Stanislaw Ponte Preta, pseudônimo de Sérgio Rangel Porto, cronista escritor, radialista e compositor

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Tia Zulmira era a boa sabedoria;
Primo Altamirando, o malandro
Rosamundo, era o distraído. Todos da família
Ponte Preta, dentro do melhor humor brasileiro.

Sérgio Porto: humor do brasileiro médio falava pela voz de Stanislaw

Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, humorista. (Foto: www.nosrevista.com.br/Reprodução)

Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, humorista. (Foto: www.nosrevista.com.br/Reprodução)

Stanislaw Ponte Preta (11 de janeiro de 1923 – 30 de setembro de 1968), pseudônimo de Sérgio Marcus Rangel Porto, cronista, escritor, radialista e compositor.

A vocação demolida – Sérgio Marcos Rangel Porto, nascido e criado na mesma rua do bairro de Copacabana (Rua Leopoldo Miguez, começara autor de um livro sério (“Pequena História do Jazz”), para viver disfarçando com sorrisos e piadas a frustração de não escrever o livro prometido a Jorge Amado: um grande romance urbano, em que as personagens esboçadas no livro de memórias da infância, “A Casa Demolida”, deveriam falar a linguagem tão reconhecida como sua pelos brasileiros de norte a sul.
“Ontem fui a uma feijoada que vou te contar: não sou planta mas passei o dia inteiro no vaso”.

Esse característico do humor sem maldade em Sérgio Porto significava uma vitória sobre as atribulações pessoais (precisava trabalhar catorze horas por dia para sustentar treze pessoas, inclusive o comediante Alegria). No enterro de Sérgio um dos que mais choravam era o jornalista e homem de teatro Brício de Abreu, a quem Stanislaw Ponte Preta – ironizando sua velhice e mania de tudo saber – apelidara um dia de “Testemunha ocular da História” e de “Rascunho da Bíblia”.

Uma válvula de escape – Sob o pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta, Sérgio Porto tornou-se em quinze anos de atividade em jornais e revistas o mais nacional de todos os colunistas brasileiros. Comparável a Art Buchwald (1925-2007), dos Estados Unidos, o humor de Stanislaw, levado a todo o País pelos jornais que adquiriam o “copyright” de sua coluna no jornal “última Hora”, do Rio de Janeiro, passou a funcionar como uma válvula de escape para o homem médio. Nas críticas e ironias de Stanislaw e suas personagens – a família imaginária composta por Tia Zulmira, pelo Primo Altamirando e por Rosamundo, o distraído– os brasileiros viam-se representados no que tem de mais comum: o sentido do ridículo, a ternura risonha pelas faltas dos outros e a intuição de que nada é tão irremediável que justifique o desespero.

Correspondência total – Criada em sua coluna a seção “Preta Press”, através da qual se comunicava com os leitores de todo o Brasil, Sérgio Porto passou a receber, por cartas e recortes de jornais, a maior soma de informações sobre pequenos acontecimentos locais com que um jornalista pode sonhar. Atos de prefeitos, frases de vereadores, escândalos sociais, erros ou absurdos em artigos de jornal ou em discursos de políticos, tudo era enviado imediatamente a “Preta Press” para “ver o que Stanislaw iria dizer”. “Josemar Marcondes Freitas – Goiânia, GO – “… as manifestações estudantis aí do Rio de Janeiro em que pé estão?…”
“Não estão em pé nenhum, seu Josemar. Estão na mão do guarda.”

Diploma e carteirinha – Graças a essa comunicação direta com os leitores de todos os recantos do Brasil onde chegasse um jornal, Sérgio Porto chegou a criar um diploma de “Debiloide da Pátria”, destinado a quem se notabilizara por fazer ou dizer bobagens, e que enviava ao comprador dos livros da série “Febeapᔠpara que brindasse quem o merecesse. Ante o sucesso do diploma, Stanislaw Ponte Preta não morreria antes de lançar outra novidade: abrindo a capa do segundo volume da 5.ª edição da série “Febeapᔠ(sigla de Festival de Besteira que Assola o País), o leitor encontra colado este cartãozinho, que o identificava documentadamente com o melhor humor brasileiro:

Quando o corpo do humorista Sérgio Porto estava sendo velado, no Rio de Janeiro, um senhor aproximou-se e apresentou compungidamente os seus pêsames a família: era o Coronel Aloísio Mulethaler, diretor do Serviço de Censura Federal. Vinha demonstrar, em nome e sua repartição, a tristeza pela morte do colunista que vulgarizou pela imprensa palavras há dez anos julgadas obscenas e, atualmente, se divertia publicando pronunciamentos e decisões oficiais sob o título de Festival de Besteira que Assola o País.

Em qualquer país a cena poderia ser interpretada como de humor negro, mas no velório do humorista que reunia, a luz dos círios, o ex-presidente Juscelino Kubitschek, cassado pela Revolução, e o Ministro das Relações Exteriores, Magalhães Pinto, nada pareceu mais natural. Com Sérgio Porto – que entre rosas vermelhas do seu caixão parecia sorrir – desaparecia um representante do mais puro humor carioca e nacional: o humor algo estoico que acha graça na desgraça, desculpando com o brilho do espírito e da independência uma certa irresponsabilidade, no fundo, filosófica.

(Fonte: Correio do Povo – Ano 116 – N.° 103 – CRONOLOGIA/ Por Dirceu Chirivino – 11 de janeiro de 2011 na História – Geral – Pág; 13)

(Fonte: Veja, 9 de outubro de 1968 -– Edição 5 -– Brasil – Pág; 30)

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