Isak Dinesen, escritora dinamarquesa Karen Blixen Finecke, aliás Pierre Andrezel, ou Isak Dinesen.

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Isak: uma identidade de várias faces

Isak Dinesen (Rungsted, Dinamarca, 17 de abril de 1885 – Rungsted, Dinamarca, 7 de setembro de 1962), legendária escritora dinamarquesa Karen Blixen Finecke, aliás Pierre Andrezel, ou ainda Isak Dinesen nas edições inglesas.

A baronesa Isak nasceu em abril de 1885 na pequena cidade marítima de Rungsted, situada entre Elsinor e Copenhague. Dedicou-se muitos anos a aventuras viris – caçando leões no Quênia, ou sobrevoando o Kilimanjaro em aviões precários.

Essa metamorfose serena, apenas refletia, de forma palpável, a secreta alquimia do estilo mágico de suas “Sete Novelas Fantásticas” (“Seven Gothic Tales”) escritas em 1934, certamente uma das obras-primas do século 20.

Os muitos prefácios dedicados aos poucos livros de Isak Dinesen esgotam-se em tentativas de aproximá-la de alguma família literária do romântico século XIX ou de outro século menos complacente e sentimental, para, me geral, concluir que seu sortilégio escapa a rótulos universitários.

GELADOS FANTASMAS – Seus livros sempre fazem essa exigência – “A Fazenda Africana” (1937), “Contos de Inverno” (1942), “Últimos Contos”, “Os Caminhos da Vingança” (1944), “Sombras na Relva” (1954). E fixam marcos a partir dos quais é possível desenhar uma trajetória incomum: colégio nos Estados Unidos, estudos de arte em Roma e em Paris (antes da I Grande Guerra), fazendeira de café e amiga da tribo dos Massais, no Quênia, de 1914 a 1931, sem falar no malogrado casamento com o barão Von Blixen, desfeito em 1921.

As sete novelas fantásticas foram o fruto de um segundo malogro: a impossibilidade de manter sua fazenda, a volta à Europa, a súbita condensação dos ardores de uma personalidade andarilha pelo reencontro com os gelados fantasmas de sua península setentrional.

Em seus livros é possível discernir um conflito fundamental: o contraste entre o aparente beletrismo aristocrático de sua fatura literária e o exótico cosmicismo antieuropeu. Precisão indispensável: Isak Dinesen não é elitista. Ela é uma aristocrata – no sentido preciso que essa palavra possui nos tempos de que seus livros europeus falam.

Suas certezas se localizam nos gestos, não na alma – e a sua é incapaz de encarar as épocas que já se foram como alguém que se detém, num museu, diante de uma vitrina que exibe modas de uma outra fase.

Sua época predileta, em “Sete Novelas Fantásticas”, cobre o período 1815-1850, e os acontecimentos narrados se situam num mundo que se fazia introspectivo, dilacerado entre o crepúsculo legitimista e o alvorecer das revoluções burguesas a vir. Como Isak mesmo diz: “O espírito romântico da época preferia as ruínas, os fantasmas, as noites de tempestades, as paixões violentas ao luxo dos salões ou a um claro sistema filosófico”.

Desfilam condes, aventureiros, cardeais, atrizes célebres, poetas malditos, que se encontram, amam, odeiam e se perdem em meio ao medo de Deus, às exigências da honra, à fidelidade às tradições, ao prazer pela vida. Mesmo o mais delirante é verossímil: o fantástico apenas lateja no interior de um mundo heráldico, inundando-o de vida ou loucura apenas na hora certa.

(Fonte: Veja, 21 de março de 1979 – Edição 550 – LITERATURA/ Por CLAUDIO BOJUNGA – Pág: 141/142)

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