Pintacuda (1899-1971), corredor italiano da década de 30, Carlo Pintacuda.

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Pintacuda (1899-1971), corredor italiano da década de 30, Carlo Pintacuda. Quando no carnaval de 1950 o comediante Oscarito lançou com sucesso a “Marcha do Gago”, em que cantava imitando um gago muito rápido no beijar, estava ajudando a consagrar nacionalmente o nome de Carlo Pintacuda. Nos versos da marchinha em que Oscarito cantava – “Tá-tá-tá-tá na hora/ Va-va-vele tudo agora/ Sou momole pra fa-fa-falar/ Mas sou um Pintacuda pra beijar” – , o nome do corredor italiano aparecia como sinônimo de velocidade: um sinônimo que surgira no Brasil antes da Segunda Guerra Mundial, quando Pintacuda venceu duas vezes o famoso Circuito da Gávea, em 1937 e 1938. Embora vencedor da prova das Mil Milhas italianas de 1935 e 1937, e em 1938 do Grande Prêmio da Bélgica e das 24 Horas SPA (também na Bélgica), não era fácil ser um astro do automobilismo. Pintacuda era na Itália apenas mais um entre os grandes nomes de Varzi, Nuvolari, Campari, Bordino, Trossi, Arcagneli e Farina. Para enfrentar a concorrência desses grandes nomes, Carletto Pintacuda, se não possuía o gênio de um Nuvolari, tinha uma coragem e um sangue-frio que não deixaram dúvidas após a massacrante Volta da Itália, de 1934. Revezando-se ao volante com Nardille em uma possante Lancia-Astura, de dois lugares, ele deixou para trás duzentos concorrentes percorrendo 6 000 quilômetros a uma velocidade média de 86,229 quilômetros.

No ano seguinte vencia as Mil Milhas da Itália dando a primeira vitória a um carro Alfa-Romeo de um lugar (o franzino Della Stúfa a seu lado) e, em 1936, só não venceu o Circuito de Livorno porque Nuvolari teve o carro avariado, e ele recebeu ordem de ceder o seu ao campeão. É nesse ano de 1936 que Carlo Pintacuda vence o Grande Prêmio São Paulo disparando pelas ruas e avenidas do elegante bairro do Jardim América. No Rio de Janeiro, disputando o Circuito da Gávea, Pintacuda foi menos feliz: na 21.ª volta, um defeito parou a sua Alfa-Romeo e tirou-o da prova. Mas nos dois anos seguintes (1937-38) é ele o ganhador da Gávea, derrotando o alemão Von Stuck. Em 1940, depois de vencer o Grande Prêmio de Trípoli, sempre com uma Alfa-Romeo, Pintacuda abandona as pistas e viaja em 1947 para a Argentina, onde se estabelece com uma loja de antiguidades. Desse retiro Pintacuda só sai em 1967, quando, a convite da revista “Quatro Rodas”, vem a São Paulo fazer a entrega dos troféus Victor aos melhores automobilistas de 1966. Mas ainda a tempo de descobrir que a marchinha de carnaval não mentia ao mostrar que os anos não tinham conseguido apagar sua fama no Brasil. Ao desembaraçar suas malas na alfândega do aeroporto de São Paulo , um sargento descobre o nome do homem de cabelos grisalhos e abre os braços: “Pintacuda! Eu era criança quando o senhor corria por aqui”. Pintacuda morreu no dia 8 de março, 1971, aos 71 anos, em Monza, na Itália.

(Fonte: Veja, 17 de março, 1971 – Edição n.° 132 – DATAS – Pág; 84)

A corrida de 1936 marcou a chegada de competidores de peso. A Scuderia Ferrari, que na época ainda era o departamento de competições da Alfa Romeo, trouxe ao Rio dois de seus pilotos do segundo escalão, Carlo Pintacuda e Attilio Marinoni. A prova contou também com a participação da francesa Hellé-Nice, que causou um escândalo ao posar para fotos com um biquíni de duas peças e fumando na praia de Copacabana. A piloto não terminou a corrida e sofreu um grave acidente no mês seguinte, correndo em São Paulo, o que encerrou prematuramente sua carreira.

