Roland Barthes, escritor e sociólogo, considerado um dos mais importantes críticos literários

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O dissecador

Barthes: uma prosa cintilante

Barthes e os segredos do texto escrito

Roland Barthes (Cherbourg, 12 de novembro de 1915 – Paris, 25 de março de 1980), escritor e sociólogo, formou-se em Literatura Clássica e Filologia pela Sorbonne. Considerado um dos mais importantes críticos literários, Barthes fez a crítica das atitudes sociais e cotidianas e trabalhou em uma ciência geral dos signos. Com sua afirmação de que a unidade do texto não se encontra na origem, mas em sua destinação, ele defendeu o leitor e o crítico como criadores, junto com o autor, do sentido do texto. Entre seus vários livros podemos citar O grau zero da escrita (1953), Mitologias (1957), Elementos de semiologia (1964), Crítica e verdade (1966), O prazer do texto (1973), Fragmentos de um discurso amoroso (1977) e A câmara clara (1980).

Durante a maior parte de sua atividade literária, Roland Barthes foi tido como um escritor difícil, “duro”, às vezes impenetrável – uma ironia cruel para quem dedicou um volume inteiro, em 1973, intitulado justamente “O Prazer do Texto”. Ali, Barthes resumia limpidamente suas ideias, falando da sedução que o texto exerce sobre o leitor: pregava uma “estética do prazer textual”, na qual as palavars devem ter uma existência quase física, e cujo exemplo supremo seria a leitura em voz alta. Barthes não se tornou mais popular com este livro. Mas, quando ele morreu em Paris, no dia 25 de março de 1980, aos 64 anos, estava com a consciência tranquila. No dia 25 de fevereiro, Roland Barthes almoçou com o filósofo Michel Foucault (1926 – 1984), e o socialista François Mitterrand (Jarnac, Charente, 26 de outubro de 1916 – Paris, 8 de janeiro de 1996). Ao sai do restaurante foi atropelado por um caminhão, ferindo-se na cabeça e nas pernas.

Preocupados mostraram-se seus críticos, que nos necrológios proclamaram imediatamente que Barthes era de leitura mais amena, por exemplo, que Jean-Paul Sartre em seus escritos literários. O próprio Barthes, se pudesse ler essas linhas piedosas, certamente encontraria material para um belo estudo. Ele foi um escritor “das sombras”, que caçava o significado secreto das coisas. Escreveu sobre “banalidades”, como a moda (seu “Sistema da Moda” foi traduzido no Brasil), Brigitte Bardot, bife com batas fritas, sabão e detergentes. Queria escalpelar e desnudar o universo do dia-a-dia. A função da crítica, dizia ele desde 1953, ano do seu primeiro livro, “Le Degré Zero de L’Ecriture”, não é descobrir e explicar o sentido de uma obra literária mas descrever o sistema produtor de significação. Em suma, não o que a obra significa mas como chega a significar. Complicado demais para a intelectualidade da época.

UM PIONEIRO -– Barthes é visto quase como um vulgarizador da semiologia, a ciência dos signos literários. Nos anos 50, tinha-se como certo que tanto o romance quanto a poesia tinham que servir de testemunho: havia a literatura sobre a resistência, a influência dos escritores americanos e a crença de que o valor da obra dependia do sentido da História, a vitória sobre o nazismo. Barthes dissociou o casamento de forma e conteúdo, valorizou a forma. Esse ensaio anunciava a revolução que logo depois tomaria o nome de “novo romance”.

Em “Mitologias”, “S/Z”, o “Império dos Signos” e outros livros ampliou essas suas ideias, falando de tudo e de todos de maneira original e definindo-se, sempre, como um “marxista sartriano”. Essa diversidade de interesses deu-lhe uma condição à parte na universidade francesa, onde sempre conseguiu lotar auditórios com sua prosa cintilante e provocava simpatia com suas roupas amarrotadas, um charuto sempre aceso na boca e uma paciência ilimitada no trato com seus alunos.

Ninguém, até hoje, classificou Barthes com precisão. Esse pensador a princípio solitário, matriz de uma abrangente escola de estudos linguísticos e semióticos, andava deprimido desde 1979, quando sua mãe morreu. Em sua autobiografia, “Roland Barthes por Roland Barthes”, ele lembra seu sistema respiratório frágil, a tuberculose que o atingiu entre os 19 e os 23 anos, o pedaço da costela que os médicos suíços lhe restituíram e que ele conservou muito tempo em meio a velhos boletins escolares. Um dia atirou o pedaço de costela embrulhado em gaze do alto de seu apartamento, “como se eu estivesse dispersando romanticamente minhas próprias cinzas na rua Servandoni, onde seriam cheiradas por um cachorro qualquer”. Barthes mostrou-se capaz de derrubar as barreiras solidamente instaladas entre as diversas disciplinas, era um nome altamente respeitado.

Passou seus últimos dez dias inconsciente. Alguém lembrou, em seu enterro, uma frase que sempre repetia em aula, dando conta dos frutos que ele plantara nos anos 50: “Hoje, eu sou a rataguarda da vanguarda”. “A Câmara Clara”, seu último livro, publicado dias antes de sua morte.

(Fonte: Veja, 8 de abril de 1998 -– N° 14 –- Ano 31 -– Edição 1541 –- Ideias -– Pág; 118)

(Fonte: Veja, 2 de abril de 1980 -– Edição 604 –- Ideias -– Pág; 59)

(Fonte: www.estacaoliberdade.com.br)

A fotografia é incapaz de se transformar em arte, observa o pensador Roland Barthes.

Ele foi um dos pioneiros daquela escola de ideias francesas dos anos 60 segundo a qual era possível fazer sociologia a partir das linhas de um Citrën e também estudar os rumos da economia com base no comprimento das saias.

Mas, em se tratando de fotografia, Barthes deixou uma observação clara e definitiva. “Seja o que for o que ela mostre e qualquer que seja a sua maneira, uma foto é sempre invisível. Não é ela que nós vemos, mas o que ela mostra.”

Esse é o ponto. Numa pintura, não se vê o modelo que posou para o quadro. O que existe, na tela, é o trabalho do autor. Suas pinceladas, as cores que escolheu, sua visão da pessoa que retratou. Soberano diante da tela, o artista pode ser fiel ao modelo, como os retratistas clássicos.

Com a fotografia, trabalho feito a partir de luz e de sombra, é o contrário. É impossível fotografar um domingo ensolarado num dia de chuva – já um pintor pode deixar esse dado de lado e trabalhar apenas com a memória. Ali, a realidade é soberana e o fotógrafo, seu subordinado.

(Fonte: Veja, 6 de maio de 1993 – ANO 26 – Nº 18 – Edição 1286 -– FOTOGRAFIA/ Por Ângela Pimenta e João Gabriel de Lima – Pág: 110/111)

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