Abram Szajman, fundou uma das maiores empresas de vale-refeição do país, é a voz de 600 mil empresas

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Abram Szajman, empresário nascido em São Paulo (SP), graduado pela Fundação Escola de Comércio Alvares Penteado que começou como office boy, fundou uma das maiores empresas de vale-refeição do país e é a voz de 600 mil empresas

Filho de poloneses, Abram Szajman já somava negócios na área de turismo e no setor imobiliário quando tinha 30 anos. É um gigante no comando da Fecomércio-SP

Abram Szajman parece levar ao paroxismo a máxima de Confúcio, segundo a qual a revelação do futuro sempre passa pela leitura do passado. A julgar pelo pretérito, o porvir de Szajman já está mais do que tracejado, em uma linha nada imaginária. Anotem: dentro de dois ou três meses, ele vai se embrenhar pelo interior de São Paulo, bater ponto em dezenas de eventos e reuniões da Fecomércio-SP e peregrinar entre os dirigentes de boa parte dos 154 sindicatos patronais filiados à entidade. Assinará o máximo de artigos que puder na grande imprensa e não perderá uma oportunidade de comentar publicamente uma medida macroeconômica. Quem viver verá! De quatro em quatro anos, ele faz tudo sempre igual.

É assim desde 1985, quando Szajman candidatou-se pela primeira à presidência da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo. De lá para cá, já são seis mandatos. E não há qualquer sinal de que o empresário de 73 anos esteja disposto a encerrar sua dinastia “fercomerciana”, sobretudo enquanto os burburinhos oposicionistas forem abafados pelo estrondo das urnas. E assim la nave va, levando a bordo o homem que começou a vida como office boy, fundou uma das maiores empresas de vale-refeição do país e, há quase três décadas, é a face e a voz de 600 mil empresas ou de 4% do PIB nacional.

Falar de Abram Szajman sem farta dose de referências à Fecomércio-SP é inimaginável, um crime de mutilação biográfica. Da mesma forma como circunscrever sua trajetória ao perímetro da entidade é reducionismo em estado puro – não obstante os quase 30 anos de reinado. Antes de iniciar sua saga na Federação do Comércio, Szajman já havia escrito, em papel-moeda, algumas das páginas mais importantes de sua travessia empresarial. Em meados da década de 70, ainda na casa dos 30 anos, o filho de imigrantes poloneses criado no bairro do Bom Retiro, uma espécie de Pangeia paulistana, já somava negócios na área de turismo e no setor imobiliário. Ao contrário do pai, Szaja, comunista de carteirinha, que dizia não ter o menor interesse em acumular riqueza, Abram Szajman estava faminto por mais.

Fome, muita fome era o que tinha quase metade dos brasileiros. Havia milagre, mas não havia multiplicação dos peixes. O país atravessava os anos 70 com um contingente de desnutridos equivalente a 46% da população, segundo estudo produzido à época pelo professor José Mazzon, da FIA-USP. Nas construções, garfos rangiam no fundo de marmitas e alguns operários comiam feijão com arroz como se fosse o máximo. Talvez porque fosse mesmo. Não eram poucos os trabalhadores que faziam apenas uma refeição por dia, sempre em casa. Para economizar, passavam oito ou nove horas sem se alimentar. Não raramente, um deles acabava no chão, feito um pacote flácido. O “Brasil grande” dos anos 70 desmaiava entre tapumes, ao sol do meio-dia.

Em 1976, o presidente Geisel sancionou a lei no 6.321, que mudaria para melhor a vida de milhões de brasileiros e, para muito melhor, a de um “polaco” do Bom Retiro. Estava criado o Programa de Alimentação do Trabalhador. Como forma de estimular a adoção do benefício-alimentação, o PAT estabelecia uma série de vantagens para as empresas que concedessem o auxílio a seus funcionários. A partir daquele momento, um enorme contingente de corporações sairia em busca de serviços especializados. Era necessário atender a essa demanda reprimida. Um mercado ainda incipiente no Brasil se tornaria um prato cheio. Abram Szajman estava lá para saboreá-lo.

