Eugène Boudin, um precursor do impressionismo

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Luzes de pioneiro

Eugène Boudin (Honfleur, 12 de julho de 1824 – Deauville, 8 de agosto de 1898), um precursor do impressionismo.

Boudin tinha prestígio entre os artistas como um precursor do impressionismo e autor de marinhas magistrais e no final da vida foi também aclamado pelo público, que comprava suas telas a bom preço. Hoje, ele é lembrado como o professor de Monet mas também como um  dos bons artistas de seu tempo.

O pintor francês Claude Monet, uma das glórias do impressionismo, tinha apenas 18 anos e mal se iniciava nos pincéis quando ouviu que “a pintura, feita diretamente da natureza, tem sempre uma força e uma vivacidade impossível de ser alcançada no ateliê”. Monet adotou imediatamente essa teoria em seu trabalho e com ela fez em 1872 o quadro com o nascer do sol que marcaria formalmente o início do impressionismo.

O autor da frase foi Eugène Boudin, primeiro professor de pintura de Monet e que lhe ensinou a interpretar na tela a luz e as cores contidas na paisagem, uma das características dessa corrente da pintura.

 

EX-MARINHEIRO – Boudin nasceu em Honfleur, em julho de 1824, filho de um ex-marinheiro que abandonou o mar para abrir uma pequena papelaria na zona portuária do Havre. Foi na acanhada vitrine da loja do pai que ele começou a mostrar suas primeiras telas – marinhas, uma obsessão desde sempre -, que chamaram a atenção e lhe garantiram uma bolsa da prefeitura para estudar pintura em Paris.

O artista ficou três anos nesse aprendizado, para concluir que não tinha nenhuma vontade de ser um pintor acadêmico. “Eles são muito pobres de luz, muito tristes”, comentou antes de voltar a fazer suas marinhas retiradas da observação do litoral da Normandia, sua região natal.

Ao lado das telas de Boudin, na vitrine da papelaria, começava a expor um estudante chamado Monet, que fazia divertidas caricaturas dos colegas. Inicia-se aí a amizade entre os dois, que, como mestre e aluno, adotam o hábito de pintarem juntos, na praia, nos campos ou nos portos da região.

SILHUETAS – Logo, o paisagista iria reunir em suas sessões de pintura ao ar livre diversos colegas de ofício, como o aquarelista holandês Johan Barthold Jongking (1819-1891) – outro precursor do impressionismo, com suas massas de árvores e rochas transformadas em manchas de cor límpida.

Mas Boudin não era um defensor do isolamento na província, por mais aprazíveis que fossem as paisagens. “Não se pode inventar uma arte sozinho num canto, sem crítica nem meios de comparação”, ele dizia. Seu paisagismo apoiou-se, inicialmente, na paisagem tradicional holandesa do século XVII – ele viajou à Bélgica para estudar os mestres flamengos.

O poeta e crítico de arte Charles Baudelaire depois iria chamar a atenção para a qualidade das manchas e do caráter voluntariamente impreciso que assumiram as figuras de Boudin, que conseguia definir uma forma com rápidos toques de pincel. No óleo sobre madeira Portrieux – A Costa com Maré Baixa, pintado provavelmente em 1872, essa característica aparece nas pequenas silhuetas dos marinheiros, no barco que se aproxima do casco do navio. Alguns golpes de vermelho e branco definem os dois personagens.

A pintura de Boudin não é a de um colorista. Ao contrário da festa de tons da paleta impressionista, ele usava as cores com economia – geralmente permanecendo nos cinza, azuis e verdes, além do marrom e ocre. Para quebrar essa aparente monotonia, ele fazia poucos traços em cores fortes, como nos marinheiros do quadro de Portrieux

A grande maioria das pinturas tem seu assunto visto à distância. Os temas prediletos são embarcações no cais, cenas de praia, paisagens rurais, lavadeiras e céus lotados de nuvens. Num dos melhores céus da coleção – o óleo sobre tela Deauville – O Rio Morto, de 1890 -, Boudin faz com que a caprichosa curva de rio margeada de verde reflita as nuvens em sua superfície.

Apenas no final de sua carreira, quando o impressionismo trinfava nos salões parisienses, Boudin arriscaria fazer suas telas mais fluidas e imprecisas. Na época em que Monet cometia todas as ousadias, ele permanecia fiel a uma representação mais realista da paisagem, comparecendo com discrição nos salões, embora vendesse bem e fizesse exposições nas melhores galerias de Paris.

Boudin morreu aos 74 anos, em agosto de 1898, depois de ser reconhecido como um mestre de seu ofício e precursor de mestres ainda mais afiados na técnica de captar luz e cor da natureza. À beira de seu túmulo, Claude Monet afirmou: “Jamais esquecerei que ele foi o primeiro a nos ensinar a entender o que vemos.”

(Fonte: Veja, 7 de fevereiro de 1990 – ANO 23 – Nº 5 -– Edição 1116 -– ARTE -– Pág: 98/99)

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