José Antonio Lutzenberger, ativista e ambientalista ecológico, agrônomo pós-graduado em química

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Controverso à época, o legado de Lutz antecipou alguns dos conceitos sobre sustentabilidade.

“O livre mercado não resolve tudo, até porque é manipulado. O mercado só vê demanda, não vê necessidades. Os mercados são cegos para as gerações futuras.”
José Antonio Lutzenberger (1926-2002), ativista ecológico

 

Ambientalista José Lutzenberger, ministro do governo Collor, costumava criticar a ação do governo brasileiro em relação à devastação da Amazônia

 

Lições de ecologia de um ilustre gaúcho

 

José Antonio Lutzenberger (Porto Alegre, 17 de dezembro de 1926 – Porto Alegre, 14 de maio de 2002), ativista e ambientalista ecológico, agrônomo pós-graduado em química.

 

O engenheiro agrônomo e ambientalista, foi secretário nacional do Meio Ambiente no governo de Fernando Collor, criou em 1987 a sede rural da ONG Fundação Gaia, para atividades de recuperação de áreas degradadas, paisagismo natural e cursos sobre educação ambiental.

 

O ecologista gaúcho costumava criticar a ação do governo brasileiro em relação à devastação da Amazônia e defendia uma mobilização internacional para a solução do problema.

 

Durante sua gestão à frente da Secretaria Nacional (com status de ministério) do Meio Ambiente, de março de 90 a março de 92, Lutzenberger entrou em atrito com o Comando Militar da Amazônia e com o então governador do Amazonas, Gilberto Mestrinho, por pregar uma política mais conservacionista na região.

 

 

Em meio à diversidade da fauna e da flora nativa, aliada ao exotismo de espécies africanas, o Rincão Gaia dissemina práticas de baixo impacto ambiental. O local situado a 120 quilômetros de Porto Alegre promove atividades de educação ambiental e de agricultura ecológica. Fundado por Luzenberger em 1987 representa um legado físico e uma marca simbólica das ideias do ambientalista gaúcho.

 

Há 10 anos a voz do maior ambientalista brasileiro silenciava. Caminho contrário ao dos seus pensamentos.

 

Intenso, curioso, muitas vezes agressivo e tachado de fanático, José Antonio Lutzenberger antecipou a partir dos anos 70 conceitos disseminados pela sustentabilidade. O legado do gaúcho que girou mundo em defesa da natureza se perpetua na atualidade do seu discurso.

 

– Por que eu sempre nado contra a corrente? Porque só assim se chega às nascentes.

 

A frase de Lutz escancara seu modo de ser, sensível com a vida e avesso ao senso comum. Progresso contínuo, a qualquer custo? Ele criticou. Lavouras com agrotóxicos? Abominou. Desmatamento na Amazônia? Combateu. Excesso de carros nas ruas? Contrariou. Usinas nucleares? Sempre se opôs.

 

– É difícil encontrar um tema em que suas ideias não continuem atuais. Ele foi um visionário, tinha uma visão de que a Terra é um sistema integrado, de que o homem deveria aprender com a natureza, e não combatê-la – destaca Lilian Dreyer, autora de Sinfonia Inacabada, biografia do ambientalista.

 

Porto-alegrense de origem germânica, Lutz nasceu em 17 de dezembro de 1926. Vítima de problemas pulmonares e cardíacos, morreu na manhã de 14 de maio de 2002. Dos seus 75 anos, dedicou mais de 30 ao ativismo ecológico, numa guinada que poucos teriam coragem de empreender.

 

A figura longilínea com cabelos lisos e desgrenhados, de olhos claros protegidos pelos óculos, tornou-se ícone do ambientalismo no Brasil e no mundo.

 

Mas até 1970, remetia a um executivo da indústria química. Pela Basf, viveu na Alemanha, Venezuela e Marrocos. Quando a empresa passou a produzir agrotóxicos, renunciou à segurança do cargo e aos altos salários. Aos 44 anos, casado com a eurasiana Annemarie, e com as filhas Lilly e Lara pequenas, Lutz voltou a Porto Alegre como ecólogo. Em seguida, aflorou sua veia de ecologista.

 

Agrônomo pós-graduado em química, via a queda de uma árvore ou o esmigalhar de uma formiga como agressão a seu próprio corpo. Militou por respeito a Gaia, nome dado pelos gregos à deusa da Terra.

 

Assim, em abril de 1971 inspirou a criação da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), entidade que puxou lutas contra podas de árvores, agrotóxicos, desmatamento. Em 1973, forçou o fechamento da Borregaard, indústria de celulose que poluía o Guaíba. Todos feitos embalados pelo magnetismo da fala e da presença de Lutz.

 

Fluente em cinco idiomas (português, inglês, alemão, francês e espanhol), leitor voraz, virou um exímio palestrante – sem medo de embates com executivos, governadores, presidentes ou ministros. A linha de raciocínio, a intensidade, os argumentos conquistaram plateias de qualquer gênero ou renda. De colonos do interior de Montenegro a engravatados em reuniões de cúpula da ONU.

 

Lutz se expressava de forma espontânea, sem preocupar-se com o julgamento alheio ou fixar-se a convenções sociais. Nisso se tornava muitas vezes caricato e assumia uma figura quixotesca na defesa de suas ideias.

 

A entrega à natureza rendeu a Lutz, em 1988, o prêmio sueco The Right Livelihood Award, o Nobel Alternativo. De 1990 a 1992, foi secretário do Meio Ambiente do governo Collor e tentou mudar o conceito de administração do país, mas fracassou.

 

Ainda concebeu o Parque da Guarita, em Torres, fez projetos ecológicos, criou uma empresa de consultoria ambiental e a Fundação Gaia. Em Pantano Grande, transformou uma antiga pedreira em seu santuário, o Rincão Gaia. É onde seu corpo repousa na terra, entre árvores.
Um sepulcro da carne, que simboliza um dos seus preceitos: homem e natureza estão unidos no mesmo sistema.

 

 

Prêmio

 

Em 1988, Lutzenberger recebeu o Prêmio Nobel Alternativo, concedido pela The Right Livelihood Fundation, da Suécia. Ele foi premiado por um trabalho de produção agrícola sem o uso de herbicidas químicos e por sua militância sobre a Amazônia.

 

Nascido em 17 de dezembro de 1926, em Porto Alegre, Lutzenberger formou-se pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e fez pós-graduação em ciência do solo e química agrícola na Lousiana State University.

 

Em 1971, Lutzenberger deixou a Basf, em Ludwigshafen (Alemanha), para fundar a Agapan (Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural).

 

Nos últimos anos, ministrava palestras sobre educação ambiental e agroecologia, além de administrar -junto com as filhas- a empresa Vida, indústria de reciclagem de resíduos com sede em Guaíba (RS).

 

RINCÃO GAIA: RECANTO DE PRÁTICA ECORRESPONSÁVEL NO PAMPA GAÚCHO

(Fonte: www.zerohora.clicrbs.com.br/rs/Geral – ANO 49 – 10 ANOS SEM LUTZENBERGER/ Por Guilherme Mazui – 15 de maio de 2012)

(Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1994/5/06/brasil – FOLHA DE S.PAULO – BRASIL / MEMÓRIA / COTIDIANO / Por (MAURO ALBANO) – DA AGÊNCIA FOLHA – São Paulo, 15 de maio de 2002)

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