Os italianos da Ferrari também não tiveram sorte e abandonaram com o diferencial quebrado, com a vitória caindo no colo do argentino Vittorio Coppoli. Carlo Pintacuda não se deu por vencido e voltou para ganhar as duas edições seguintes.
Do trajeto do circuito, existe até hoje a Gruta da Imprensa, que é um platô destinado aos jornalistas da época que faziam a cobertura desse evento. No desenrolar de 21 anos de disputas do circuito da Gávea, houve sete interrupções motivadas por dificuldades diversas.

Tal era o progresso do esporte automobilístico mundial, que chegou a constituir manchete de sensação da imprensa internacional, fazendo famoso em todo mundo o bairro da Gávea e seu Circuito…

Foi nessa época que os brasileiros, apaixonados pelo novo esporte, descobriam num italiano seu primeiro ídolo ao vencer a corrida de 1937.
Seu nome: Carlo Pintacuda.

Adorado onde quer que estivesse, venceu também em 1938 e a partir daí passou a ser conhecido como o “Herói da Gávea”…

Sua mais espetacular corrida foi a de 1937, quando derrotou o potente Auto Union pilotado pelo alemão-austríaco Hans Stuck von Vielliez. A combinação de uma leve chuva com o travado circuito fez com que a óbvia vantagem do carro germânico fosse neutralizada.

Hans Stuck von Vielliez competiu no Brasil pela primeira vez em 1932, vencendo a corrida de Subida de Montanha da Rio-Petrópolis com um Mercedes-Benz SSKL. Na ocasião fez elogios à engenharia civil brasileira, pelos viadutos de concreto armado dessa estrada, espetados em cima de abismos, afirmando que nunca vira coisa igual em estradas de montanha européias.

No braço, Pintacuda derrotou Stuck por uma margem mínima e assinalou uma das poucas vitórias de um carro italiano sobre um alemão nos anos dourados do automobilismo, a década de 1930, antes da eclosão da II Guerra Mundial. Durante muitos anos, a palavra “Pintacuda” foi incorporada ao linguajar carioca como sinônimo de motorista audacioso e o italiano chegou a virar tema de uma marchinha de carnaval, a “Marcha do Gago”.

Esta singela marchinha foi do Carnaval de 1950, autoria de Armando Cavalcanti e Klécius Caldas, com intepretação de Oscarito, lançada no filme da Atlântida “Carnaval no Fogo”, de 1949. O nome completo de Oscarito, nascido em Málaga, Espanha, em 16/8/1906 e vindo ainda bebê para o Brasil, era Oscar Lorenzo Jacinto de La Imaculada Concepción Teresa Dias. No filme, a mocinha era Adelaide Chiozzo, a acordeonista; o mocinho; Anselmo Duarte e o vilão; José Lewgoy. Oscarito faleceu em 4 de agosto de 1970, aos 64 anos. Bob Sharp diz que tinha oito anos na época e assistiu a esse filme não sabe nem quantas vezes.

É interessante salientar que haviam se passado onze anos desde a última vitória de Pintacuda na Gávea –1938 — quando surgiu a “Marcha do Gago”, o que evidencia quão profundamente ele deixou seu nome gravado na mente dos cariocas pela sua atuação nas curvas do Trampolim do Diabo, onde a letra dizia, imitando a voz de um gago, que só corria rápido para beijar:

Ta-ta-ta tá na hora
Va-va-va vale tudo agora
Sou mo-mole pra fa-falar
Mas sou um Pintacuda pra beijar.
(bis)

Eu fico ga-ga-ga-ga gago dentro do salão
Até pa-pa-pa-pago pra não ver canhão
Mas se a do-do-do-do-dona é boa
A minha língua se destrava à toa!

Por causa da Segunda Guerra, o Circuito da Gávea foi interrompido de 1942 a 1946, retornando em 1947, encerrando o reinado de Pintacuda.

(Fonte: Circuito da Gávea no Rio de Janeiro: as primeiras corridas no Brasil – por Renato Castro Barranco, Luis Fernando Ramos e Bob Sharp – revisão de Paulo Scali e Antonio Carlos Buarque de Lima)

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