Jean Renoir, cineasta, escritor, argumentista, encenador e ator

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Jean Renoir (Paris, 15 de setembro de 1894 –- Los Angeles, 12 de fevereiro de 1979), cineasta, escritor, argumentista, encenador e ator.

Para ele, o mais importante em seu trabalho de cineasta era o prazer do ato de filmar. “Não estou interessado no resultado final”, dizia o diretor francês. “Isso compete ao público. Se gostar, ótimo. Se não, tanto pior”. Por ele, essa convicção se estenderia a toda a vida, “pois quem se empenha demais para conseguir alguma coisa sempre sofre – e, quando por fim atinge seus objetivos, verifica que não valeu a pena esforçar-se tanto”.

E, ao longo de toda a carreira, o parisiense Jean Renoir mostrou-se coerente com tais princípios. Em seus 36 filmes, apresentou às bucólicas sátiras sociais, jamais se sente o empenho obsessivo de impor algo à plateia. Antes, o espectador é convidado a seguir o que se passa na tela, até ser envolvido pelo delicado clima do que nela se passa. Adorado pela combativa e brilhante turma da Nouvelle Vague, ele ganhou de um deles (François Truffaut) uma frase que bem caracteriza essa delicadeza: “Uma bela manhã, como num filme de Renoir”.

Não há propriamente uma unidade temática em seus filmes, nem Renoir acreditava que existissem verdades absolutas. Mas, com certeza, “existe uma coisa horrível no mundo”, dizia em “A Regra do Jogo” um personagem interpretado pelo próprio Renoir. “É o fato de que todo mundo tem razão.” E essa frase sintetiza todo o suaveceticismo do cineasta.

UM PRECURSOR – Jean Renoir tomou contato desde cedo com o mundo da arte, pois seu pai era o pintor impressionista Pierre Auguste Renoir: apaixonou-se pelo teatro, experimentou a cerâmica durante algum tempo, até se sentir atraído pelo cinema – inicialmente escrevendo o roteiro de “Une Vie Sans Joie”, em 1924. Já diretor, nos mudos que se seguiram, experimentou gêneros diversos: o drama naturalista em “Nana”, fantasias poéticas (“Charleston”), dramas históricos. Em 1931, no sonoro, com “La Chienne” e seu cruel retrato de um caso amoroso, viria a primeira obra-prima. E quatro anos depois, com “Toni”, filmado longe dos estúdios, com elenco recrutado entre o povo, Renoir anteciparia em mais de uma década o neo-realismo italiano.

Mas foram “Une Partie de Campagne” (“Um Poema à Natureza”, de 1936), “A Grande Ilusão” (libelo pacifista de 1937, seu maior sucesso comercial) e “A Regra do Jogo”, de 1939, sátira sobre a alta sociedade francesa, os filmes definitivamente consagradores – os dois últimos, aliás, vêm integrando praticamente todas as listas dos “melhores filmes de todos os tempos” feitas pela crítica mundial.

OS ETRUSCOS – Nos Estados Unidos, onde ficou, de 1941 a 1948, Jean Renoir fez cinco filmes (o melhor: “Segredos de Alcova”, de 1946) e, em 1950, rodou na Índia o exótico “Rio Sagrado”. De volta à Europa, em produções ambiciosas como “French Cancan” (com Jean Gabin e Françoise Arnoul) ou “As Estranhas Coisas de Paris” (com Ingrid Bergman), Renoir conseguiu apenas elogios moderados. Entretanto, em produções feitas originariamente para a TV, com “O Testamento do Doutor Cordelier” (1961) e seu derradeiro filme, “Le Petit Théâtre de Jean Renoir”, de 1969, o diretor atingiu por vezes o mesmo nível de seus filmes antigos.

Mas, sem dúvida, Jean Renoir se sentia melhor em tempos em que a tecnologia não era tão preponderante. Já em 1948, ele escrevera: “Abençoados eram os ceramistas etruscos que conheciam apenas duas cores pra decorar seus vasos e os cineastas dos primeiros tempos que eram obrigados a simplificar. Hoje, com o desenvolvimento da técnica, a Idade de Ouro acabou. Nos melhores filmes modernos, aprecio a fotografia, os diálogos, a interpretação – mas no fundo eles me aborrecem.

Jean Renoir morreu no dia 12 de fevereiro de 1979, de um colapso cardíaco, aos 84 anos, em Los Angeles.

 

(Fonte: Veja, 21 de fevereiro de 1979 – Edição n° 546 – CINEMA – Pág; 55/56)

 

 

 

 

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