Pedro Eugênio Aramburu, ex-presidente, General tido como a encarnação do antagonismo a Perón.

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Aramburu: a vingança 14 anos depois

Pedro Eugênio Aramburu (Córdoba, 21 de maio de 1903 – La Hera, 29 de maio de 1970), ex-presidente, General tido como a encarnação do antagonismo a Perón, foi o presidente da Argentina entre 13 de novembro de 1955 e 1° de maio de 1958.

Na manhã do dia 29 de maio, iludido pelo uniforme militar de dois visitantes inesperados, o ex-Presidente, General Pedro Eugênio Aramburu, concordou em acompanhá-los até o Comando do Exército. No Comando do Exército, entretanto, o ex-presidente não estava sendo esperado. A explicação veio horas mais tarde com o manifesto que os sequestradores distribuíram pelos restaurantes da capital Buenos Aires. Além de várias justificativas políticas, o documento identificava a organização responsável pelo rapto: Comando José Valle. Com o aparecimento desse nome a sorte de Aramburu tornou-se muito pouco invejável. Em 1956, o General Juan José Valle chefiou um golpe de Estado de tendência peronista que fracassou antes mesmo de ser declarado. Em três dias as autoridades fizeram fuzilar 26 pessoas. Valle entregou-se voluntariamente pouco tempo mais tarde. Julgado por um tribunal militar, sua condenação à morte levou a assinatura decisiva do então Presidente Pedro Eugênio Aramburu. O fuzilamento na prisão de La Hera foi assistido únicamente por sua filha adolescente e pelo enfermeiro encarregado de vestir a camisa de força na vítima ou em seus familiares – quando necessário.

Catorze anos depois, chegou a vez do ex-Presidente Aramburu ser julgado. E, no dia 29 de maio, não parecia provável que o tribunal popular do Comando José Valle mostrasse muita generosidade. Aramburu nunca apoiou o governo de Onganía e ultimamente vinha-se lançando como candidato a um golpe de Estado. Eliminado pelos terroristas, seria um adversário a menos na luta cada vez mais dura que Onganía vinha mantendo com a imprensa, os estudantes e os sindicatos.

Sangue de batráquio – Durante cinco dias – de sábado dia 23, a quarta-feira dia 27 de maio -, o Ministério do Interior argentino impediu que os 730 000 exemplares diários do jornal “Crônica” chegassem aos seus leitores habituais. O motivo da suspensão foi uma notícia publicada pelo jornal no último dia 31, segundo a qual o estudante Carlos Amato teria sido morto pela polícia durante os distúrbios e protestos da véspera, em Córdoba. Realmente houve um engano; o estudante continuava vivo. Mas o engano é o de menos. Em toda a campanha de intimidação contra os órgãos da imprensa que Onganía vinha comandando nos últimos meses, o que menos parece pesar nas decisões é a veracidade do noticiário. A revista “Asi” foi fechada temporariamente pela cobertura que deu a um desastre ferroviário, e o semanário “Primera Plana” por ter comentado uma possível divisão entre os militares no poder. Nos dois casos, os fatos eram inegáveis. A cobertura de “Asi” fora feita com fotografias tomadas no local e os comentários de “Primera Plana” eram os mais moderados que se podiam esperar, depois dos aplausos recebidos na semana anterior pelo coronel aposentado Juan Guevara, ao anunciar numa reunião de militares que o comandante das Forças Armadas tinha, entre outras coisas, “sangue de batráquio”.

Efeito oposto – Tudo leva a crer que as decisões de fechamento e reabertura são tomadas ao acaso das conveniências políticas do momento, muitas vezes com o efeito oposto ao que se desejava. Ao punir o jornal “Crônica”, Onganía pretendia evitar que a notícia da morte do estudante provocasse uma onde de revolta. Já, entretanto, quinhentos estudantes ocuparam a Faculdade de Arquitetura de Buenos Aires. A violência não tardou a chegar em Córdoba, com a batalha de 1 500 estudantes e trabalhadores contra policiais com metralhadora, apresentando saldo de presos e feridos.
Eugênio Aramburu foi assassinado por um grupo terrorista em 29 de maio de 1970, tido como a encarnação do antagonismo a Perón.

(Fonte: Veja, 21 de março de 1973 – Edição n° 237 – INTERNACIONAL – Pág; 36/37)
(Fonte: Veja, 3 de junho de 1970 – Edição n° 91 – ARGENTINA – Pág; 57)

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