João Batista Vilanova Artigas, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade SP

0
Powered by Rock Convert

 

 

 

 

Artigas expressou as primeiras manifestações modernistas na arquitetura de Curitiba

João Batista Vilanova Artigas (Curitiba, 23 de junho de 1915 – São Paulo, 12 de janeiro de 1985), mestre da arquitetura brasileira, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, a FAU que ajudara a fundar, em 1948, numa pomposa e inadequada mansão paulista.

Um maluco – Magro, intenso, sempre despenteado, o curitibano João Batista Vilanova Artigas formou-se arquiteto em 1937, pela Escola Politécnica de São Paulo. “Fiz o quinto ano em 24 meses”, disse ele certa vez, lembrando os tempos difíceis em que convivia com artistas do chamado Grupo Santa Helena: “Rebolo Gonsales e Alfredo Volpi conseguiam comer um pão por noite. Eu, ao contrário, tinha de me contentar com metade”.

Passava horas desenhando modelos vivos na Escola de Belas-Artes. E os colegas de arquitetura, “acostumados com a filosofia engenheirista da época”, consideravam-no maluco. Talvez, mas um maluco importante. Foi Artigas, em 1939, ao projetar uma residência com telhado de apenas uma água, voltada para afrente, quem contestou, pela primeira vez a obsolescência dos códigos de obras brasileiros, que datavam do século XIX: “Naquele tempo”, ele explica, “as casas ficavam junto das ruas, e não se podia permitir que a chuva escorresse sobre as pessoas que passassem nas ruas”.

Ousado, paciente – Seus critérios de liberdade artística, “com os quais pretendia apenas exprimir o progresso”, invariavelmente se chocaram com as normas de seus conterrâneos. Em 1954, herético, imaginou uma fachada sem janelas. Em 1952, contido, desenhou, sem os barroquismos da arquitetura esportiva convencional, o estádio do Morumbi. Em 1960, ousado, introduziu a articulação estrutural no país, com o Santapaula Iate Clube, em São Paulo: um elemento móvel, entre a cobertura e os pilares de apoio. Em 1966, inquieto, criou a mais comentada de suas residências, a casa Elza Berquo, também em São Paulo: “Anárquica, com colunas distribuídas fora das regras tradicionais”. Pouco depois, paciente, convenceu o Banco Nacional da Habitação de que “uma casa não termina na soleira da porta”: seu projeto para o núcleo habitacional Zezinho Magalhães Prado, em Cumbica (SP), para 50 000 pessoas, contava, pela primeira vez no Brasil, com o imprescindível conjunto de serviços – comércio, diversões, hospital.

Hoje, Artigas é considerado o “condottiere” da chamada arquitetura paulista, um estilo de projetar em que a personalidade do material de construção é absolutamente respeitada. E a síntese de seu pensamento é o projeto que fez para a própria FAU, em 1962: “Trata-se de um espaço fluido”, explicou. “A pessoa não sabe se está no primeiro, segundo ou terceiro andar.” Uma descrição modesta, quase comovida, que não fala da qualidade inegável da obra. E das sementes definitivamente implantadas por seu autor na história da arte barasileira.

Vilanova Artigas foi condecorado em 1973, com o Prêmio Jean Tschumi*, da União Internacional dos Arquitetos (UIA). A arte que ele transmitiu para mais de 2 000 arquitetos brasileiros. Homenageando a conquista de Artigas, o Instituto dos Arquitetos do Brasil-SP promoveu, em sua sede, uma exposição de seus projetos.
Mesmo os frutos mais amargos podem produzir boas sementes. “Um semeador sempre acaba colhendo os frutos que ele próprio plantou.” Desde abril de 1969, Vilanova Artigas nã dá mais aulas de projeto para alunos de quinto ano da FAU. As raízes da escola, porém, ficaram irremediavelmente amarradas ao seu criador. Aflito e preocupado, informal e emotivo, variável, suave e agressivo, Artigas catalisa sua plateia com o carinho de um pai e a habilidade de um didata espontâneo, ao recebe-los na época, no bairro de Indianópolis, um amplo e alegre espaço, recebe vários estudantes de arquitetura, profissionais já formados, amigos, admiradores, para agradáveis conversas que perdem seu caminho.

* Jean Tschumi, foi um arquiteto e professor suíço da École Polytechnique Fédérale de Lausanne. O prêmio que leva agora, seu nome, vem sendo concedido, pela UIA, de três em três anos, ao profissional “que tiver dado a mais importante contribuição, no mundo, para o ensino da arquitetura”.

 

 

(Fonte: Veja, 9 de maio de 1973 –- Edição 244 -– ARTE/ Por Sílvio Lancellotti – Pág; 120)

Powered by Rock Convert
Share.