Margaret Thatcher, líder política detestada com intensidade similar tanto por inimigos ou aliados.

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A QUEDA DA GUERREIRA

Acaba o reinado de onze anos que mudou a Inglaterra e mexeu com as ideias do mundo.

Chegam ao fim os onze anos da era da Dama de Ferro

Com briga, humor e lágrimas, Margaret Thatcher renuncia. Economia estremecida, popularidade em queda e teimosia obstinada diante da unificação europeia derrubam a líder da revolução conservadora que tirou a Inglaterra da falência e mexeu com o mundo.

A guerreira indomável sai de cena. Na contramão da Europa, Thatcher renuncia e encerra uma era de revolução conservadora.

Margaret Thatcher caiu da mesma forma como viveu os extraordinários onze anos em que mudou a Inglaterra e ofereceu a face mais ostensiva de uma revolução que se espalhou pelo mundo: como guerreira, como líder política detestada com intensidade similar tanto por inimigos quanto por aliados e, até, como mulher.

Desistiu de lutar pela liderança do Partido Conservador, o que implica a renúncia à chefia do governo e foi ao Palácio de Buckingham comunicar o desfecho de seu drama à rainha Elizabeth II.

COMBATE FURIOSO – Por mais aplausos e simpatia que a grande guerreira tenha recebido em seus atos derradeiros, perdura a realidade crua: foi-se o poder que ela exercia com paixão declarada, ideias obstinadas e pulso de ferro. Acabou-se uma era na qual, guiada pela convicção absoluta de que a ingerência do Estado na economia e na sociedade é o mal e o mérito individual é o bem, Margaret Thatcher arrancou a Grã-Bretanha a fórceps da decadência econômica, empunhou a bandeira liberal, cujo apelo se espalhou pelo mundo inteiro, e liderou uma contra-revolução paradoxalmente revolucionária. A bordo de uma ilha europeia que marcava passo havia décadas, Thatcher mudou a discussão política no planeta com as mudanças que implementou em seu governo. Junto com Ronald Reagan, ela deu o tom conservador dos anos 80. E, mais que o ex-presidente americano, radicalizou na postura neoliberal: enfrentou e quebrou os sindicatos, foi à guerra contra a Argentina para garantir a posse das ridículas Ilhas Malvinas, privatizou empresas e abalou os alicerces do Estado britânico provedor e perdulário.

A terra começou a tremer sob os pés da dama dura na queda no dia 1° de novembro de 1990, quando sir Geoffrey Howe, vice-primeiro-ministro e último dos veteranos do primeiro governo de Thatcher que ainda não haviam sido chutados ou caídos fora por conta própria, resolveu que estava na hora de saltar do barco. A economia em retração, a reforma mais detestada da História da Inglaterra, a derrocada dos índices de popularidade que apontavam para uma futura vitória do Partido Trabalhista, tudo conspirava contra Thatcher. Mas foi uma questão que não ocupa o primeiro plano das preocupações da opinião pública o elemento desencadeador da deserção de Howe: a unificação europeia, alvo de furioso e infrutífero combate da primeira-ministra.

Numa análise mais cruel, a revista The Economist, longamente habituada a dar um tom sofisticado e ferino à matéria bruta que saía da metralhadora do ídolo dos conservadores, resolveu por a faca na ferida. “A senhora Thatcher, personalidade de estatura mundial, não impõe mais respeito no lugar que mais importa para a Grã-Bretanha: a Comunidade Europeia. Para a Comunidade Europeia, essa perda de influência é uma pena, para a Grã-Bretanha, é uma tragédia”, disse em editorial. Thatcher, que esteve à frente da onda política dos anos 80, naufragou quando tentou ir contra uma vaga dominante – a unificação da Europa. O Velho Continente derrotou a Dama de Ferro.

DAMA DO CONTRA – A ascensão de Margaret Thatcher ao poder – onde ficou onze anos e meio, o mais longo governo do século XX na Inglaterra – coincindiu com o renascimento da ideia de uma Europa unificada economicamente. Fiel guardiã da independência de sua ilha, Thatcher embarcou na onda da unificação, mas apenas até certo ponto e sempre de maneira relutante. A defesa das prerrogativas nacionais até que fez sucesso perante boa parte da opinião pública britânica, mas as elites políticas e econômicas foram ficando cada vez mais apavoradas com a rachetice da primeira-ministra, que ameaçava deixar a Grã-Bretanha fora da grande competição europeia. Sua concepção de Europa, que se resume ao velho conceito de Estado-nação e não permite nenhum arranhão na soberania, colocou-a na contramão dos principais líderes europeus.

Nas reuniões dos doze países membros da Comunidade Econômica Europeia, o placar passou a ser antecipado com certeza absoluta: 11 a 1, a Dama de Ferro contra todos. O racha se tornou incontornável no final de outubro de 1990, em Roma – e desencadeou o processo definitivo de fritura da primeira-ministra. Onze dos doze países, como sempre, anunciaram o calendário para a segunda fase da união monetária e definiram a criação de um Banco Central Europeu, em janeiro de 1994.

