Karl Marx, considerado, com Max Weber e Émile Durkheim, um dos pilares das ciências sociais modernas

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Inúmeros pensadores lançaram ideias que foram decisivas para a história do século 20, mas poucos com tanta influência e controvérsia quanto o alemão Karl Marx (1818-1883). Foi ele, em livros como o “Manifesto Comunista” (1848, em parceria com Friedrich Engels) e “O Capital” (1867-1894), quem definiu a ideia de uma alternativa ao capitalismo, na qual a sociedade não seria dividida entre dominantes e dominados.

As tentativas de implantação dessa filosofia geraram resultados discutíveis ao longo das décadas, mas nada disso teria acontecido sem o impulso teórico de Marx – considerado, com Max Weber e Émile Durkheim, um dos pilares das ciências sociais modernas. Filósofo, economista, historiador e teórico político, Marx estudou na Alemanha e viveu em Paris e Bruxelas antes de morar em Londres, onde morreu.

“As ideias dominantes de uma época sempre foram as ideias da classe dominante”, frase reproduzida está no livro “Manifesto Comunista”.

(Fonte: Zero Hora – ANO 49 – N° 17.295 – 14 de fevereiro de 2013 – Almanaque Gaúcho/ Frase do dia: Marx / Ricardo Chaves – Pág; 38)

 

 

 

 

 

 

4 ideias de Karl Marx que seguem vivas apesar do fracasso da URSS e do comunismo

 

Autor de ‘O Manifesto Comunista’ e ‘O Capital’ inspirou Revolução Russa, e movimentos sociais em vários cantos no século 20

 

Karl Marx, o ideólogo da Revolução Russa

 

 

Karl Marx

Estátua de Marx em Moscou simboliza importância de pensador alemão para história do país (Foto: BBCBrasil.com)

 

 

Ainda que o filósofo alemão tenha vivido e trabalhado no século 19, uma época bem diferente da nossa, é indiscutível que dois de seus textos, “O Manifesto Comunista” (1848), redigido junto com o também filósofo alemão Friedrich Engels, e “O Capital” (1867), tiveram em um momento determinado da história uma grande influência política e econômica em muitos países e sobre milhões de pessoas.

 

O surgimento da União Soviética (URSS) após a Revolução Russa foi um exemplo disso. Ninguém nega que o bloco socialista marcou boa parte do século 20, no entanto, também é um fato que ele desmoronou e que o comunismo não se materializou tal qual propuseram Marx e Engels, com o capitalismo vigorando em quase todo o planeta atualmente.

 

Mas podemos dizer que todas as ideias de Marx estão obsoletas? Ou é possível elencar algumas que se tornaram realidade e seguem vigentes até hoje? A seguir, selecionamos quatro exemplos.

1. O ativismo político

 

Marx descreve a luta de classes na sociedade capitalista e como o proletariado acabaria tomando o poder das elites dominantes em todo o mundo. O Capital , sua principal obra, é uma tentativa de indicar essas ideias por meio de fatos que podem ser verificados e de análises científicas.

 

Foi uma mensagem poderosa em um mundo pleno de opressão e desigualdade. “A experiência pessoal de Marx, que viveu na pobreza, conferiu uma grande intensidade à sua análise, que recorreu à Filosofia contra o monstro capitalista que escravizava os seres humanos”, explica à BBC um dos seus mais renomados biógrafos, o britânico Francis Wheen.

 

 

 

Karl Marx

Marx questionou a ideia de que o capitalismo se autorregulava (Foto: BBCBrasil.com)

 

 

Durante o século 20, as ideias de Marx inspirariam revoluções na Rússia, China e Cuba e em muitos outros países onde um grupo dominante foi derrubado e os trabalhadores se apoderaram da propriedade privada e dos meios de produção.

 

O marxismo foi além e tornou-se uma maneira de interpretar o mundo: a simples ideia de que a história é marcada pela luta entre classes antagônicas também influenciou a literatura, a arte e a educação.

“Hoje em dia, Marx segue relevante como filósofo político. Geração após geração, muitos buscam inspiração nele para suas próprias lutas”, diz Albrecht Ritschl, historiador alemão especializado em marxismo e chefe do Departamento de História Econômica da London School of Economics, no Reino Unido.

“Continua-se a falar sobre os temas tratados por Marx. Por exemplo, a globalização. Marx foi um dos primeiros críticos da internacionalização dos mercados. Também se referiu à desigualdade ao alertar que ela estava aumentando no mundo. Poderia se dizer que Marx continua sento atraente e faz parte do discurso político atual.”

Ainda que a queda da URSS, em dezembro de 1991, tenha sido um forte golpe contra a teoria marxista (por algum tempo, partidos de esquerda e universidades deram a ela menos importância), a crise financeira global de 2007/2008 voltou a torná-la relevante.

Esse colapso foi um exemplo clássico das recorrentes crises do capitalismo que haviam sido previstas pelo pensador alemão. Desde então, as vendas de O Manifesto Comunista O Capital crescem em todo o mundo.

