Yves Klein, foi um dos pioneiros da performance art, assim como o americano Allan Kaprow

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Arte em Revista

 

Yves Klein (Nice, 28 de abril de 1928 – 6 de junho de 1962), artista francês que ficou famoso com trabalhos monocromáticos, pode ser considerado um precursor da performance, uma das figuras mais coloridas do pós-guerra. Um aspirante a instrutor de judô que se tornou artista em 1955 de uma movimentada carreira.

O pintor flertou com as mais diversas manifestações artísticas. Da pintura à literatura, da fotografia à música, ele experimentou tudo. 

O jovem artista francês fez história com a cor vibrante que ganhou o nome de IKB (International Klein Blue). Por uma daquelas ironias do destino, todo o resto de sua obra, que inclui performances, esculturas, fotografias e vídeos, perdeu o brilho diante do azul que o tornou célebre. 

Há diversos tons de azul. E há o azul de Yves Klein. As famosas telas em azul disputam a atenção com obras em pink e ouro, além de vídeos e textos.

Na França, Yves Klein era um artista conhecido apenas pelas obras em azul. Queria mostrar as outras faces de seu trabalho, menos famosas e mais contemporâneas. Começando pelo corpo, que era central para ele porque, antes de tudo, Klein era um judoca, fazia esportes e exercícios. Há um elo entre o corpo, o físico e o imaterial no judô. O corpo era o material para suas performances. Klein foi um dos pioneiros da performance art, assim como o americano Allan Kaprow (1927-2006).

Allan Kaprow e Yves Klein começaram na mesma época, em 1959. Klein morreu em 1962, ano em que a performance se tornou realmente famosa, principalmente na Europa.

Com exceção das primeiras pinturas monocromáticas. No entanto, é comum as exposições sobre ele começarem com diferentes pinturas, em cores diversas, colocando-as em vários níveis. 

Esta, ao contrário, tem início numa obra muito importante: um livro, do qual foram feitos dez exemplares, em 1954, quando Klein começou a pintar. Ele fez esse livro com pinturas falsas. Eram imagens que gostaria de ter feito, ou imaginou fazer, mas não havia feito ainda. É um falso inventário de uma carreira que ainda não havia começado. É sua primeira obra conceitual, porque não há traços de que as pinturas tenham existido. O livro é mais interessante do que as pinturas em si.

Bem, antes de 1957, Klein pintava com cores diferentes. Mas algo que as pessoas não sabem é que ele filmava no início dos anos 50. Quando começou a fazer pinturas monocromáticas, também estava interessado em filmes e ainda escreveu sinfonias monotônicas. Em 1957, Klein decidiu que todas as cores criavam aspectos decorativos no todo e escolheu pintar apenas com o azul. Mas, rapidamente, em 1958, descobriu que o azul tinha se tornado muito fashion e passou a usar ar, fogo e outros elementos. Em 59, iniciou os trabalhos com o corpo e, ao mesmo tempo, fez arquitetura. Naqueles anos, Klein escreveu muito e, na França, esses textos só foram publicados em 2002. Alguns, ele considerava como obras de arte.

Além disso, na história da crítica, o principal crítico de sua obra é Pierre Restany, que tem uma visão muito formal de seus trabalhos, ligando-os ao azul e também ao novo realismo francês -embora Klein tenha sido contra esse movimento.

Há uma obra, que não vem de um museu e tampouco de uma coleção particular, mas sim de uma igreja. É “Ex-voto Dédie à Santa-Rita”, uma peça religiosa que Yves Klein fez, em 1961, para um monastério no sul da Itália. Ele estava muito feliz com uma retrospectiva de sua carreira, na Alemanha, e, como era católico e devoto da santa, fez o trabalho para sua igreja. Ela é feita em azul, pink e ouro em uma caixa transparente.

Uma de suas obras mais importante é sob a luz da arte contemporânea, é “Journal du Dimanche” [jornal do domingo], um falso jornal feito em novembro de 1960. É um remake de uma publicação famosa, que todos compram na França, aos domingos. Neste jornal, Yves Klein publicou textos sobre teatro, música, balé. Não sobre arte, mas sim sobre como o artista pode explorar os territórios fora do espaço de exibição. Isso foi muito radical e contemporâneo. A foto “Saut dans le Vide” [salto para a vida]foi feita para esse jornal. É uma obra incomum e não muito visual mas, em termos de conceito, é uma das obras mais importantes do século 20.

