Tad Szulc, veterano repórter do jornal “The New York Times”, um dos diários de maior prestígio dos Estados Unidos

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Tad Szulc, um divulgador da oposição a Salazar

Tad Szulc (Varsóvia, Polônia, 25 de julho de 1926 – Washington, 21 de maio de 2001), jornalista polonês naturalizado norte-americano do “Times”. Ele foi correspondente internacional do The New York Times até se tornar um escritor consagrado na década de 80 com a publicação de 18 livros. Suas maiores obras foram as biografias do papa João Paulo II (João Paulo II, a biografia) e do presidente cubano Fidel Castro (Fidel, um retrato crítico). Szulc também era biólogo.

Veterano repórter do jornal “The New York Times”, um dos diários de maior prestígio dos Estados Unidos, ele noticiou com exclusividade a invasão da baía dos Porcos pelo governo norte-americano, em Cuba, em 1961. O democrata John Kennedy governava os Estados Unidos naquele ano.

Szulc foi autor de 17 livros, entre eles “João Paulo 2º -A Biografia” (1995) e “Fidel Castro -Um Retrato Crítico” (1986). Ele trabalhou no Brasil como correspondente de 1955 a 1961.

Foi um dos jornalistas que, na década de 60, mais difundiram na cena internacional a luta da oposição portuguesa ao regime de Salazar. Tad Szulc, nascido na Polônia, de onde emigrou em 1937, era cavaleiro da Legião de Honra Francesa e condecorado com a medalha de ouro Maria Moors Cabot da Universidade de Columbia, em Nova York. 

Fez biografias do Papa João Paulo II e de Fidel Castro. Era cronista do “Washington Post”. Foi a Sulzc que Kennedy perguntou no Oval Office, dez dias após tomar posse como Presidente: “What would you think if I ordered Fidel Castro to be assassinated?”[O que pensaria se eu mandasse matar Fidel Castro?] O jornalista respondeu que a morte de Fidel Castro não modificaria a política em Cuba e que não competia ao governo americano promover assassínios.

Em abril de 1961, Szulc relatou a invasão da Baía dos Porcos. Szulc foi correspondente do “New York Times” em Madri e teve uma ação profícua na corrosão dos monolitismos políticos da Península Ibérica. Em 1998 pude recolher, para a minha tese de mestrado na Universidade Complutense de Madrid, lembranças suas: “Fui impedido de entrar em Lisboa, já no aeroporto, para escrever sobre os Ballets Rose, um escândalo sexual envolvendo corrupção de menores.

Marvine Howe, a nossa correspondente em Lisboa, trabalhava sob as minhas ordens. Claro que o nosso sentimento político era contra os ditadores, Franco e Salazar.” A partir daí as questões portuguesas (e o combate da oposição) assumiram uma maior visibilidade no “New York Times”. O trabalho de Szulc inspirava especial temor ao ministro Franco Nogueira.

Foi ele quem revelou, por exemplo, que Portugal ajudava militarmente os rebeldes do Congo e do Biafra, funcionando para o efeito um escritório clandestino em Lisboa. Amiúde as investigações de Szulc crispavam também o almirante George Anderson, embaixador em Lisboa, um “hardliner” afastado por Kennedy do alto cargo de “chief of naval operations”.

Anderson disse-me, a propósito, em Washington: “Szulc era demasiado liberal, quase um comunista.” Da sua parte, Marvine Howe não se conformava em Lisboa com as proteções dispensadas pelos Estados Unidos a Salazar.

Em outubro de 1965, por exemplo, escrevia para a Casa Branca, ao cuidado de Bill Moyers, assessor de imprensa do Presidente Lyndon Johnson: “Tenho muitas coisas para dizer sobre este país que nem sempre podem ser publicadas […], penso que seria útil que o Presidente, o sr. Rusk e outros ouvissem o outro lado. Há aqui porta-vozes qualificados e posso indicar-lhes um nome ou dois.”

Vulgares eram assim os conflitos entre a ação quotidiana da embaixada, o posto da CIA em Lisboa e o fluxo informativo exponenciado por Tad Szulc e Marvine Howe. Szulc foi temido em Lisboa, mas em Madri mantinha uma relação funcional com o embaixador americano, Anigielr Biddle Hugh, um liberal. O contexto espanhol era de “aperturismo”, marcado pela lei de imprensa de Fraga Iribarne, e de esforço para granjear simpatias no sistema internacional. Daí o embaraço causado pela descoberta do cadáver de Humberto Delgado em Villa Nueva del Fresno (Abril de 1965). 

Fernando Morán, conselheiro em Lisboa, futuro ministro de Felipe González, recorda que o embaixador José Ibáñez-Martín foi lesto a comunicar a Salazar que Franco queria a investigação do caso. Szulc tornou-se amigo do embaixador português em Madri, Luís Pinto Coelho, apanhado de surpresa pela morte de Delgado: “Pinto Coelho era um homem de grande decência.” Depois, através da americana Katharine Talbot, uma fotógrafa e modelo, segunda mulher do embaixador, a amizade estreitou-se.

Pinto Coelho surpreendia por isso Franco Nogueira ao declarar-lhe: “Como sabe, pelo menos em alguns aspectos, o Tad Szulc não é pessoa fácil. Mas eu dou-me bem com ele, sou amigo dele e creio que ele é meu amigo.” É incalculável a influência política exercida nestes anos pelo correspondente em Madri do maior jornal do mundo. Tad Szulc foi um jornalista protagonista dos embates da História.

 

Tad Szulc morreu em 21 de maio de 2001, na casa dele, na cidade de Washington, aos 74 anos. Ele sofria de câncer.

(Fonte: http://www.terra.com.br/istoe-temp/1652/1652datas – DATAS – EDIÇÃO Nº 1652 – 25 de maio de 2001) © Copyright 1999/2001 Editora Três

(Fonte: http://www.publico.pt/media/jornal/tad-szulc-um-divulgador-da-oposicao-a-salazar-158665 – JOSÉ FREIRE ANTUNES* – 10/06/2001) *historiador, mestre em Relações Internacionais pela Universidade Complutense de Madri

(Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2305200115 – FOLHA DE S.PAULO – COTIDIANO – DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS – 23 de maio de 2001)

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