Enrico Berlinguer, foi secretário-geral do PCI, um homem que nunca ocupou nenhum cargo público

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Enrico Berlinguer foi um político notável, na qual a Itália e o mundo

Enrico Berlinguer foi um político notável, na qual a Itália e o mundo reverenciaram

 

A Itália e o mundo reverenciaram o líder do PCI

Enrico Berlinguer (Sassari, Itália, 25 de maio de 1922 – Pádua, Itália, 11 de junho de 1984), estadista e líder do Partido Comunista italiano, um homem que nunca ocupou nenhum cargo público. Berlinguer fez parte dos que acreditavam que a participação dos comunistas no poder no mundo só é possível num quadro pluralista e genuinamente democrático.

Secretário-geral do Partido Comunista italiano que ao longo dos seus doze anos como líder do PCI, partido dono de um terço dos votos italianos, Berlinguer conquistou a estatura de um estadista pelo “sentimento comum e o juízo concorde”.

Natural, assim, que Berlinguer fosse pranteado como o segundo estadista que a Itália perde de modo precoce nos últimos anos. 

A profundidade e a extensão da estima tributada postumamente a Berlinguer surpreendeu mesmo na Itália, e a sua origem talvez esteja mais nos ideais representados pela sua postura política na vida pública do que pela sua liderança individual, marcada por uma personalidade tão apagada e voluntariamente cinzenta que no Partido Comunista italiano dizia-se que era “adepto do culto à impersonalidade”.

Quando Berlinguer recebeu a secretaria do Partido Comunista italiano em 1972, o partido tinha obtido pouco mais de 27% dos votos nas últimas eleições.

Agora tinha 29,9%, apenas 2% menos que a Democracia Cristã, partido que já teve maioria absoluta no país. Para construir a eficiente rede de entendimento e aprovação com boa parte dos italianos em torno das ideias que representava, Berlinguer encarnava a figura do político honesto, que defendia valores simples e essenciais como o trabalho, a moralidade, a paz e a democracia.

Essas ideias que constituem o fundamento de qualquer causa pública. Mas na Itália, que viveu no século XX, a trágica experiência do fascismo e da guerra, e enfrentou nos últimos anos uma onda de terrorismo e escândalos financeiros à sombra do imobilismo político, elas pareceram muitas vezes fora do alcance do cidadão comum.

Uma homenagem póstuma a Enrico Berlinguer foi preparada por dezesseis dos mais importantes cineastas italianos, entre eles Michelangelo Antonioni, Ettore Scola e Bernardo Bertolucci, que filmaram os funerais e prepararam uma edição de 2 horas dentre as 20 que foram rodadas.

A viúva Letízia, católica praticante, e os quatro filhos dispensaram o enterro na tumba do partido, que já abriga Antonio Gramsci, Palmiro Togliatti e Luigi Longo – os predecessores de Enrico Berlinguer – preferiram o enterro em forma privada na tumba familira, ao lado da sepultura do pai.

Enrico Berlinguer que falecera em 11 de junho de 1984, sem recobrar a consciência após um fulminante derrame cerebral sofrido quatro dias antes, durante um comício, conseguiu reunir a impressionante massa – calculada pela polícia entre 1 e 1,5 milhão de pessoas, além do mar de bandeiras vermelhas que tomou toda a praça de San Giovanni, sobre o palanque de que abrigou 600 personalidades italianas e estrangeiras.

Pode-se ver a outra face do fascínio pessoal e da expressão política do líder comunista falecido. Mikhail Gorbachev, em sua primeira e surpreendente viagem ao Ocidente desde que se viu apontado como herdeiro do poder na União Soviética, o primeiro-ministro chinês Zhao Ziyang (1919-2005), que já se encontrava em Roma em visita oficial, o presidente da Organização para a Libertação da Palestina, Yasser Arafat, e representante de dezenas de governos europeus e do Terceiro Mundo.

Ao final da cerimônia, quando o féretro partiu rumo ao cemitério ao som dos acordes do hino Bandiera Rossa, o veterano socialista Sandro Pertini (1896-1990), presidente da República Italiana, debruçou-se sobre o esquife, com os olhos vermelhos de choro, e delicadamente beijou sua madeira escura.

Tmbou aos 62 anos, vítima de um derrame no dia 11 de junho. Mais de 1 milhão de pessoas deram-lhe um funeral de estadista.

(Fonte: Veja, 11 de junho de 1984 – Edição 824 – INTERNACIONAL/ Por Dirceu Brisola, de Roma – Pág: 30/31)

(Fonte: Veja, 26 de dezembro de 1984 – Edição 851 – MEMÓRIA – Pág: 159)

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