Naquele momento, o que havia de um ainda embrionário mercado de benefício-alimentação no Brasil estava fortemente concentrado na mão de grupos internacionais. Szajman ousou fincar bandeira neste território. Em 1977, cerca de um ano após a instituição do PAT, criou aquela que se tornaria a maior empresa brasileira do setor e, de quebra, ainda teria sua marca consagrada pelo trabalhador como sinônimo de benefício-alimentação: a Vale Refeição, mais tarde reduzida à sigla VR. E como não falar da Fecomércio, ainda que Szajman não seja apenas Fecomércio? Abram Szajman, que desde o início da década já ocupava cargos diretivos na entidade, valeu-se do seu amplo arco de relacionamentos e do ótimo trânsito entre empresas de diversos segmentos, notadamente do ramo comercial, para expandir a base de clientes da VR.

Em 2008, Abram Szajman fez o melhor negócio de sua vida depois da criação da VR: a venda da VR. Amealhou R$ 1 bilhão com a transferência do controle para a francesa Sodexo. Naquele momento, após 30 anos sob o comando de seu fundador, a companhia somava quase 40 mil clientes e mais de 4,5 milhões de beneficiários. Após a venda da divisão de vales-alimentação e refeição para a companhia francesa, Szajman permaneceu à frente do Grupo VR, concentrando-se, com mais ênfase, em investimentos no mercado imobiliário. A companhia é comandada por seu filho, Claudio Szajman. Bem, “comandada” talvez seja um certo exagero. Em 2010, depois de dois anos quase que inteiramente dedicados à Fecomércio, o patriarca voltou a participar ativamente do dia a dia do Grupo VR. Quem já trabalhou diretamente com Szajman garante: com ele por perto, não há almoço grátis.

Durante os 31 anos em que pontificou no mercado de refeições conveniadas, Abram Szajman teve outros negócios emblemáticos. Dois deles culminaram em inflamáveis contenciosos, ambos envolvendo grandes marcas que não estão mais entre nós: Mappin e Banco Real. Nos anos 90, Szajman tornou-se um dos principais acionistas da loja de departamentos controlada por Cosette Alves. Considerava o negócio estratégico, mas, por razões insondáveis, recusou-se a comprar a parte da empresária, quando esta lhe ofereceu as ações, em 1996.

Poucos meses depois, Cosette negociaria o controle da rede varejista a Ricardo Mansur. Szajman, muito provavelmente após proferir alguns impropérios em ídiche, entrou com um processo na CVM contra a operação. Consta que o empresário havia feito um trato com Cosette para venderem juntos suas participações no Mappin. Szajman jamais digeriu a suposta traição. Ao menos, ganhou a disputa jurídica com Mansur, que foi obrigado a comprar suas ações na companhia.

Abram Szajman parecia ter tomado gosto pelo litígio. Que o diga o banqueiro Aloysio Faria, fundador do Real. Em 1998, Faria vendeu o controle do banco ao ABN Amro. Pôs no bolso mais de US$ 2 bilhões. Szajman forçou-o a gastar alguns destes dobrões de ouro com advogados.

Detentor, à época, de 13 das ações ordinárias do Real, o empresário entrou com um processo contra Faria por suposta prática de atos ilegais e abuso de poder. Szajman abriu fogo contra Faria.

Entre outras irregularidades, acusou-se de ter transferido para as contas do Real, de maneira indevida, créditos inadimplentes de empresas coligadas. Há quem diga que, depois deste episódio, o empresário e o banqueiro nunca mais se falaram. Não há notícias de que um dos dois tenha lamentando o silêncio.

Quem também ganhou quadro na galeria de contenciosos de Abram Szajman foi Jânio Quadros. No fim da década de 80, o empresário liderou um protesto contra os planos do então prefeito de São Paulo de elevar o valor do IPTU em 2.000%. Jânio reagiu. Teria, inclusive, ameaçado desapropriar a própria residência de Szajman. Coisas de Jânio. E coisas de Abram.

(Fonte: http://ultimosegundo.ig.com.br/os-60-mais-poderosos/abram-szajman – Os 60 mais poderosos -Por iG São Paulo – Agosto de 2013)

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