Morreu o número três da lista dos criminosos nazis mais procurados pelo Centro Simon-Wiesenthal. Samuel Kunz, de 89 anos, era acusado de ter participado na morte de mais de 420 mil judeus. Estava a meses de se sentar no banco dos réus.
Samuel Kunz morreu a 18-11-10, aparentemente em sua casa, indicou à AFP o procurador alemão Andreas Bendel, chefe de um gabinete de investigação dos crimes do nazismo. Dispomos da certidão de óbito. O tribunal vai tomar a decisão sobre a abertura de um processo, continuou.
Kunz deveria começar a ser julgado no início de 2011 pelo assassínio de presos judeus no campo de Belzec, na Polônia ocupada pelas forças nazis, entre Janeiro de 1942 e Julho de 1943. Estava ainda acusado da execução, a tiro, de uma dezena de pessoas em dois incidentes distintos, ainda no mesmo campo.
Kunz tinha 20 anos quando começou a trabalhar como guarda no campo de Belzec, em Janeiro de 1942. Documentos do tribunal demonstravam que estava envolvido em todas as partes do processo, desde tirar as vítimas dos comboios a fazê-las entrar nas câmaras de gás e atirar os seus corpos para valas comuns. O acusado estava em todas as áreas do campo, disse em Julho o porta-voz do tribunal, Matthias Nordmeyer, à AP.
O processo começou a ser instruído em Fevereiro, em Bona, em cujos subúrbios Kunz vivia. O arguido reconhecera abertamente ter trabalhado no campo de extermínio de Belzec. Era evidente para nós que os judeus eram exterminados e seguidamente cremados, declarou. Sentíamos o cheiro todos os dias. As declarações foram feitas no inquérito sobre John Demjanjuk, o guarda de mais alta patente a ser julgado. Desde há dois anos que Demjanjuk está a responder em tribunal, em Munique, pela sua participação na morte de 27 900 judeus no campo de Sobibor, também na Polónia.
Em ambos os casos a acusação procede da mesma forma: partindo do facto de que os acusados eram guardas dos campos (o que continua por provar no caso de Demjanjuk), conclui-se que não poderiam ignorar os crimes que eram cometidos, sendo portanto também responsáveis, adianta a AFP.
O sentimento dominante é o de uma terrível frustração, comentou à agência Efraim Zuroff, director do centro Simon-Wiesenthal, em Jerusalém. Depois de décadas em que este homem viveu livremente na Alemanha, parecia finalmente que iria haver um processo. Agora, claro, isso não irá acontecer. E adiantou: O único consolo é que ele foi acusado, que lhe foi apontado o dedo, e em certa medida fez-se justiça.
Desde o processo de Nuremberga, em que altos responsáveis nazis foram julgados, que as autoridades alemãs já examinaram 25 mil dossiers de presumíveis criminosos de guerra.
Durante muito tempo, o caso de Kunz foi ignorado pela justiça alemã, por ele ser um guarda de baixa patente apesar do elevadíssimo número de vítimas que passaram por ele. Mas na última década, uma geração mais jovens de procuradores começou a fazer esforços para que todos os suspeitos de crimes nazis tivessem de responder à justiça.
(Fonte: www.publico.pt – 22 de novembro de 2010)