Teotônio Vilela, ex-senador e vice-presidente do PMDB. Um guerreiro da democracia.

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O adeus ao liberal

Teotônio Vilela (Viçosa, 28 de maio de 1917 – Maceió, 27 de novembro de 1983), ex-senador e vice-presidente do PMDB. Nasceu no dia 28 de maio de 1917, em Viçosa. Liberal desde a mocidade, ele enfrentou as urnas pela primeira vez em 1954, sendo eleito deputado estadual pela UDN. No final de 1963, já como vice-governador de Alagoas, aderiu ao movimento contra o governo de João Goulart. Mas quando ocupava o poder, na ausência do governador Luiz Cavalcante (1913-2002), Teotônio não hesitou em libertar presos sem culpa formada, principalmente políticos e dirigentes sindicais de oposição. Em 1966, ele foi eleito senador pela Arena, e não abandonou o liberalismo. Foi assim, por exemplo, que assinou um telegrama, junto com outros senadores, em 1968, protestando junto ao presidente Costa e Silva pela edição do AI-5. Durante o governo Ernesto Geisel, apoiou o projeto de distensão política do presidente. Depois, desencantou-se e rompeu formalmente com o governo João Babtista Figueiredo em abril de 1979, quando passou para a oposição e ajudou a fundar o PMDB.

APLAUSOS DE TODOS -– Naquele ano, Teotônio percorreu os presídios brasileiros, visitando presos políticos e fazendo propaganda da anistia. No Rio de Janeiro, enfrentou a chuva para entrar no Presídio Milton Dias Moreira. Com esses gestos, Teotônio comovia o país, mas também, às vezes, distanciava-se de sua realidade política. Tanto é assim que, depois de ser o arauto da anistia, votou contra o projeto do governo sobre o assunto, por julgá-lo tímido. Na realidade, graças a esse projeto, elaborado pelo senador Petrônio Portella, não sobrou um só preso político no Brasil. Nos últimos tempos, até dentro do PMDB Teotônio provocou incômodos, pois, ao exacerbar seu liberalismo, acabou por se alinhar com os setores mais esquerdistas do partido.

Mas a obstinação com que Teotônio enfrentou a doença, sem deixar de pensar em alternativas políticas e econômicas para o Brasil, fez com que seu esforço fosse reconhecido. Quando assistiu à despedida de José Richa, do Congresso, no início de 1983, sentado ao lado do senador Humberto Lucena, líder do PMDB, Teotônio foi aplaudido por parlamentares de todos os partidos – que podiam não concordar com suas ideias, mas gostavam do guerreiro da democracia.

Em maio de 1982, surgiu o primeiro sinal, quando a perna esquerda de Teotônio Vilela fraquejou. Os médicos então revelaram dois nódulos cancerosos no corpo do senador, um no cérebro e outro no pulmão. Depois da cirurgia, os médicos disseram a Vilela que ele deveria viver apenas mais três meses. Vilela não se rendeu, continuando a viajar pelo país, pregando a democracia e a justiça social. Nos seus últimos dias, em Maceió, teve poucos momentos de consciência, até que morreu serenamente, assistido pelo irmão, cardeal-arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, dom Avelar Brandão, que lhe deu a extrema-unção. Teotônio morreu dia 27 de novembro de 1983, aos 66 anos.

Durante a derradeira peregrinação de Teotônio, sob um sol de 35 graus, cerca de 30 000 pessoas acompanharam seu féretro, numa procissão solene que saiu da Assembleia Legislativa de Alagoas, percorreu as principais ruas de Maceió e terminou, 8 quilômetros depois, no Cemitério Parque das Flores, onde mais de 10 000 pessoas aguardavam para prestar a última homenagem ao senador. O enterro de Teotônio foi a maior demonstração de carinho popular a um político vista em Maceió. Estiveram presentes mais de 100 políticos, formando um arco que ia do governador Divaldo Suruagy, do PDS até o presidente nacional do PT, Luís Inácio Lula da Silva. Ao sintetizara personalidade do político ” Teotônio era um semeador de esperanças”, dando uma pista para explicar a presença de milhares de pessoas nas ruas de Maceió, e a unanimidade no afeto ao senador. Se o coro das homenagens foi dominante em sua morte, em vida a atuação de Teotônio muitas vezes gerou polêmica.

 

 

UM INTRANSIGENTE NA DEFESA DE SUAS CONVICÇÕES
Em seus discursos e entrevistas, Teotônio Vilela sempre se esforçou para ir direto ao centro das questões, usando um estilo oposto ao dos liberais mineiros. Aqui, algumas das suas frases mais marcantes e contundentes:

“O Brasil está à espera de um grande escritor para relatar a loucura em que vivemos, o dia-a-dia sem rumo”. (Agosto de 1982)

“Temos um Brasil velho, de ideia fixa, brigando com um Brasil jovem, de ideias infixas”. (Janeiro de 1968)

“Qualquer revolução é um feixe de varas irregulares que permite a união de forças, mas não garante a comunhão de ideias”. (Junho de 1976)

“Se a Constituição é o código de ética política de um povo, qualquer alteração do seu texto implica consulta popular ou convocação de uma Assembleia Constituinte”. (Abril de 1977)

“Ninguém se iluda com o crescimento selvagem que nos foi imposto, pois será essa própria selvageria que nos transformará em antropófagos”. (Outubro de 1978)

“Num regime fechado, quem entra na redoma do poder despede-se da nação e se entrega à hegemonia do Estado”. (Dezembro de 1978)

“Sofremos de carência generalizada – vai do feijão à Constituição”. (Junho de 1979)

“A anistia é o reencontro da nação consigo mesma”. (Agosto de 1979)

“Peço ao Congresso Nacional que promova a rebelião das consciências, antes que venha a rebelião das massas”. (Agosto de 1979)

“Sai governo e entra governo, sai ministro e entra ministro, e tudo continua ao contrário do que todos desejamos, ou seja, que entrasse a austeridade e saísse a corrupção, que entrasse a consciência democrática e saísse a consciência autoritária”. (Outubro de 1979)

“O presidente vai e diz a uma criança que fazer política é mentir. Isto não é uma aula, é um coice que ele está dando na pátria”. (Janeiro de 1983)

“A revolta é a forma mais bela de expressão. A política devia ser a arte de disciplinar a revolta.” (Junho de 1983)

 

(Fonte: Veja, 7 de dezembro de 1983 – Edição 796 – Datas – Pág; 104 -– Memória -– Pág; 100/101)

 

 

 

 

 

 

 

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