A foto, “Saut dans le Vide” -na qual Yves Klein está voando de um prédio- é considerada emblemática – É uma performance, um salto no vazio. A princípio, pensa-se que ele está voando. Depois, claro, percebe que é uma fotomontagem. Seus braços estão como os de um anjo ou de um Cristo. É muito emocionante, porque foi publicada dois anos antes de sua morte e representa muito de sua personalidade, sempre se colocando em risco, trazendo o trabalho para sua vida pessoal, trabalhando dia e noite.

Klein era um sonhador. Autodenominado herdeiro de Delacroix como colorista, ele falou em resgatar a pintura da linha (herdada do cubismo) e de sua condição geral de “janela de prisão, com linhas, contornos, formas e composição determinados pelas grades”. Ele via a cor como um campo cósmico sem limites, despertando emoções primitivas e pensamentos místicos. Seus painéis moldados pintados em azul sólido ou rosa eram fragmentos do infinito ancorados pela textura, que as cores impregnavam. As esculturas de esponja, que surgiram um dia quando ele notou que as esponjas que usava absorviam suas cores, eram como “retratos dos espectadores de meus monocromos que, ao vê-los, tendo viajado no azul de minhas pinturas, voltavam totalmente impregnados de sensibilidade, como esponjas.”

Ele também usou seixos e mapas em relevo da terra e da lua como superfícies para pintar. Ele tentou folha de ouro, em folhas sobrepostas que formavam uma grade esvoaçante. Ele também explorou mulheres nuas: Klein pintou seus corpos e os pressionou ou arrastou sobre papel ou tela, e às vezes ele borrifou tinta ao redor deles para capturar suas silhuetas. Não havia nada de erótico nisso, ele insistia, mas ele encenou performances de gala de suas modelos nuas – versões francesas de acontecimentos, suponho – que combinavam com seu interesse pelo ritual. (O Judô, como o Zen, tem sua própria coreografia ritualizada.)

Com a tinta, ele experimentou maçaricos, molhando seus modelos nus, imprimindo seus corpos no papelão, depois explodindo o papelão com fogo, marcando as áreas secas e deixando vestígios corporais como contornos fantasmagóricos.

Nenhuma das mostras pode incluir “The Void”, é claro: a notória exposição de Klein em uma vazia Galeria Iris Clert em Paris, para a abertura da qual ele distribuiu coquetéis especialmente preparados por La Coupole que fizeram os bebedores urinarem azul por uma semana. Klein disse que imaginou que a galeria branca era como suas fotos azuis, envolvendo os visitantes em campos de espaço colorido. Claramente ele também sabia contar uma piada.

Klein era cativante, subversivo e sintonizado com as ideias mais radicais de sua época. Seu legado agora é uma mistura distintamente continental de hiperelegância e provocação nobre. Suas pinturas parecem bugigangas de arregalar os olhos, requintadas ao extremo; ao mesmo tempo, eles atestam o gênio menor de um pioneiro conceitual que empurrou a experimentação material para fins imateriais. Esse era o paradoxo inerente à sua arte.

Ser particularmente lembrado de suas pinturas “Fogo” é ver como, mesmo em sua forma mais bizarra e cômica, ele poderia alcançar uma espécie de sobrenatural assombroso, que pode trazer à mente Redon. Klein é o fantasma na sala para todos os tipos de arte jovem hoje, e essas mostras devem inspirar mais olhares sobre o que ele realizou.

O artista francês Yves Klein faleceu em junho de 1962, aos 34 anos de um ataque cardíaco.

(Fonte:  http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrada – FOLHA DE S.PAULO/ ILUSTRADA/ Por ADRIANA FERREIRA SILVA DA REPORTAGEM LOCAL  – 19 de outubro de 2006)

(Crédito: https://www.nytimes.com/2005/11/25/arts – The New York Times/ ARTES/ por MICHAEL KIMMELMAN – 25 de novembro de 2005)

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