Rubem Fonseca, escritor que renovou a literatura brasileira no século 20
‘Feliz Ano Novo’, ‘O Cobrador’ e ‘O caso Morel’ estão entre os destaques de sua obra.
Rubem Fonseca escreveu primeiro livro aos 17 anos e foi um dos maiores autores brasileiros
José Rubem Fonseca (Juiz de Fora, 11 de maio de 1925 — Botafogo, na Zona Sul do Rio de Janeiro, 15 de abril de 2020), contista, romancista e roteirista que renovou a literatura brasileira no século 20 com uma linguagem coloquial e direta, com 77 anos de carreira e mais de 30 obras, como ‘Lucia McCartney’ (1967), ‘Feliz ano novo (1975) e ‘Agosto’ (1990), autor ganhou homenagens como o Prêmio Camões em 2003.
Rubem Fonseca foi um dos mais aclamados escritores do Brasil, ele influenciou gerações de escritores e leitores, com estilo direto e seco, autor lançou livros clássicos, como os volumes de contos ‘Lucia McCartney’ e ‘Feliz ano novo’, além dos romances ‘O caso Morel’ e ‘Agosto’.
Autor de livros como Feliz Ano Novo (1975) e Agosto (1990), o cronista de Juiz de Fora, Minas Gerais, deixou uma ampla obra que retratou o melhor e o pior do país – um estilo cru e telegráfico que chegou a ser apelidado de “realismo feroz”. Formado em direito, trabalhou como policial nos anos 1950 e passou a se aventurar na literatura na década seguinte, acompanhando uma renovação da literatura nacional, aliado à sua experiência com o cotidiano das ruas e do crime.
Seus primeiros escritos são contos sociais, produção marcada por Os Prisioneiros (1963) e A Coleira do Cão (1965). O primeiro romance veio em 1973, O Caso Morel, e o segundo, A Grande Arte (1983), lhe rendeu o prêmio Jabuti. Além da produção literária, Fonseca também assinou roteiros adaptados de suas obras. Pelo filme Stelinha (1990), recebeu o Kikito de Ouro no Festival de Gramado. As histórias de seu personagem mais conhecido, o detetive Mandrake, foram transformadas em série pela HBO, exibida entre 2005 e 2007.
Dentre seus principais livros, estão obras-primas de nossa literatura policial e clássicos como os volumes de contos “Lucia McCartney” (1967), “Feliz ano novo” (1975) e “O cobrador” (1979), além dos romances “O caso Morel” (1973), “A grande arte” (1983) , “Bufo & Spallanzani” (1985) e “Agosto” (1990). Alguns foram adaptados para cinema ou para a TV.
Marcado por um estilo urbano, violento, seco, erótico, repleto de palavrões e bem-humorado, o estilo do escritor foi classificado como “brutalista” pelo crítico Alfredo Bosi. A narrativa era ao mesmo tempo ágil e sofisticada, em texto sem afetação nem artifícios em excesso.
Dentre os principais prêmios do autor, estão o Camões (principal da literatura em língua portuguesa), em 2003, e o Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras (ABL), em 2015 – ambos foram concedidos pelo conjunto da obra.
Na época em que anunciou o Machado de Assis, a ABL disse que o autor “consagrou-se por sua narrativa nervosa e ágil, ao mesmo tempo clássica e moderna, entre o realismo e o policial, revelando a violência urbana brasileira, sem perder o olhar sensível para a tragédia humana a ela subjacente, a solidão das grandes cidades ou para os matizes do erotismo”.
“Seu estilo contido, irônico e cortante, ao mesmo tempo denota um leitor dos clássicos e um ouvido atento ao falar das ruas em seu tempo. Exerceu profunda influência em nossa cena literária, inaugurando a tendência que Alfredo Bosi chama de ‘brutalista'”, continuou o comunicado.
Na juventude, Rubem Fonseca trabalhou como comissário de polícia, ocupação que influenciou diversas de suas histórias, muitas das quais com retrato do cotidiano e de personagens do submundo.
Em “Grande arte”, seu segundo romance, ele colocou como protagonista o advogado e detetive Mandrake, que retornaria em outros títulos. O livro foi adaptado para o cinema num filme de mesmo nome dirigido por Walter Salles (“Central do Brasil”).
O personagem também inspirou a série “Mandrake” (2005-2007), estrelada por Marcos Palmeira.
Outra adaptação é a minissérie
“Agosto” (1993), exibida pela Globo
(veja lista de obras e adaptações abaixo). A ficção histórica passa-se no Rio de 1954, à época capital da República – a crise da era Vargas e a morte de Getúlio são surgem na trama.
Nascido em Juiz de Fora (MG) em 11 de maio de 1925, José Rubem Fonseca mudou-se para o Rio aos 8 anos de idade.
Em 1948, formou-se em Direito Forma-se na Faculdade de Direito da Universidade do Brasil. Em 1952, passou a trabalhar como comissário no no 16º Distrito Policial, em São Cristóvão, no Rio. Ficou na polícia até 1954.
Na década seguinte, prestou serviços para o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (Ipes), vinculado ao golpe militar de 1964. Mais tarde, ele negou que tivesse apoiado o regime.
