Ernesto Pereira Lopes, deputado federal (Arena-SP), ex-presidente da Comissão de Relações Exteriores

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Ernesto Pereira Lopes (1905-1993), deputado federal (Arena-SP), ex-presidente da Comissão de Relações Exteriores e ex-presidente da Câmara dos Deputados.

Dr. ERNESTO PEREIRA LOPES
Há exemplos que, por mais que o tempo passe, ficam como uma lição de decência, hombridade, e devoção a causa pública. Dos muitos exemplos que ficaram um dos mais significativos é o do paulista médico, industrial e político Ernesto Pereira Lopes.

Nascido em São Paulo capital, em 29 de março de 1905, cursou o primário na Escola Alemã Colégio Porto Seguro e posteriormente na Escola Normal Caetano de Campos. Ingressou na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo doutorando-se em 1929 com defesa de tese “Função do sistema retículo endotelial da tuberculose pulmonar” aprovada com distinção tornando-se professor assistente do Professor Dr. Rubião Meira na cadeira de Clínica Médica.

Muito ligado à São Carlos, por laços de amizade abriu consultório na cidade, onde clinicou por alguns anos atendendo principalmente a população mais carente numa época de grande depressão na economia. Era de uma dedicação extrema com os mais desvalidos e sua grande preocupação era conseguir remédios e mesmo alimentação para seus clientes a maioria indigentes. O excesso de trabalho prejudicou sua saúde e por insistência de amigos transferiu-se para São Paulo para se cuidar estando mais próximo de seus amigos médicos e mestres Celestino Bourroul e Jairo Ramos. Trabalhava em seu consultório da Rua Marconi, 94, que para sua surpresa estava sempre lotado com muita gente de São Carlos e região. Dividia o seu tempo entre a Santa Casa de São Paulo e o consultório.

Implicava-lhe a idéia de que a medicina não criava riqueza, porém, gerava despesa para doentes e familiares. A situação do país não era nada consoladora.

Engajou-se numa empresa familiar que se valia da habilidade de seus irmãos. Fabricavam motores elétricos, num barracão alugado, em tempos de guerra quando tudo faltava e o que produziam era bem aceito. Embora pequenos se desenvolveram muito bem e foram convencidos pelo Dr. Ernesto a adquirir uma área em São Carlos, surgindo daí as “Indústrias Pereira Lopes”, na periferia da cidade no bairro de Vila Prado, na década de 40.
Esta empresa foi pioneira no Brasil na fabricação de geladeiras e de compressores herméticos para refrigeração. A empresa chegou a ter 3500 empregados diretos e a produzir 100 mil produtos em um único mês numa linha ampliada posteriormente para freezers, aparelhos de ar condicionado, lavadoras de roupas, etc.

Em 1961 o grupo inaugurou a fábrica de tratores, Companhia Brasileira de Tratores, desmembrada do grupo em 1967 e em 1968 Pereira Lopes inaugurou a “Pliacel”, em Manaus para a fabricação da primeira televisão à cores brasileira com a marca Sanyo. Em 1969, a fabricação de compressores foi transferida para a Sociedade Intercontinental de Compressores “Sicom” hoje “Tecumseh” que abriga atualmente mais de 7000 empregos diretos em São Carlos.

A preocupação de Ernesto Pereira Lopes como homem público era tal que mesmo médico e industrial entendia que só através da política poderia prestar serviços mais abrangentes à coletividade e isso o levou, desde 1935 a ocupar cargos políticos. Foi vereador, presidente da Câmara Municipal e prefeito de São Carlos.

Filiado à União Democrática Nacional, foi eleito deputado à Assembléia Constituinte Paulista em 1947. Elegeu-se deputado federal em 1950 e reeleito em várias legislaturas. Em 1971, exerceu o cargo de Presidente da Câmara Federal, tendo abandonado definitivamente a política em 1975, após ter sido eleito em todas as ocasiões em que pleiteou posições políticas.

O deputado Alcir Pimenta do MDB da Guanabara pronunciou na Câmara Federal discurso na última sessão legislativa sob a presidência de Pereira Lopes cujo trecho é o que segue:

“Nos derradeiros instantes dessa Sessão Legislativa, cumpre-me exaltar desta tribuna, a exemplaríssima atuação do deputado Ernesto Pereira Lopes a frente dessa Casa, habilitando-se assim perante a História do Parlamento Brasileiro a se tornar um dos maiores valores que já passaram pela direção desta Casa.

