Leopold Stokowski, maestro inglês, foi um dos melhores do século XX

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Leopold Stokowsky (Londres, 18 de abril de 1882 – Nether Wallop, Reino Unido, 13 de setembro de 1977), maestro inglês, foi um dos melhores do século XX, era especialista em introdução à música clássica. Antigo organista filho de pai polonês e mãe irlandesa, Leopold Antoni Bolelawowicz Stanislaw Stokowsky saiu da Inglaterra em 1905 para dirigir grandes orquestras nos Estados Unidos (sinfônicas de Cincinatti, 1909, e de Filadélfia, 1912 a 1939); tornando-se famoso pelo toque sensual do seu estilo (os músicos afirmam que ele cria “um clima eótico quando dirige o “Prelúdio à Tarde de um Fauno”, de Debussy);

Por seus arranjos de obras não orquestrais como as de Bach; e pela criação da orquestra de jovens All America Youth Orchestra; à frente da qual esteve no Brasil em 1940, aproveitando para gravar a bordo do navio “Uruguai”, ao largo do Rio de Janeiro, uma série de músicas brasileiras com Pixinguinha, João da Baiana, Donga, Jararaca e Ratinho e Cartola; depois editadas por ele nos Estados Unidos em dois álbuns da Columbia, hoje raríssimos.

Leopold Stokowsky faleceu em 13 de setembro de 1977, aos 84 anos, após ataque cardíaco, no hospital Westminster.
(Fonte: Veja, 30 de junho de 1971 – Edição 147 – DATAS – Pág; 74)

(Fonte: Veja, 16 de agosto de 2000 – ANO 33 – Nº 33 – Edição 1662 – Veja Recomenda – Pág: 148)

 

 

 

 

Leopold Stokowsky: uma carreira hollywoodiana
Leopold Stokowsky (1882-1977)
Todos iam deixando a cena, menos, gloriosamente, Leopold Antoni Bolelawowicz Stanislaw Stokowsky. Membro de uma floração de regentes mitológicos que cintilaram na primeira metade do século XX *, ele bateu os recordes de longevidade comuns nos grandes mestres e chegou, em abril de 1977, aos 95 anos – em franca produção. Talvez houvesse mesmo a impressão de que o tempo nunca atingiria Stokowsky: a CBS tinha com ele um contrato para a realização de quatro discos anuais até 1982, quando completaria 100 anos.

Uma ligeira virose viria, contudo, interromper uma das gravações. E na terça-feira, dia 13, um ataque cardíaco encerrou a brilhante carreira – e não menos agitada vida – do regente. Ao fim de ruidosas ligações e casamentos, ele morava sozinho em sua casa de campo em Hampshire, perto de Londres. E, ao contrário de todo mundo, admitia certamente o desenlace. Quando lhe perguntaram, em 1976, quais seus planos para os futuros discos, respondeu com ironia: “Mas será que se fazem discos no céu?”

Estrela – Na terra, os últimos foram a “Sinfonia Italiana” de Mendelssohn, e a Sinfonia de Bizet, gravada em junho de 1977. Mas poderiam ter sido, igualmente, uma obra seriíssima de Bach, uma coletânea de peças leves para consumo do grande público, ou uma composição de algum dos mestres do século XX, que ele ajudou a impor. Diferentemente de regentes ortodoxos e sóbrios, como Walter ou Scherchen, Stokowsky sempre se caracterizou por uma extraordinária latitude de gostos, e por um comportamento de estrela. Nasceu em Londres, estudou na França e na Alemanha. Mas foi nos Estados Unidos (para onde se mudou em 1905) que chegou ao apogeu de sua carreira. Desenvolveu-a então em moldes à altura de Hollywood.

