Stéphane Hessel, membro da resistência contra os nazistas, e defensor dos Direitos Humanos.

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Stéphane Hessel, autor de “Indignai-vos!”

Intelectual francês inspirou protestos em todo o mundo

Ex-diplomata, ele foi membro da resistência contra os nazistas

O intelectual francês Stéphane Hessel, o autor do best seller de 32 páginas “Indignai-vos!”, que inspirou movimentos de protestos em todo o mundo, morreu na noite dessa terça-feira aos 95 anos, informou sua mulher, Christiane Hessel-Chabry.

Ex-diplomata, membro da resistência contra os nazistas, europeísta e defensor dos Direitos Humanos, Hessel vendeu mais de quatro milhões de exemplares em quase cem países desde a publicação da obra, em outubro de 2010.

Nascido em Berlim, em 1917, Hessel tornou-se cidadão francês em 1937 depois de que seus pais se instalaram em Paris, em 1925. Estudou na Escola Normal Superior de Paris e se graduou em filosofia. Durante a Segunda Guerra Mundial, ele se uniu à resistência francesa, foi condenado à morte, capturado pela polícia alemã em 1944 e deportado para o campo de concentração de Buchenwald. Após a guerra, começou uma longa carreira na diplomacia e ajudou a redigir a “Declaração Universal dos Direitos Humanos”, da Organização das Nações Unidas (ONU). Como embaixador, Hessel intermediou vários conflitos nacionais e internacionais e tornou-se referência em humanidade, humildade e justiça social.

A socióloga Rosiska Darcy de Oliveira passou um dia com Hessel, no verão de 2009, na região da Provence, na França. Ela diz que o intelectual era um amante da vida e da boa mesa e foi “provavelmente a pessoa mais fascinante que encontrei na vida”. Rosiska o define como um homem “encantador, de uma inteligência brilhante, lucidez perfeita sobre os problemas da atualidade e uma indignação com o estado atual do mundo”. Na época, aos 91 anos, o intelectual contou estar escrevendo um “pequeno livro” voltado para os jovens. Era o “Indignai-vos”, que incendiaria a juventude um ano depois.

– Por um lado, tinha certa melancolia por sentir o mundo paralisado, sobretudo se comparado com o que tinha sido a sua juventude. Mas mantinha um intenso deslumbramento pelo fato de estar vivo. Hessel não considerava que sua carreira estava encerrada. Ele estava pronto para continuar e continuou. Discutimos uma tarde inteira sobre se a juventude tinha perdido a capacidade de se indignar. Saí de lá com o sentimento de um privilégio extraordinário por tê-lo encontrado – afirma a socióloga. – Ele tinha uma vitalidade que você não se sentia conversando com uma pessoa de mais de 90 anos, era voltado para o futuro. Era isso que o mantinha tão vivo, ele acreditava no futuro, sabia que ia contribuir para o futuro.

História dos pais inspirou “Jules et Jim”

Homem de esquerda e europeísta, sua obra “Indignai-vos” tornou-se uma espécie de guia para protestos que nasceram em 2011 na Europa e nos Estados Unidos pedindo, principalmente, uma saída para a crise econômica mundial. Outros motivos que levaram à indignação foram a crescente desigualdade entre ricos e pobres, a forma como a França tratava os imigrantes e os ataques ao meio ambiente. O próprio autor reconheceu em uma entrevista publicada pelo jornal espanhol “El País” em maio de 2011 que não esperava que seu livro tivesse um impacto tão grande no exterior.

“Quando começamos com a ideia do livro, tínhamos a França na cabeça. Em poucas semanas aconteceram vários eventos. A popularidade de Sarkozy estava afundando, o mesmo aconteceu com Berlusconi na Itália, na Espanha com Zapatero, e em Portugal com Sócrates. Antes das revoltas no Norte da África, a ideia de que os governos de todo o mundo tinham comportamentos que causavam a indignação das pessoas era algo que raramente tínhamos visto”, afirmou.

Seu nome era um trending topic hoje pela manhã no Twitter na Espanha e na França, onde seus admiradores reproduziam frases suas, como: “Criar é resistir, resistir é criar.”

Nascido no ano da Revolução Soviética, como ele gostava de dizer, Hessel veio de uma família judia convertida ao luteranismo. Seu pai, Franz Hessel, e sua mãe, Helen Grund, viveram um triângulo amoroso com o colega escritor Henri-Pierre Roché, que acabou dando origem a um dos filmes mais célebres do cinema francês, “Jules et Jim” (1962), de François Truffaut, com Jeanne Moreau e Oskar Werner. A história real, no entanto, não acabou com um homicídio-suicídio, como no cinema, mas em uma separação.

Hessel, que falava alemão, inglês e francês, tornou-se um ativista precoce. Com sua vitalidade intacta até o fim de seus dias, continuou viajando, dando entrevistas e palestras. Se aposentou em 1983, mas nunca abandonou seu combate às injustiças. Seu espírito aventureiro, inteligência e a paixão pela cultura deu-lhe uma aura mítica, mas, segundo ele, seu sucesso tardio entre os jovens foi explicado pelo momento histórico na Europa:

“As sociedades estão perdidas, se perguntando o que fazer para se encontrar e buscando um sentido para a aventura humana.”

(Fonte: http://oglobo.globo.com/mundo – MUNDO – RIO – Publicado: 27/02/13)

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