Enquanto no Brasil como um todo a relação é de 80 idosos para cada 100 jovens, a população amarela apresenta 256,5 para cada 100 jovens. Em seguida aparecem os pretos, com indicador de 108,3. Brancos (98), pardos (60,6) e indígenas (35,6) completam a sequência.

Sexo 

O Censo 2022 faz também uma relação entre cor e sexo. O Brasil tem 94,2 homens para cada 100 mulheres. Entre a população preta, essa relação se inverte, sendo 103,9 homens para cada 100 mulheres.

Pardos (96,4) e indígenas (97,1) também apresentam razão de sexo acima da média nacional. Entre brancos e amarelos o indicador é de 89,9 e 89,2, respectivamente.

Separação entre pretos e pardos é polêmica

A divisão em cinco categorias, adotada pelo IBGE, não é unânime na sociedade brasileira. Segundo o movimento negro, a separação entre pretos e pardos desconsidera o esforço histórico de agrupamento desses dois segmentos sob a denominação “negros” em função das suas semelhanças socioeconômicas na sociedade brasileira.

Os pesquisadores rebatem. “O IBGE trabalha com a categoria preta e parda desde 1871, com poucas mudanças desde então. Na nossa classificação, os pardos não são só os afrodescendentes, mas pessoas que descendem de outros grupos. Existem perfis demográficos diferentes nas cinco categorias. É uma classificação para ser fiel às estatísticas e às perguntas que levamos à campo”, afirma Marta Antunes.

Pretos, pardos e indígenas crescem em todas as idades

Algumas pistas para o avanço da população podem estar na segmentação dos dados por idade. Entre 2010 e 2022, as populações preta, indígena e parda ganharam participação em todos os recortes etários.

Por outro lado, as populações branca e amarela perderam porcentagens. “O que a gente observa é que a retração da população branca ocorre nas faixas mais jovens e o aumento da população parda acontece em todas as faixas etárias”, afirma Marta Antunes.

Ou seja, isso sinaliza que os jovens têm participado do censo com outra percepção sobre a própria identificação racial.

Até 2010, a cor ou raça parda era predominante até 29 anos. Em 2022, ela passa a ser predominante até 44, segmento que tinha predomínios dos brancos. De 45 em diante, há predominância dos brancos, com destaque para 60 a 70 anos em diante.

“É importante buscar mais resultados para observar isso com mais atenção e segurança para trazer outros subsídios para o estudo das relações étnico-raciais no País”, afirma Marta. “Esses dados precisam ser complementados por estudos qualitativos no campo da sociologia, antropologia, ciências sociais e que vão poder trazer mais informações sobre o fenômeno”.

Além da autodeclaração racial, fatores de desigualdade socioeconômica pesam na distribuição racial do povo brasileiro. Se por um lado estudos e levantamentos anteriores mostram taxas de natalidade maiores entre mulheres brancas, os jovens pretos e pardos são as vítimas mais frequentes da violência urbana e a população negra tem menor expectativa de vida.

(Créditos autorais: https://www.msn.com/pt-br/noticias/brasil – Estadão Conteúdo/ NOTÍCIAS/ BRASIL/ História por Gonçalo Junior e Cindy Damasceno – 22/12/2023)

(Créditos autorais: https://www.terra.com.br/nos – NÓS/ por Bruno de Freitas Moura/ Edição: Graça Adjuto – 22 dez 2023)

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