Anton Tchekhov, autor de peças e clássicos importantes da literatura

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Mestre conciso

Nos contos de Tchekhov, não há lugar para heroísmo, sentimentalismos e embelezamentos

Anton Tchékhov  - (Foto: Saraiva Conteúdo)

Anton Tchékhov: censura por ser real demais – (Foto: Saraiva Conteúdo)

Anton Tchekhov (Taganrog, Rússia, 29 de janeiro de 1860 – Badenweiler, Alemanha, 15 de junho de 1904), romancista, contista e dramaturgo russo, autor de peças e clássicos importantes da literatura. Foi um dos mais famosos novelistas e dramaturgos russos.

Hoje considerado o mestre do gênero conto, além de um dos maiores dramaturgos modernos, por peças como O Jardim das Cerejeiras, sua modéstia era sincera e desinteressada, a ponto de tornar-se traço marcante de seu estilo. Pois tudo em seus contos é recatado, pequeno, sucinto, anti-heroico, como se pode constatar em “O Assassinato e Outras Histórias”. 

Quando são de classe média, os protagonistas são medíocres e artificiais. Se camponeses, mostram-se embrutecidos pela miséria, a religiosidade vazia e o alcoolismo. As situações são corriqueiras, e as tragédias apenas uma sucessão de fracassos e frustrações, sem grandes desfechos. Aliás, não há um desfecho que seja em Tchekhov, pois suas histórias acabam como tinham começado, no eterno retorno da mesma desolação e banalidade.

É assim com a punição do sectarismo religioso de “O Assassinato”, de 1895, que não leva à redenção dos criminosos. O idílio doméstico em “Professor de Letrasperde o disfarce e vira legítima canastrice. As veleidades do médico Iônitch, no conto que leva o nome do personagem, tornam-se, com o tempo, indolência moral.

Mas os dois textos que ilustram o melhor do autor são os dedicados à vida rural, “Os Mujiques (1897) e “No Fundo do Barranco” (1900). No primeiro, a fidelidade com que é retratada a brutalidade e a ignorância dos camponeses rendeu-lhe a censura oficial de trechos, numa primeira edição. E o ainda mais amargo “No Fundo do Barrancoimpressionou o escritor Máximo Gorki pela “arguta compreensão do caos e estupidez da vida camponesa”.

Contrastando com a idealização da vida e da alma mujique feita pelo conde Tolstoi, Tchekhov não embeleza sua gente. Pudera: antes de se tornar escritor, ele já era médico, e como médico passou boa parte da vida cuidando das vítimas da fome camponesa de 1891-1892 e da epidemia de cólera. É com esse olho clínico, sem sentimentalismos, e com a delicadeza e precisão de um cirurgião que ele assesta o bisturi sobre suas paisagens humanas.

Filho de um servo liberto, boa parte do que Tchekhov escreveu foi para pagar suas contas e da família que sustentava. Chegou a publicar 100 crônicas jornalísticas por ano, ritmo que só apaziguou quando suas peças começaram a render. Detestava as pseudoprofundidades dos intelectuais de plantão, numerosos então como agora. Numa das cinco cartas que também constam dessa coletânea, endereçada ao editor Suvorin, ele ridiculariza os rompantes de uma colega escritora, pretensamente maravilhada com o “ser humano”: “Isso não é um modo de encarar a vida, é um bolo confeitado”, desabafa. Se alguém podia desancar dogmas e preciosismos, era ele. Tchekhov destila impessoalidade e resignação, frieza e compaixão – excepcionais ferramentas para descrever a vida como ela é.

O escritor russo foi um contumaz demolidor do que definia, irônico, como “as chamadas regras da arte”.

Achava que os escritores não deveriam submeter-se à ditadura do enredo e materializou essa crença ao longo de sua obra, composta de dezenas de contos, dois romances e algumas peças.

Houve quem o acusasse, pelo desprezo à trama, de falta de imaginação, mas ainda em vida Anton Tchekhov saboreou o reconhecimento de seu talento inovador e revolucionário.

Esse filho de servos que aos 20 anos de idade começou a vender contos para revistas como uma forma de sustentar seus estudos de Medicina em Moscou tem lugar garantido no panteão da literatura russa do século XIX, ao lado de gigantes como Tolstoi e Dostoievski.

Entre as diversas fases do autor, está o livro Caso com um Clássico, de 1883, época em que Tchekhov escrevia apenas para fazer dinheiro.

Em A Dama do Cachorrinho, de 1889, representa a fase madura do autor. Como Anna Karenina, de Tolstoi, A Dama do Cachorrinho é a história de um adultério, mas Tchekhov envolve o caso numa aura de compreensão e ternura não encontrada na obra máxima de Tolstoi – que mata a heroína sob as rodas de um trem.

Sem ser panfletário, Tchekhov pôs a nu as frágeis bases do regime czarista, personificado numa legião de burocratas servis ridicularizada implacavelmente por sua pena. Seus escritos passaram gloriosamente pela prova do tempo.

Numa carta de 1890, Anton Tchekhov fez a lista dos maiores talentos russos de sua época: em primeiro lugar colocou o escritor Leon Tolstoi. Em segundo, o compositor Tchaikowsky (1840-1893). A si mesmo reservou um insignificante 98º lugar.

(Fonte: Zero Hora – Segundo Caderno -– 09/09/08 -– Em Cena -– Pág; 4)

(Fonte: Veja, 28 de agosto de 1985 – Edição 886 – LIVROS/ Por Paulo Nogueira – Pág: 129)

(Fonte: Veja, 26 de fevereiro de 2003 – ANO 36 – Nº 08 – Edição 1791 – LIVROS – “O Assassinato e Outras Histórias”/ Por Marilia Pacheco Fiorillo – Pág: 103)

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