Em 2015, ao receber o Prêmio Machado de Assis, pelo conjunto da obra, Rubem Fonseca citou seu livro de estreia, escrito aos 17 anos.
Ele também falou sobre como a obra chocou o primeiro editor a quem ela foi oferecida. O “problema” teria sido, justamente, a presença de palavrões no texto.
Questionado sobre o fato de Machado de Assis e Eça de Queiroz, algumas de suas inspirações, não usarem palavrões em seus textos, Fonseca afirmou que as palavras não devem ser discriminadas.
“Eu escrevi 30 livros. Todos cheios de palavras obscenas. Nós, escritores, não podemos discriminar as palavras. Não tem sentido um escritor dizer: ‘Eu não posso usar isso’. A não ser que você escreva um livro infantil. Toda palavra tem que ser usada”, disse.
Veja, abaixo, os principais livros de Rubem Fonseca
“Os prisioneiros” (1963)
- “A coleira do cão” (1965)
“Feliz Ano Novo” (1975)
- “O buraco na parede” (1995)
- “A Confraria dos espadas (1998)
- “Secreções, excreções e desatinos” (2001)
- “Pequenas criaturas” (2002)
- “Mandrake, a Bíblia e a Bengala” (2005)
- “Ela e outras mulheres” (2006)
- “O romance morreu” (2007)
“Axilas e outras histórias indecorosas” (2011)
- “Histórias de amor” (2012)
“Amálgama” (2013)
“O caso Morel” (1973)
- “Bufo & Spallanzani” (1985)
- “Vastas emoções e pensamentos imperfeitos” (1988)
- “O selvagem da ópera” (1994)
- “Diário de um fescenino” (2003)
“E do meio do mundo prostituto só amores guardei ao meu charuto” (1997)
- “O coente Molière” (2000)
- “O homem de fevereiro ou março” (1973)
- “Romance negro e outras histórias” (1992)
- “64 Contos de Rubem Fonseca” (2004)
- “O melhor de Rubem Fonseca (2015)
Veja, abaixo, as principais adaptações da obra de Rubem Fonseca:
- “Agosto” (1993) – minissérie
- “Mandrake” (2005-2007) – série
- “Lúcia McCartney, uma garota de programa” (1971)
- “Buffo & Spallanzani” (2001)
Veja, abaixo, os principais prêmios recebidos por Rubem Fonseca:
O Jabuti é atribuído pela Câmara Brasileira do Livro e é tido como um dos mais tradicionais da literatura brasileira.
- Em 1970, por “Lucia McCartney”
- Em 1984, por “A grande arte”
- Em 1996, por “O buraco na parede”
- Em 2002, por “Secreções, excreções e desatinos”
- Em 2003, por “Pequenas criaturas”
Instituído em 1988, o Prêmio Camões de Literatura tem o objetivo de reconhecer um autor de língua portuguesa que tenha “contribuído para o enriquecimento do patrimônio literário e cultural” do idioma através de seu conjunto da obra, segundo a organização.
Entregue pelos governos de Brasil e Portugal, é o principal da literatura em língua portuguesa. Os vencedores a cada edição são escolhidos dentre autores da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP.) O júri tem representantes do Brasil, de Portugal e de países africanos de língua oficial portuguesa.
Prêmio Machado de Assis 2015
O Prêmio Machado de Assis foi criado pela Academia Brasileira de Letras em 1941. Já teve como ganhadores Mario Quintana, Carlos Heitor Cony, Ferreira Gullar e Guimarães Rosa.
Rubem Fonseca faleceu no Rio de Janeiro, 15 de abril de 2020, aos 94 anos. Rubem Fonseca sofreu um infarto e foi levado ao Hospital Samaritano, em Botafogo, na Zona Sul, mas não resistiu.
Rubem Fonseca era viúvo de Théa Mauad, que morreu em 1997 e com quem teve três filhos: a jornalista e escritora Bia Corrêa do Lago, o cineasta José Henrique Fonseca e José Antônio.
Recluso e avesso a eventos públicos e entrevistas, o celebrado Rubem Fonseca era conhecido por ser, na intimidade, uma pessoa divertida, como lembrou o jornalista e escritor Zuenir Ventura, amigo do autor havia mais de 50 anos, em entrevista à GloboNews na quarta, em 15 de abril.
“Era uma pessoa admirável, divertida e engraçada, no plano pessoal. Eu estava entre o choro e o riso, me lembrando das histórias do Zé Rubem. Acho que a literatura brasileira perdeu seu maior representante – a literatura urbana, policial, do subúrbio do Rio”, lamentou Zuenir Ventura.
Também à GloboNews, a escritora Nélida Piñon lembrou que Rubem Fonseca era também respeitoso.
“A perda de Rubem deixa um vazio imenso no Brasil”, afirmou Nélida Piñon. “Trazia no bojo de seu texto uma grande cultura (…), às vezes até através de uma banalidade carioca.”
(Fonte: https://veja.abril.com.br/entretenimento – ENTRETENIMENTO / Por Raquel Carneiro – 16 Apr 2020)
(Fonte: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2020/04/15 – RIO DE JANEIRO / NOTÍCIA / Por Cauê Muraro, G1 Rio – 15/04/2020)