Mário Reis, ídolo da música popular, quebrou os padrões operísticos dos cantores da época

0
Powered by Rock Convert

Foi um dos mais autênticos intérpretes da música popular brasileira de sua história

 

Carmen Miranda com o cantor Mário Reis em intervalo do filme "Estudantes" (Waldow-Cinédia, 1935)

Carmen Miranda com o cantor Mário Reis em intervalo do filme “Estudantes” (Foto: Waldow-Cinédia, 1935)

 

Como Noel Rosa e Vinicius, Mário Reis não teve preconceito contra a música popular do seu país.

Mário da Silveira Meireles Reis (Rio de Janeiro, 31 de dezembro de 1907 – Rio de Janeiro, 5 de outubro de 1981), torcedor fanático do América Futebol Clube, embora afirmasse ter certeza de que seu time jamais seria campeão. Nasceu no Rio de Janeiro, a 31 de dezembro de 1907.

Nascido em família abastada no último dia de 1907, no Rio Comprido, foi pra Tijuca logo menino. O pai tinha uma loja de ferragens e bastante dinheiro. Aos 15, Mário tentou a vida de jogador de futebol, no seu querido América.

Por essa época, aprendeu violão e o futebol perdeu para a música. Tempos depois, na época da Faculdade de Direito, conheceu Ary Barroso, à época completamente anônimo, e, também, J.B. Silva, o Sinhô, que se tornou seu professor de violão.

Nas aulas, Mário começou a cantar sambas compostos pelo mestre, que admirava o jeito sincopado e diferente do pupilo. Logo, o sambista sugeriu ao aluno que gravasse alguns de seus sambas.

O primeiro veio em 1928, um 78 rotações com duas canções de Sinhô – “Que Vale a Nota Sem Carinho de Mulher” e “Carinhos da Vovó”. Os violões do autor e de Donga acompanharam Mário Reis na melodia. No mesmo ano, estourou com “Jura”, também de Sinhô, e decolou de vez.

O jeito único, natural e simples de cantar era um contraponto aos intérpretes da escola lírica, como Dalva de Oliveira, Vicente Celestino e, claro, Francisco Alves, com quem Mário faria dobradinha de sucesso na década de 1930. Juntos, gravaram 12 discos. Carmen Miranda também foi parceira de turnês pelo Brasil e também pela Argentina.

Sempre impecável em seus ternos brancos, era galanteador e capaz de paixões arrebatadoras, mas cercava de mistério sua vida pessoal, nunca se casou e vivia sozinho há 22 anos num apartamento do Copacabana Palace.

Frequentador assíduo do fechado Country Clube, era o centro das atenções com sua conversa alegre e inteligente, mas se recusava a falar do passado glorioso ou a dar entrevistas, dizendo sempre que sua época de já passara. Dono de prodigiosa memória, porém, não se negava ao assédio, pelo telefone, dos jornalistas que buscavam conferir a formação de uma antiga seleção ou de uma roda de samba dos tempos do Estácio.

Carioca do Rio Comprido, Mário Reis – não foi apenas o ídolo da música popular que, nos anos 30, quebrou os padrões operísticos dos cantores da época. Foi, também, um dos tipos mais bem acabados de uma forma carioca de viver em grande estilo: gabava-se de não precisar trabalhar – grande acionista da fábrica de tecidos Bangu, era primo de seus donos, Joaquim e Guilherme da Silveira.

Aluno de violão do lendário compositor Sinhô, tornou-se seu intérprete favorito e entrou para a turma de Lamartine Babo, Ismael Silva e Noel Rosa, formando depois uma dupla famosa com Francisco Alves. Foi colega de Ary Barroso na Escola de Direito, e foi o primeiro intérprete a gravar uma música do então desconhecido pianista e compositor: o samba “Vou à Penha”, em 1929.

No ano seguinte começou a gravar uma série de discos em dupla com o vozeirão de Francisco Alves, fórmula que mostrou-se extremamente bem-sucedida, e imitada, entre outras, pela dupla Jonjoca e Castro Barbosa. Na década de 30 firmou-se como um dos maiores intérpretes de Noel Rosa, que também foi seu parceiro.

Ao contrário do possante “dó de peito” do “Rei da Voz”, Mário tinha voz pequena e ritmada, separando bem as palavras, e criou um estilo intimista que, anos depois, viria a ser retomado por João Gilberto e a bossa nova. Dele se disse que “ensinou o brasileiro a cantar”, mas Mário nunca se preocupou em assumir paternidade de coisa alguma. No auge do sucesso, em 1936, não hesitou em trocar a carreira por um emprego na Prefeitura.

Só voltaria aos palcos – e assim mesmo por uma nostálgica e curta temporada de três dias no Golden Room do próprio Copa – em 1973. Gravou seu último LP um ano antes. De lá para cá, resguardava a privacidade e preservava o bronzeado nas manhãs ensolaradas do Country, onde não permitia que chatos sentassem a sua mesa, chegando a escalar uma lista dos mais impertinentes, e comentava irônico, como em “Joujoux et Balangandans” – um de seus maiores sucessos -, que “a arteriosclerose anda solta por aí”.

Então, a partir de 1936, Mário Reis iniciou a saída de cena. Aos poucos, foi se afastando. Avesso a badalações, exposição e entrevistas (“Sou um velho, estou fora de moda”, costumava responder, nos últimos anos, aos pedidos dos jornalistas por uma conversa), preferiu simplesmente parar.

“Não fiquem pensando que há um mistério na minha retirada. Aconteceu que eu sempre quis levar uma vida simples e, se continuasse cantando, eu a perderia. Não gosto de ser entrevistado, de ser fotografado nem de exibicionismo. Além disso, parei porque não tinha mais nada a fazer em termos de música”, revelou, em raríssima entrevista de 1971.

Mário Reis morreu no dia 5 de outubro de 1981, no Rio de Janeiro, de insuficiência renal aguda – cultivada graças a uma aversão a consultórios médicos.

(Fonte: Veja, 14 de outubro, 1981 – Edição 684 – Datas – Pág; 139)

(Fonte: EFEMÉRIDES DO ÉFEMELLO – 5 de outubro de 2016)

Powered by Rock Convert
Share.