Domingo Faustino Sarmiento, foi um destacado estadista, escritor, educador e político argentino, Presidente da Nação entre 1868 e 1874

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Domingo Faustino Sarmiento (San Juan, Argentina, 15 de fevereiro de 1811 – Assunção, Paraguai, 11 de setembro de 1888), foi um destacado estadista, escritor, educador e político argentino, Presidente da Nação entre 1868 e 1874. Durante seu mandato pôs fim à guerra contra o Paraguay, fundou as escolas Naval e Militar e deu um grande impulso ao progresso do país.

 

Considerado um dos grandes mestres da prosa castelhana no século XIX, Sarmiento foi também educador e hábil estadista.

 

Primeiro presidente civil da Argentina, contribuiu para o desenvolvimento econômico e social de seu país por meio da promoção do ensino público e do desenvolvimento do comércio, da agricultura e dos transportes.

 

Domingo Faustino Sarmiento nasceu em 14 de fevereiro de 1811 em San Juan, Argentina. Autodidata, já aos 15 anos seguia sua vocação de educador e dedicava-se ao ensino em sua cidade natal. Logo depois iniciou a carreira política como legislador provincial. Em 1831 emigrou para o Chile, onde trabalhou como professor e administrador de minas na localidade de Copiapó.

 

De volta a San Juan em 1836, continuou a exercer o magistério e dedicou-se também ao jornalismo. Fundou o jornal oposicionista El Zonda, no qual procurou esclarecer a população quanto a assuntos econômicos e políticos. Por combater a ditadura de Rosas, foi preso e condenado à morte, mas conseguiu fugir para o Chile, onde desenvolveu intensa atividade didática e fundou, em 1842, a primeira escola normal da América do Sul. Colaborou em vários periódicos, entre os quais El Mercurio, de Valparaíso, e El Progreso, de Santiago.

 

As obras dessa época, Mi defensa (1843) e Recuerdos de provincia (1850), constituem as primeiras manifestações importantes da narrativa argentina. Ainda no Chile, Sarmiento escreveu sua obra fundamental, publicada em 1845: Civilización y barbarie: vida de Juan Facundo Quiroga, y aspecto físico, costumbres y hábitos de la República Argentina, em que, sob a forma da biografia romanceada de Facundo Quiroga, tirânico caudilho do governo Rosas, o autor denuncia a ditadura e realiza um estudo sociológico de seu país na época. O livro opõe-se à cultura tradicional ruralista e defende a industrialização e a urbanização.

 

Entre 1845 e 1848, Sarmiento foi enviado pelo governo chileno à Europa e aos Estados Unidos para estudar e conhecer novos métodos educacionais. Voltou três anos depois, convencido de que o modelo americano deveria ser implantado na América Latina. Retornou à Argentina e alistou-se no exército de Justo José de Urquiza, que derrotou Rosas em 1852. Publicou uma coletânea dos artigos produzidos como correspondente de guerra no livro Diario de campaña del Ejército Grande (1852). Em Buenos Aires, entrou em conflito com o novo presidente, a quem acusava de continuar a política do ex-ditador, e retornou ao Chile, onde manteve contato com Mitre e outros refugiados.

 

 

Ao voltar à Argentina em 1855, fixou-se em Buenos Aires, então um estado separado da federação. Prosseguiu a obra educativa iniciada no Chile e assumiu, em 1860, a direção da Instrução Pública. Unificada a república argentina, foi eleito senador por San Juan. Renunciou dois anos depois e, até 1868, exerceu o cargo de ministro plenipotenciário e enviado extraordinário ao Chile, Peru e Estados Unidos. Após seis anos afastado da Argentina, foi eleito para suceder Mitre no cargo de presidente da república, graças a um acordo entre os partidários deste e de Valentín Alsina.

 

Durante seu governo, apesar da crise econômica e financeira do país e dos graves problemas políticos que teve de enfrentar, entre os quais a insurreição federalista de Entre Ríos (1870-1873), além da febre amarela que assolou Buenos Aires em 1871, Sarmiento realizou importantes obras em todos os setores. A educação e a cultura receberam notável impulso com a reforma do sistema educacional, a difusão intensiva do ensino e a criação de escolas, bibliotecas, laboratórios científicos e museus. Sarmiento fundou o observatório astronômico, a Academia de Ciências de Córdoba, o Colégio Militar e a Escola Naval.

 

 

Terminado seu mandato, continuou a exercer intensa atividade política e atuou sobretudo no campo da educação. Foi senador da república em 1875, ministro do Interior em 1879 e superintendente do Conselho Nacional de Educação em 1881. Afastou-se gradualmente da política depois da eleição de Julio Argentino Roca para a presidência, em 1880, e passou a dedicar-se inteiramente à literatura. Suas obras completas compreendem 52 volumes, em sua maioria dedicados à educação. Sarmiento colaborou em diversos periódicos e publicou Conflictos y armonías de las razas en América (1883), análise dos problemas de emigração. Em 1885 lançou o periódico El Censor e, dois anos depois, transferiu-se para o Paraguai.