Para cumprir seu objetivo, a Dama de Ferro combateu os adversários trabalhistas e converteu os inimigos conservadores. As reformas que implantaram o sistema de bem-estar social na Inglaterra foram introduzidas pelo governo de Clement Attlee, primeiro-ministro entre 1945 e 1951, com plena participação do Partido Conservador. Seguiram, até os limites do possível, a linha geral do pós-guerra: nacionalização das indústrias de base e extensão dos benefícios sociais a todos os setores da sociedade, tornando o Estado responsável direto pelas necessidades básicas de todos os cidadãos. Os dirigentes britânicos procedendo à redistribuição de riqueza antes da reconstrução econômica, ao contrário do que havia acontecido em outros países europeus e no Japão. O resultado foi que a Inglaterra, o país onde o capitalismo foi inventado, chegou à década de 70 às portas da falência.

SORTE E CABEÇA DURA – Além de tudo, como exigia Napoleão de seus generais, a dama costumava ter sorte. Em 1984, escapou do violento atentado a bomba cometido por terroristas irlandeses no hotel onde se realizava um congresso do Partido Conservador. Não fosse pelo desastrado general Leopoldo Galtieri e pela invasão das Malvinas, o thatcherismo possivelmente teria sido destronado muito antes. Química, em Oxford, sorte, mérito e obstinação – uma palavra que pode ser usada como sinônimo de princípios, como quando resistiu durante onze meses à greve dos mineiros até baixar o topete do movimento sindical, ou de cabeça dura, como no caso do poll tax, a taxa única cobrada por cabeça que substituiu o imposto territorial, devorou-lhe o prestígio popular e ressuscitou a imagem de Thatcher como a bruxa maligna que tira dos pobres para dar aos ricos.

Com a Dama de Ferro fora do primeiro plano da cena política, a imagem que tende a ficar é a luminosa. “Houve uma época em que ela teve um valor inestimável para a Grã-Bretanha”, decretou a Economist. Enquanto cinco gerações de líderes políticos assistiram ao declínio econômico da Grã-Bretanha, ela se dispôs a dizer não, chega. Foram conquistas colossais que lhe dão uma estatura que não será corroída pelo tempo. Confrontada com estes feitos e indagada se, com eles, passaria à História, Thatcher respondeu um dia depois de sua renúncia de maneira inconfundivelmente thatcheriana: “Vou ser lembrada por muito mais do que isso. Mas ainda não é tempo de falar em memórias.”

Vida, poder e política, segundo Margaret
“Sou romântica, mas prática. Reformei meu vestido de casamento e o usei durante muito tempo.” Setembro, 1979.

“Não me vejo como uma mulher, mas como a primeira-ministra.” Março, 1980.

“Denis gosta de cores fortes. Mas as pessoas se lembram de vestidos assim e podem achar que tenho somente um.” Novembro, 1986.

“Os encrenqueiros não respeitam os fracos. O único jeito de enfrenta-los é mostrar que você não é fraco e está sempre pronto para responder à altura todas as suas provocações.” Pouco antes da Guerra das Malvinas, 1982.

“Eu me preocupo com a minha imagem. Não estou satisfeita com o jeito como apareço na televisão. Quero fazer algumas mudanças, a primeira será no meu cabelo.” Maio, 1976.

“O que movimenta a sociedade? É o desejo que todos temos de fazer o melhor para nós e nossa família. Como se melhora a sociedade? É quando milhões de pessoas resolvem que querem dar a seus filhos uma vida melhor do que a que tiveram.” Abril, 1979.

“Os comunistas nunca dormem, nunca mudam seus objetivos.” Maio, 1979.

“Lembrem-se disso: quem quer ser líder não cruza os braços e murmura doces palavras.” Maio, 1980.

“As pessoas gostam de me pintar como uma grande ditadora, o que é ridículo. Sempre há lugar para algumas consultas.” Junho, 1983.

“Eu gosto do senhor Gorbachev, acredito em sua palavra. Acho que nós podemos fazer negócios juntos.” Dezembro, 1984.

(Fonte: Veja, 28 de novembro de 1990 – ANO 23 – N° 47 – EDIÇÃO n° 1 158 – INTERNACIONAL – Pág; 46/48)

Em 4 de maio de 1979 – Margaret Thatcher (1925-2013) tornou-se a primeira mulher a ocupar o cargo de primeiro-ministro da Inglaterra.
(Fonte: http://www.guiadoscuriosos.com.br/fatos_dia – 4 de maio)

Em 4 de maio de 1979 – Margaret Thatcher (1925-2013) assume como primeiro-ministro do Reino Unido. Seu mandato se prolonga até 1990.
(Fonte: Correio do Povo – ANO 118 – N° 216 – GERAL – 4 de maio de 2013 – CRONOLOGIA/ Por Dirceu Chirivino – Pág; 16)

Margaret Thatcher vence leições

Candidata do Partido Conservador, Margaret Thatcher foi nomeada em 4 de maio de 1979 primeira-ministra da Grã-Bretanha pela rainha Elisabeth II.
Antes de desocupar a casa que será de Thatcher, o antigo premier – derrotado nas eleições -, James Callaghan, representante do Partido Trabalhista, afirmou que “o fato de uma mulher ocupar este cargo é muito importante na história do país.”
(Fonte: Zero Hora – ANO 46 – N° 15.952 – HÁ 30 ANOS EM ZH – 5 de maio de 1979/2009 – Pág; 63)

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