Torna-se necessário esse registro da Oposição, porque evidencia o nosso propósito de fazer justiça, a um homem que soube exercer, com altivez e com grandeza, uma missão espinhosa, exatamente no momento em que o Poder Legislativo em nosso país lutava firmemente por conservar-se na posição que lhe era devida.

Durante o seu profícuo mandato na Presidência dessa Casa o deputado Pereira Lopes deu as mais acabadas lições de patriotismo e isenção, havendo-se com irrepreencível compostura parlamentar a par de uma lhanesa imcomparável, o que fez dele figura admirada e querida por quantos tem a honra de militar no Congresso Nacional”.

O jornal O Estado de São Paulo de 3 de dezembro de 1972 em editorial sob o título “Pereira Lopes engrandecido” registra o que segue:
“Depois de dois anos de exercício da presidência da Câmara dos Deputados Pereira Lopes prepara-se para deixar o cargo inegavelmente engrandecido sobretudo por haver demonstrado no entender de observadores políticos que, mesmo quando escolhido pelo Sistema, um homem pode ocupar um cargo público com dignidade, sem subserviência, fiel ao seu partido, mais respeitando sempre os direitos e opiniões da minoria. Pereira Lopes demonstrou, principalmente, que a compostura e a dignidade no exercício da função não incompatibilizam ninguém com o Sistema. Pelo contrário. Granjeiam-lhe o respeito e até a admiração.De fato, ele não recebe apenas os aplausos de toda a Câmara ,do seu próprio partido a Arena, mas de toda a bancada oposicionista e dos jornalistas que por unanimidade, o elegeram “Deputado do Ano”, uma homenagem excepcional.. Sai festejado também pelo próprio Sistema pois este foi o sentido da visita que o presidente Médici lhe fez, ainda há pouco em sua fazenda em São Carlos”.

Desde 1959 na Câmara Federal, lutou pela criação da Universidade Federal de São Paulo vetada por Jânio Quadros em 1961. Conseguiu após muita luta, a instalação da Universidade Federal de São Paulo em São Carlos em 1972.

Foi um dos fundadores da União Interparlamentar Cristã que assumiu projeção internacional, reunindo parlamentares das mais diversas crenças de todo o mundo. Foi presidente honorário da Friendship Force Internacional e por sua atuação nestas entidades recebeu carinhosa homenagem do então presidente Jimmy Carter que compareceu com a sua esposa Rosalyn Carter a uma cerimônia nos salões da OEA em Washington especialmente preparada para homenagear Pereira Lopes em 1980.

Pereira Lopes, além de médico, industrial e político foi fazendeiro de café e pecuarista.
Casado com Aracy Leite Pereira Lopes, teve cinco filhos. Ernesto Pereira Lopes Filho, casado com Ely Di Piero Pereira Lopes, Francisco Pereira Lopes, casado com Doris Pereira Lopes, Luis Pereira Lopes, casado com Maria Cecília W. Pereira Lopes , Jose Carlos Pereira Lopes, casado com Sonia Maria Fehr Pereira Lopes e Regina Maria Pereira Lopes Meirelles,casada com Coriolano Morato Ferraz Meirelles.

Ernesto Pereira Lopes faleceu em São Carlos aos 31 de julho de 1993.
A historia precisa ser escrita, o testemunho precisa ser recolhido pois Ernesto Pereira Lopes foi uma bandeira, um símbolo, uma época . Lutador imenso, tinha a força do idealista mas quando vitorioso era humilde e a modéstia foi sempre um traço característico de sua personalidade.
Médico, como tal, foi o apóstolo que encontrou a suprema oportunidade de servir.

Industrial, foi pioneiro, com inestimável colaboração ao parque industrial brasileiro.
Político, foi de uma retidão e integridade ímpares atendendo a inelutável vocação de servir.
Ernesto Pereira Lopes, 1905 – 1993, médico humanitário, Industrial pioneiro, político consagrado. Viveu servindo o próximo.
Homenagem da família Damha, do grupo Encalso e dos seus admiradores

(Fonte: www.pontodearte.com.br – 29 de março de 2006) – (Fonte: Veja, 29 de agosto, 1973 – Edição n.° 260 – DATAS – Pág; 14)

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