Igor Kurchatov, grande cientista e físico russo e, fundador do projeto atômico soviético que ajudou a desenvolver a bomba atômica da União Soviética

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Kurchatov, físico soviético;

Liderou o trabalho com bombas atômicas e bombas H;

Os físicos Andrei Sakharov e Igor Kurchatov: espionagem e competência

Os físicos Andrei Sakharov e Igor Kurchatov: espionagem e competência

 

O “pai” da bomba atômica

Sua pesquisa para o Instituto de Energia Atômica mudou o equilíbrio do poder mundial

 

Igor Vasilyevich Kurchatov (Rússia, 12 de janeiro de 1903 – Moscou, 7 de fevereiro de 1960), grande cientista russo e fundador do projeto atômico soviético. Foi diretor científico do programa nuclear soviético.

Em 29 de agosto de 1949, a União Soviética explodiu sua bomba atômica. O sucesso da experiência colocou a URSS em pé de igualdade com os Estados Unidos e marcou o início da corrida armamentista que manteve a humanidade à beira do abismo da destruição total durante décadas.

Depois do fim da Segunda Guerra Mundial o mundo viu-se à beira de uma nova catástrofe – os aliados de ontem da União Soviética na luta contra o nazismo, que agora possuíam a bomba atômica, acalentavam seriamente planos de ataque nuclear contra a União Soviética. Moscou tinha uma única solução – criar, custasse o que custar, uma arma idêntica.

“Stalin e a direção soviética compreendiam perfeitamente que o país enfrentava um perigo tremendo e que para evitá-lo era preciso criar o mais rápido possível a bomba atômica. E esta missão passou a ser a principal na política interna da União Soviética. Foi precisamente naquela altura que Stalin escolheu Kurchatov na qualidade de dirigente científico do projeto atômico. Foi um trabalho grande – era preciso em apenas quatro anos liquidar o monopólio atômico dos EUA.

Stalin tinha pressa – e com razão, pois em 1949 os EUA já haviam estocado quase sessenta bombas -, mas apesar da competência científica e da lealdade política, os cientistas soviéticos eram vistos com desconfiança por Stalin – como do resto do mundo mais.

Somente depois da vitória do Exército Vermelho na batalha de Stalingrado, em 1943, é que o ditador autorizou Kurchatov a consultar as informações que os serviços de inteligência da URSS haviam levantado na Inglaterra e na Alemanha sobre as pesquisas atômicas.

Kurchatov teve de se deslocar ao gabinete de Viacheslav Molotov, o ministro das Relações Exteriores, para ler esses documentos. Fazer cópias era proibido. O maior temor de Stalin era que os relatos dos espiões, e as advertências de seus próprios cientistas sobre a possibilidade de fabricar uma bomba atômica, não passassem de uma manobra destinada a fazer com que a URSS jogasse fora tempo e dinheiro num projeto sem futuro.

Quando os americanos explodiram a bomba de Hiroshima, em 1945, Stalin descobriu seu erro. Tomou então duas providências. A primeira foi conceder carta branca a seus cientistas. “Peçam o que quiserem que providenciaremos”, prometeu Stalin a Kurchatov. Prometeu e cumpriu: as facilidades incluíam mordomias inimagináveis num país à beira da exaustão com o esforço de guerra.

Os principais pesquisadores e engenheiros viviam com a família em centros de pesquisa e laboratórios praticamente isolados do mundo exterior – o mais famoso é o Arzamas-16, cerca de 400 quilômetros a sudeste de Moscou -, ganhavam bons salários, tinham carro com motorista e acesso aos melhores hospitais e escolas.

A segunda providência diz respeito à personalidade paranóica do ditador: ele ordenou que os cientistas deixassem de lado a pesquisa que vinham seguindo (a bomba de urânio) e copiassem o modelo da bomba experimental de Alamogordo, de plutônio.

A construção de uma bomba atômica em quatro anos (os americanos gastaram um pouco menos, três anos e dez meses) era o tipo de tarefa que um regime como o stalinista podia encarar. O país tinha um ditador obcecado em fabricar a bomba e um Estado centralizado cuja estrutura econômica permitia a concentração de esforços numa única direção, sem medir sacrifícios – como já havia sido comprovado pelas mobilizações hercúleas dos anos 30 que resultaram no complexo siderúrgico de Magnitogorsk e na represa de Dnieper.

Todavia, o trabalho foi feito a tempo. E um dos componentes do êxito foram as aptidões científicas e organizadoras de Igor Kurchatov, disse o acadêmico Evgueni Velikhov, presidente do Centro Nacional de Pesquisas Instituto Kurchatov.

“Ele era, como se diz, um “físico de verdade”. A partir de 1943, quando foi nomeado dirigente do projeto nuclear da União Soviética, deu provas de que era organizador magnífico, conseguiu incorporar no projeto os maiores conjuntos científicos e criou uma escola. Foi Kurchatov quem lançou as bases da defesa da Rússia, em que hoje se baseiam todos os seus componentes – os submarinos atômicos, navios e quebra-gelos atômicos.

Tudo isso foi uma obra grandiosa – mas nesta obra ele sempre procedeu com o máximo de humanismo, manteve contato pessoal com quase todos os participantes, e fazia isso pessoalmente, independentemente da graduação ou posto de cada um. Quando era preciso, podia falar com Beria e com um simples assistente de pesquisa. Naquela época difícil ele criou no ramo, que estava sob a sua direção, um ambiente que permitiu à Rússia tornar-se hoje uma das maiores potências científicas do mundo.”

É difícil de resolver agora, quem deu contribuição maior para o nascimento do programa atômico da União Soviética – Kurchatov-cientista ou Kurchatov-organizador, mas o seu instrumento mais poderoso no trabalho com as pessoas sempre foram as suas qualidades humanas, opina o historiador Serguei Smirnov, mestre em ciências físicas e matemática.

“Kurchatov não era gênio mas sabia “cultivar” gênios e comandar gênios. Isto é muito difícil. Ele conseguiu preservar até o fim dos seus dias o talento de fazer amizade. O número dos seus subalternos que o encaravam sinceramente como amigo era anormalmente alto. Jamais ouvi alguma pessoa, que trabalhasse sob a direção de Kurchatov, recordar dele com hostilidade.”

Mas apesar de ser eminente cientista, Igor Kurchatov não era alheio ao sentimento de humor. O seu famoso apelido, “o Barba”, nasceu por causa de uma decisão incomum do grande físico, diz o perito militar Ilya Kramnik.

“Uma lenda reza que inicialmente Kurchatov deixou crescer a barba durante a guerra “até a vitória sobre o fascismo”, depois continuou a usá-la já depois da guerra – até a realização bem sucedida do projeto nuclear, e uma vez que o projeto se desenvolvia e não queria de forma alguma terminar, aliás, nem podia terminar, continuou a usar a barba durante todo este tempo.”

Igor Kurchatov faleceu 7 de fevereiro de 1960, com 57 anos.

(Fonte: http://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/centenario-de-kurchatov-criador-do-projeto-nuclear-russo – Por Paulo F. / Do Voz da Rússia – 13/01/2013)

(Fonte: Veja, 28 de maio de 1997 – ANO 30 – Nº 21 – Edição 1497 – HISTÓRIA/ Por Izalco Sardenberg – Pág: 46/47)

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