Aliás, esteve diretamente vinculado ao cinema – em Vários momentos. Artisticamente, o mais polêmico foi quando aceitou adaptar e reger obras de grandes mestres para o desenho “Fantasia”, de Walt Disney. Socialmente, o mais grandiloquente foi a fuga para a Itália, em 1938, com ninguém menos que Greta Garbo. Uma rápida aventura, cercada por vigilantes carabinieri e jornalistas, que nunca poderia chegar ao casamento. Em compensação, já sexagenário, Stokowsky casou-se com a multimilionária Gloria Vanderbilt, de 21 anos. Às inevitáveis questões de um jornalista, respondeu: “A juventude, meu amigo, está menos na idade que no espírito. Você, por exemplo, é um jovem sem espírito, enquanto eu possuo um espírito jovem”. E quando outro jornalista o abordou, em abril de 1972, usando de um oco preâmbulo – “Fazer 90 anos é um grande acontecimento” -, retrucou gelidamente: “Você já teve a oportunidade de apreciá-lo?”

Extravagância – Tais episódios poderiam facilmente eclipsar os verdadeiros méritos do maestro – o que seria uma injustiça. Brilhante, vedete, amigo do sucesso, capaz de concessões de gosto, Stokowsky foi, ao mesmo tempo, um artesão eficientíssimo e um músico de inquestionável talento. Coube-lhe , por exemplo, transformar a quase desconhecida Orquestra de Filadélfia (cuja regência assumiu e, 1912) no talvez mais importante conjunto das Américas até a década de 40. Depois, deixou-a em mãos de Eugene Ormandy, para iniciar alguns projetos pioneiros: a criação de uma orquestra só de jovens, uma viagem pela América Latina (quando gravou com Cartola e Pixinguinha). Co-dirigiu a Orquestra NBC junto com Toscanini, e a Filarmônica de Nova York, com Mitropoulos. Aos 79 anos, fundou outra orquestra para jovens – e nos últimos tempos atuava como convidado de diversos conjuntos europeus.

No entanto, o mais significativo (e de certa forma paradoxal) é que Stokowsky na mesma medida em que tocou e gravou obras de qualquer nível, foi um imbatível defensor da música moderna. Estreou nos Estados Unidos obras de Igor Stravinsky, Sergei Prokofieff, Edgar Varese e outros vanguardistas, à época. Fez premières mundiais de compositores americanos, como Charles Ives, Aaron Copland, Walter Piston. Uma de suas raríssimas incursões pela ópera foi para lançar no país a importantíssima “Wozzeck”, do dodecafonista austríaco Alban Berg. Em sua época de titular da Orquestra de Filadélfia, foi interpelado pela direção da entidade sobre a extravagância de seus programas. Bateu o pé: “Tocarei música moderna enquanto achar conveniente. Repetirei a obra sempre que houver alguém disposto a escutá-la”.

Ao que tudo indica, a idade não chegou a prejudicar nem a lucidez nem as exigências musicais de Leopold Stokowsky. Até abril de 1977, quando ensaiava com a Filarmônica de Londres e gravação da “Sinfonia n.º 2” de Brahms, mantinha seu preciosismo habitual. “É a melhor segunda de Brahms que já escutei”, assegurava enfático um dos técnicos do estúdio. Mas Stokowsky reclamava: “Os baixos estão muito fortes e os violoncelos não soam em uníssono”. Quis retornar imediatamente ao estúdio. E quando alguém observou que a orquestra estava num intervalo de descanso, ironizou: É. Os cavalheiros ainda não tomaram o seu chá”.

Brahms voltou ainda à sua memória quando procurou justificar sua nunca interrompida atividade: “Ele já está no túmulo há tanto tempo, mas sua música permanece viva. E é por causa dela que eu estou aqui”.

*Arturo Toscanini (1867-1957), italiano; Sergei Kussevitzky (1874-1951), russo; Bruno Walter (1876-1962), alemão; Ernest Ansermet (1883-1969), suíço; Otto Klemperer (1885-1973), alemão; Erich Kleiber (1890-1956), austríaco; Hermann Scherchen (1891-1960), alemão; Dmitri Mitropoulos (1896-1960), grego.

(Fonte: Veja, 21 de setembro de 1977 – Edição 472 – MÚSICA – Pág; 97)

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