Um talento maldito
Louis-Ferdinand Céline (Coubervoie, 27 de maio de 1894 – 1º de julho de 1961), o “Dr. Destouches”, conhecido simplesmente por Céline, foi um escritor calmo e discreto, e médico competente e bem relacionado.
Autor de dois romances considerados tão importantes quanto os livros de Marcel Proust (1871-1922). Céline faz parte de uma constelação de escritores de importância desconhecidos do leitor brasileiro. Em sua obra Morte a Crédito, é possível descobrir o inquietante universo de um autor decididamente controvertido.
Em 1932, Céline lançou Voyage au Bout de la Nuit e seu estilo excepcional logo ganhou elogios. Introduzindo gírias e construções populares às quais dava um tratamento altamente elaborado, em 1936 ele publicou Mort à Crédit e firmou sua posição na literatura francesa.
Isso, porém, duraria pouco. Em 1937, com a publicação do panfleto anti-semita Bagatelles pou un Massacre, atraiu sobre si mesmo uma mancha que nenhum admirador apaixonado – e sempre foram muitos – conseguiria apagar.
O que faz um francês explodir escrevendo panfletos anti-semitas em plena ascensão do nazismo, sua visão pessimista da vida, facilmente notada na forma autobiográfica de Morte a Crédito, levou-o a procurar um bode expiatório para a sua suposta infelicidade: escolheu os judeus e, com o mesmo brilho e competência, escreveu panfletos que iriam marcá-lo para sempre.
(Fonte: Veja, 24 de novembro de 1982 – Edição 742 – LIVROS / Por PEDRO CAVALCANTI – Pág: 175/176)