2. A recorrência de crises econômicas

 

 

Marx questionou a ideia de que o capitalismo se autorregulava. Para ele, não havia uma “mão invisível” que trazia ordem às forças do mercado, como havia postulado o economista e filósofo escocês Adam Smith, considerado o “pai” do capitalismo, em A Riqueza das Nações (1776).

Marx argumentava que o sistema capitalista estava condenado a períodos de crises recorrentes inerentes a eles – hoje, os economistas falam em recessões. “Ainda que ele não tenha sido o único a falar disso, sua ideia original era que cada turbulência levaria a outra pior e assim sucessivamente até a destruição do capitalismo”, explica Ritschl.

No século 20, as ideias de Marx inspiraram revoluções na Rússia, China e Cuba e em outros países (Foto: BBCBrasil.com / Getty Images)

 

 

A grande depressão econômica de 1929 e as outras subsequentes alcançaram seu auge em 2007/2008, quando o mundo viveu um colapso financeiro inédito em termos de gravidade, impacto e persistência. “É certo que os aspectos mal resolvidos do capitalismo levam a novas crises, mas a ideia determinista de Marx, de que o sistema desmoronaria por causa de defeitos intrínsecos, foi desacreditada”, diz Ritschl.

 

“Mas hoje estamos mais alertas do que nunca diante das turbulências e somos mais cuidados com elas, em parte graças a ele.” Ainda que, ao contrário do que previu Marx, as crises não tenham ocorrido nas indústrias pesadas, mas no setor financeiro, esclarece o especialista.

3. Ganhos desmedidos e monopólios

 

 

Um aspecto importante da teoria de Marx é a chamada mais-valia: o valor criado pelo trabalhador com sua força laboral. O problema, segundo o pensador alemão, é que os donos dos meios de produção se apropriam da mais-valia e tentam maximizar seus ganhos às custas do proletariado.

Assim, o capital tende a concentrar-se e centralizar-se em poucas mãos e, em contrapartida, isso leva ao desemprego e a uma depreciação dos salários dos trabalhadores. É possível ver isso hoje em dia.

Marx argumentava que o sistema capitalista estava condenado a crises recorrentes até de autodestruir (Foto: BBCBrasil.com / Getty Images)

 

 

Por exemplo, uma recente análise da revista britânica The Economist mostra que, enquanto nas últimas décadas o salário dos trabalhadores em países como Estados Unidos se estabilizou, o salário máximo de executivos aumentou significativamente: em vez de ganhar o equivalente a 40 vezes o salário médio dos trabalhadores, passaram a ganhar 110 vezes ou mais.

 

 

“A crítica de Marx à acumulação é válida ainda hoje, porque continua a ser um dos pontos fracos do capitalismo”, diz Ritschl. “Atualmente, vemos claramente a acumulação desmedida de poder por parte das grandes empresas internacionais e também a formação de monopólios e duopólios. Marx nos alertou sobre esses riscos.”

4. A globalização e a desigualdade

 

 

Biógrafos de Marx, como Francis Wheen e outros estudiosos de sua obra, dizem que ele se equivocou com sua ideia determinista de que o capitalismo sepultaria a si mesmo ao criar seus próprios coveiros. Mas ocorreu o contrário: com a queda da URSS, o capitalismo não apenas saiu fortalecido como se expandiu pelo mundo.

 

Ninguém expressa melhor essa ironia do que o pensador marxista Jacques Rancière, professor de Filosofia da Universidade de Paris VIII: “O proletariado, longe de sepultar o capitalismo, o mantém vivo. Trabalhadores explorados e mal pagos, libertados pela maior revolução socialista da história (China), são levados à beira do suicídio para que o Ocidente possa seguir jogando com seus iPads, enquanto isso, o dinheiro chinês financia os Estados Unidos, que, de outra forma, estaria falido.”

Mas, se Marx falhou em sua previsão, não errou nas fortes críticas à internacionalização do capitalismo. Em O Manifesto Comunista, ele argumenta que a expansão global do capitalismo se tornaria a principal fonte de instabilidade do sistema internacional, como demonstrariam uma série de crises financeiras nos séculos 19 e 20.

Karl Marx viveu na pobreza pela maior parte de sua vida (Foto: BBCBrasil.com / Getty Images)

 

“A necessidade de constantemente expandir mercados para seus produtos persegue a burguesia”, sustentam Marx e Engels. “Deve se estabelecer e criar conexões por toda parte. Isso obriga a todas as nações, sob pena de extinção, a adotar o modo burguês de produção.”

Por isso, o marxismo tem sido resgatado no debate atual sobre os problemas da globalização. “Hoje, há no mundo muita gente preocupada com a destruição dos mercados locais, na insegurança laboral e da perda de empregos”, comenta Ritschl.

 

“A globalização foi, por exemplo, um dos grandes temas da última eleição americana, na qual dominou uma pergunta que poderia ter sido feita em muitas partes do planeta: o que fazemos com aqueles que prejudicados por ela?”

Está claro que, apesar das previsões equivocadas e ideias obsoletas, Marx colocou em pauta no século 19 vários temas de debate sobre política e economia que seguem vigentes mais de um século depois.

(Fonte: https://www.terra.com.br/noticias/ciencia – NOTÍCIAS – CIÊNCIA – 7 NOV 2017)

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