 

 

Facundo, ou civilização e barbárie, de Domingo Faustino Sarmiento (1845)

 

 

Não seria exagero dizer que este é o livro que inventa a Argentina moderna. Domingo Faustino Sarmiento é membro da geração liberal que funda a literatura argentina no exílio durante o regime do caudilho Juan Manuel de Rosas (1829-52), período em que o país se divide entre unitários (liberais que favoreciam a unificação com capital em Buenos Aires) e federais (coalizão de caudilhos e líderes regionais que defendiam um regime federativo com autonomia para as províncias). Praticamente toda a historiografia, teoria política e literatura argentinas dessa época, decisiva para a construção do país, se escreveria em Santiago, em Montevidéu ou no Rio de Janeiro. Sarmiento foi seu nome mais expressivo.

 

 

Em 1845, já exilado no Chile durante o regime rosista, Sarmiento publica Facundo, ou civilização e barbárie. À primeira vista, trata-se de uma biografia de Facundo Quiroga (1788-1835), o temível caudilho federal de La Rioja e antecessor de Rosas. Mas o livro acabou sendo muito mais que uma biografia. Foi um manifesto modernizador, um tratado etnográfico, a fundação da narrativa argentina e a sua mais célebre coleção de mitos. Foi também a base ideológica para a presidência do próprio Sarmiento, que se iniciaria 23 anos depois, em 1868. Estudando-se este livro, tem-se a chave para uma série de diferenças importantes entre o Brasil e a Argentina. Todos os grandes fundadores da literatura argentina no século XIX estão diretamente vinculados à luta pelo poder estatal. Fazendo uma analogia de Sarmiento com seus equivalentes no Brasil, é como se Machado de Assis ou José de Alencar tivessem escrito o programa ideológico da nossa classe dominante e depois se tornado de chefes de Estado — algo, evidentemente, impensável na realidade oitocentista brasileira. Até hoje, na Argentina, a literatura tem um papel chave nas lutas políticas. Está organicamente ligada a elas, em contraste com o Brasil, onde as duas esferas estão separadas com muito mais nitidez.

Facundo consolida a oposição entre os termos “civilização” e “barbárie”, que atravessariam todo o pensamento latino-americano no século XIX. Composto de três eixos principais — uma descrição histórica e geográfica da Argentina, uma compilação das proezas de Facundo Quiroga e um libelo político anti-rosista —, o livro associa a civilização a um modelo de desenvolvimento inspirado principalmente nos Estados Unidos. Civilizar o país, para Sarmiento, seria povoá-lo com imigrantes brancos, desenvolvê-lo com industrialização e ferrocarris, domar a imensidão vazia dos pampas. Seu conceito de barbárie, encarnado no “selvagem inculto dos pampas”, não está isento de racismo. O programa de Sarmiento para a Argentina não é somente modernizador. Trata-se também de um projeto de branqueamento.

 

 

Mas Sarmiento também polemiza com seus companheiros liberais que querem implantar uma modernização baseada em ideias europeias sem conhecer as entranhas do país. Daí o longo texto em que Sarmiento, com uma mescla de horror e fascínio, relata as proezas de Quiroga, de quem se diz que matou uma onça com uma faca e um poncho; explica os vários tipos de gaucho que se conhecem: o gaucho mau, o cantor, o baqueano e o rastreador; e descreve a imensidão dos pampas, que Sarmiento só conheceria ao vivo, aliás, alguns anos depois de publicar o livro.

Da mesma forma como nem todos os liberais modernizadores são iguais, para Sarmiento também há uma distinção entre os bárbaros. Quiroga, o caudilho mítico, e Rosas, o déspota atual, não são idênticos. Ambos são bárbaros sanguinários, mas Sarmiento vê em Quiroga a expressão autêntica dos pampas indomados. Ele tem altivez e honra. Rosas seria a reencarnação farsesca dessa barbárie, na forma de um tirano que apunhala pelas costas. Essa dicotomia atravessaria toda a cultura argentina e seria chave para a compreensão que teve a elite liberal do país, um século depois, da figura de Perón, um herdeiro do legado caudilhesco rosista.

 

 

Todos os grandes cacoetes que encontraríamos depois em Jorge Luis Borges, o maior escritor argentino de todos os tempos — a mistura delirante entre ficção e não-ficção, o jogo com citações falsas ou adulteradas, a tensão entre o ideário europeu e a realidade americana — já estão antecipados em Sarmiento, de quem Borges foi um grande admirador. Excludente, elitista e racista, Facundo é um documento indispensável para se conhecer a história do pensamento dominante latino-americano.

Domingo Faustino Sarmiento morreu em Assunção, Paraguai, em 11 de setembro de 1888.

(Fonte: https://www.revistaforum.com.br – Biblioteca Latino-Americana / Idelber Avelar)

(Fonte: https://turismo.buenosaires.gob.ar/br)

(Fonte: https://biomania.com.br/artigo – Domingo Faustino Sarmiento)

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