Fulgencio Batista, ex-presidente (1940/44) e ditador (1952/59) de Cuba, Fulgencio Batista y Zaldívar

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Permitiu a instalação do primeiro regime marxista das Américas

Fulgencio Batista (Banes, 16 de janeiro de 1901 – Marbella, 6 de agosto de 1973), político e ditador cubano, líder da Revolução dos Sargentos. Ex-presidente (1940/44) e ditador (1952/59) de Cuba, Fulgencio Batista y Zaldívar, derrubado por Fidel Castro. Ele talvez passasse pela história apenas como mais um ditador, corrupto e sanguinário como vários outros da rica galeria latino-americana. No entanto, foi seu destino cruzar caminho justamente com o furacão político que, em fins da década de 50, se abateu sobre Cuba.

Mais do que por sua ascensão, ele será lembrado por sua queda. Mais do que por suas realizações, foi pelo deteriorado estado de coisas que, em consequência da pirataria administrativa e da ineficiência de seu governo, permitiu a instalação do primeiro regime marxista das Américas. Na verdade Fulgencio Batista, garantiu lugar de algum destaque na história, fundamentalmente, por ter sido deposto por Fidel Castro.

Sua trajetória teve marcas às vezes originais. Nascido em 16 de janeiro de 1901, de pais que traziam nas veias uma mistura de sangue europeu, negro e índio, Fulgencio Batista teve uma infância e uma juventude comuns à maioria dos cubanos de sua geração. Aos treze anos, órfão da mãe, Carmela, ele cortava cana durante o dia para poder estudar à noite. Aos catorze, abandonou o pai, Belisario, para ser empregado sucessivamente numa alfaiataria, num empório, em bares, numa ferrovia e numa barbearia, até alistra-se aos vinte anos, como cavalariço, no Exército. Na tropa, Batista conseguiu dois feitos: ganhou o apelido de “Mulato Lindo” e, estudando à noite, tornou-se hábil no manejo de uma técnica que lhe abriria as portas para a caminhada rumo a mais de uma década de poder – a taquigrafia.

O “democrata” – Em 1928, o primeiro-sargento Batista adquirira a reputação de estenógrafo mais rápido do Exército, o que lhe valeria a designação como principal e quase exclusivo anotador dos julgamentos militares dos inimigos políticos do ditador de então, Geraldo Machado. Daquela posição, ao mesmo tempo que notava a caminhada do regime para o colapso, ele foi se familiarizando com os lances dos bastidores do poder. Logo se ligaria à conspiração que, em agosto de 1933, derrubou Machado. No dia 4 de setembro já liderava a “Revolução dos Sargentos” que substituiu o governo provisório de Manuel de Céspedes pelo de Ramón Grau San Martín. A revolução, dizia, visava “erradicar de Cuba o câncer da corrupção”. Promovido de sargento a coronel, recusou o cargo de ministro da Guerra, mas permaneceu como chefe efetivo do Exército daquele governo e como eminência parda dos que se seguiram.

Em 1940, já com a patente de general, renunciou ao comando do Exército para concorrer às eleições por ele mesmo convocadas após dissolver o governo de Grau San Martín e promulgar uma nova Constituição. A vitória lhe veio facilmente e ele iniciou, então, o período do “Batista democrata”. Na verdade, respeitou a Constituição. Impedido por ela de reeleger-se, indicou um candidato que, em 1944, foi derrotado pelo mesmo Grau San Martín.

Batista asilou-se então voluntariamente na Flórida, para regressar em 1948, eleger-se senador e prepararo terreno para que o que pensava seria sua volta definitiva ao poder. Em março de 1952, três meses antes das eleições em que era candidato à presidência, não teve paciência para esperar. Liderando uma revolta que durou apenas 77 minutos, deu seu segundo golpe. “Aqui estou devolta”, disse então. “Penso, sinceramente, que em Cuba acabamos definitivamente com essa história de revolução.”

O “trabalhador” – De novo instalado no poder, aos 51 anos de idade, Batista já não tinha mais nenhum resquício do bravo sargento reformado que dizia ser em outras épocas. Na verdade, ele pensava tornar-se um ditador perene de Cuba, a exemplo de seus vizinhos Trujillo, na República Dominicana, e Somoza, na Nicarágua. Sua ditadura, no fim, acabou durando só sete anos, mas foi um dos perídos mais sombrios da história de Cuba.

Durante o governo de Batista, Cuba se drogou na perigosa ilusão do progresso artificial. O povo vivia cada vez pior, mas as estatísticas ficavam cada vez melhores. O PNB passou de 2 bilhões de dólares para 2,6 bilhões, o jogo florescia, o turismo chegou ao auge. Mas a dívida pública, no memso período, aumentou de 200 milhões para 1,5 bilhão de dólares. As prisões viviam repletas de dissidentes políticos. Cerca de 20 000 opositores reais ou imaginários foram assassinados pela polícia. Enquanto o país afundava no abismo, a máquina oficial de propaganda afirmava que “Batista trabalha dezesseis horas por dia”.

Dezessete malas – Na verdade, o ditador dedicava a maior parte de seu tempo à pontuação correta de uma carta ou à correção do nó da gravata. Gastava horas seguidas ouvindo gravações de telefonemas de seus inimigos ou em almoços suntuosos, longas partidas de canastra e intermináveis sessões de filmes de terror. Somentecirculava por Havana acompanhado por três Cadillac negros, repletos de guarda-costas armados de metralhadoras. Foi uma precaução que de pouco lhe valeu. No dia 31 de dezembro de 1958, vencendo um exército nacional decadente e corrupto, os guerrilheiros chefiados por Fidel Castro entravam em Havana.

No dia 1.° do ano de 1959, Batista, carregando Dezessete malas repletas de dinheiro (calcula-se que levou de 200 a 400 milhões de dólares), voava para a República Dominicana, de onde, para alívio até mesmo do ditador Rafael Trujillo (1891-1961), logo partiu para um exílio na ilha da Madeira. Posteriormente se instalou com a segunda mulher, Marta, e seus oito filhos, numa “villa” próxima a Marbella, na costa sul da Espanha. Ao contrário dos chefes totalitários do continente, que tiveram o mesmo destino, e certamente satisfeito com os lucros obtidos até ali, jamais pensou em um dia voltar ao poder. Foi sepultado no dia 6 de agosto de 1973, com reduzido acompanhamento, no cemitério de San Isidro, em Madri, a poucos metros de distância do túmulo onde descansa Rafael Leónidas Trujillo. Batista morreu de ataque cardíaco, aos 72 anos, onde vivia exilado.

(Fonte: Veja, 15 de agosto, 1973 – Edição n.° 258 – DATAS – Pág; 16 – Memória – CUBA – Pág; 40)

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