Pela primeira vez, fazia-se no Brasil, à cobertura maciça, diária e direta de um determinado evento

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PELA PRIMEIRA VEZ NO BRASIL A COBERTURA MACIÇA, DIÁRIA E DIRETA DE UM DETERMINADO EVENTO

No dia 18 de julho de 1897, o jornal O País, do Rio de Janeiro – um dos principais da então capital federal, dirigido pelo eminente Quintino Bocaiúva – publicou um artigo em que se lia, sob o título “O monstro de Canudos”: “O monstro, ao longe, nas profundezas do sertão misterioso, escancara as guelras insaciáveis, pedindo mais gente, mais pasto de corações republicanos, um farnel mais opulento de heróis…”
A frase é longa, façamos uma pausa. Canudos é, entre outras coisas, um fenômeno de imprensa. Os principais jornais do Rio, São Paulo e de Salvador enviaram correspondentes à guerra, especialmente depois do trauma da derrota da expedição Moreira César. Pela primeira vez, fazia-se no Brasil, à cobertura maciça, diária e direta de um determinado evento. Euclides da Cunha foi enviado pelo jornal O Estado de São Paulo, e isso possibilitou-lhe o início da coleta do material para o livro que publicaria cinco anos depois. Outros jornalistas de primeira linha foram enviados à frente. O telégrafo, conquista recente no país, estendido até Monte Santo para as necessidades da ocasião, fornecia o suporte técnico ao empreendimento.
Uma grande mobilização nacional seguiu-se à derrocada da terceira expedição. A quarta haveria de ser muito maior e mais equipada, e de não ter piedade dos lesas-pátrias do sertão, incapazes de compreender as excelências do regime republicano.
A Guerra de Canudos, na qual, calcula-se, morreram 15 000 pessoas, iniciada no dia 5 de outubro de 1897, depois de quatro expedições militares, um ano de lutas intermitentes e uma resistência feroz por parte de seus defensores, o arraial erigido pelo Conselheiro nos ermos do Nordeste da Bahia foi finalmente tomado pelo Exército. Quase nada sobrava daquele santuário-cidadela, um povoado que sonhou ser Jerusalém dos confins do mundo e acabou uma Pompéia sem Vesúvio, reduzida a escombros, cadáveres, sangue e cinzas.
Exemplo único em toda a História, resistiu até o esgotamento completo.

(Fonte: Revista VEJA, 03 de Setembro de 1997 – Editora Abril – Edição 1511 –Ano30 – N.º 35 – HISTÓRIA – Por Roberto Pompeu de Toledo – Pág. 64/6584/85)

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