John Stagliano, ator, produtor e empresário, pioneiro da pornografia gonzo.

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John Stagliano, ator, produtor e empresário, pioneiro da pornografia gonzo, manteve uma empresa no Brasil entre 1991 e 2008.

Oito mulheres e seis homens, os 14 membros de um júri, tiveram que assistir a dois filmes e um vídeo de internet para um julgamento ocorrido em julho de 2010, em Washington. Logo numa das primeiras cenas exibidas, um entregador de leite chegava a uma casa cheia de mulheres e… Bem, ele entregava muito mais do que o leite nos 50 minutos de “Milk nymphos”, uma das obras que levaram o governo americano a abrir um processo criminal contra John Stagliano. A reação do júri, segundo os relatos de quem estava na corte, foi um misto de desconforto com muitos sorrisos de canto de boca. Stagliano acabara de conquistar novos fãs.

O ator, produtor e empresário americano, não nega o crime de obscenidade pelo qual foi acusado e que poderia mantê-lo por até 30 anos na prisão. Ao contrário, ele se orgulha de ter se tornado a figura mais conhecida das últimas três décadas da indústria pornô, não exatamente por seu nome de batismo, mas sim pelo pseudônimo Buttman.

— Na verdade fiz apenas uns 15 ou 20 filmes como ator pornô. Eu não era tão bom assim, então fui deixando isso de lado — conta Stagliano.

Mas criei o Buttman e fiz mais de cem longas-metragens como o personagem, apenas uns cinco deles participando de cenas de sexo. E foi a partir daí que eu fiquei famoso.

A origem de um estilo

Stagliano chegou no domingo ao Brasil para participar da 21ª edição da Erótika Fair, feira de mercado erótico que começou na quinta-feira (27/03), em São Paulo. Sua viagem teve como intenção buscar novos negócios no país e também compartilhar sua história, de como um americano nascido em Chicago, filho de lixeiro, estudou Economia na Universidade da Califórnia, ganhou dinheiro como stripper e modelo erótico e acabou transformando o mercado pornográfico.

O sucesso de Stagliano começou a se desenhar em 1988, quando ele lançou o primeiro filme de sua produtora, a Evil Angel. O filme recebeu o título de “Dance fire” e deu origem ao estilo conhecido como pornografia gonzo. Até então, os filmes pornôs seguiam a estrutura tradicional de roteiro, com narrativas lineares e câmeras que captavam o sexo à distância. Stagliano quis fazer diferente: em seus filmes, ele próprio operava a câmera e andava pelos cenários, dando ao espectador um ponto de vista mais próximo dos atores e incentivando o improviso. E, como o que o público de um filme pornô mais quer é subsídio para se imaginar dentro da ação, o estouro foi imediato.

— Do momento em que começamos a desenvolver a pornografia gonzo até uns quatro anos para a frente, mais de 50% dos filmes pornôs produzidos passaram a seguir o meu estilo — diz Stagliano. — Mas mesmo se eu não tivesse criado a pornografia gonzo, outra pessoa o teria feito. O estilo era uma evolução natural para o cinema pornô. Nós viemos antes de os reality shows se tornarem grandes, mas já havia experiências na TV de pessoas interagindo naturalmente com a câmera. Eu fui o primeiro, mas foi uma evolução natural.

No ano seguinte de “Dance fire”, Stagliano lançou “As aventuras de Buttman”, o primeiro filme com seu popular personagem. Dali em diante, vieram produções como “Buttman vai ao Rio” (1990), “Buttman no seio da aventura” (1991) e “Buttman x Buttwoman” (1992). No fim da década de 1990, a Evil Angel faturava cerca de US$ 7 milhões por ano.

— Os bons anos para a indústria pornô começaram ali por volta de 1983, com o boom do VHS. Há 18 anos, todo o dinheiro da empresa vinha apenas da venda de home video — diz Stagliano. — Mas os tempos mudaram, e nós tivemos que nos adaptar à internet. O conteúdo se alterou pouco, talvez apenas a ação tenha ficado mais rápida. Só que a internet fez com que tivéssemos que diversificar os negócios. Trabalhar com pornografia ficou mais complexo, os lucros diminuíram muito, e muita gente foi à falência. Hoje, apenas 45% do nosso faturamento vêm da venda de DVDs. O resto vem dos canais de internet e dos programas de TV.

Além da internet, o mercado pornô teve outros reveses nas últimas décadas. O primeiro, e talvez maior deles, foi a Aids. O próprio Stagliano foi diagnosticado como portador do HIV em 1997, após uma relação, fora das telas, com um transsexual brasileiro, acendendo um alerta para toda a indústria. Hoje, diz ele, tanto sua doença quanto os riscos para os atores pornôs são controlados.

— Só tivemos dois incidentes em que atores contraíram HIV por contato sexual durante alguma filmagem. O primeiro foi em 1998, porque o próprio ator adulterou seu exame. E o outro foi em 2004, que aconteceu porque um exame havia sido malfeito — diz Stagliano. — Desde então, não houve mais nada. Nos EUA, os atores precisam fazer exames a cada duas semanas, e há ótimos laboratórios. Então o risco para alguma estrela pornô é absurdamente pequeno.

Processo criminal

Outra barreira enfrentada pelo mercado de Stagliano foi o processo criminal pelo qual ele e a Evil Angel tiveram que responder a partir de 2008, uma ação movida por um júri federal na capital americana. O produtor só foi inocentado do crime de obscenidade em 2010.

— O julgamento não chegou ao fim porque, como disse o próprio juiz do caso, as provas apresentadas pelo governo americano eram muito ruins — explica Stagliano. — O caso teve uma motivação política, baseada no fato de que George W. Bush foi eleito com apoio de grupos cristãos de direita. São grupos muito conservadores e contrários à pornografia. Então, como pagamento pelo apoio na eleição, o governo começou a nos perseguir.

No Brasil, Stagliano espera uma nova oportunidade de negócios. Entre 1991 e 2008, ele manteve uma empresa no país para distribuição de seus filmes, mas abandonou a companhia devido a resultados negativos. O produtor lembra que ele foi o primeiro americano a gravar filmes pornográficos em território brasileiro, ainda na década de 1990, e diz acreditar na força desse mercado por aqui.
— O Brasil é gigante, e os brasileiros me parecem mais interessados em sexo do que os povos dos outros países da América Latina, e também mais do que o resto do mundo — diz Stagliano.

(Fonte: http://oglobo.globo.com/cultura – ANDRÉ MIRANDA – 27/03/14)

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