Roberto Freire, o terapeuta anarquista. Autor de 25 livros, escreveu para teatro, cinema e televisão

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Morre Roberto Freire, o terapeuta anarquista
O escritor e terapeuta Roberto Freire morreu na noite desta sexta, 23, em São Paulo, aos 81 anos. O corpo foi cremado na Vila Alpina na tarde deste sábado. Em carta, Freire pediu que não fossem realizadas cerimônias fúnebres. A família não divulgou a causa da morte.

Autor de 25 livros, Roberto Freire também escreveu para teatro, cinema e televisão. Entre suas obras mais conhecidas estão “Sem Tesão Não Há Solução”, “Coiote” e “Cleo e Daniel”, que ganhou versão para o cinema em 1970, com Sônia Braga, dirigida pelo autor. Na TV, escreveu para os programas “A Grande Família” e “TV Mulher”.

Em 2003, então aos 77 anos, Roberto Freire lançou a autobiografia “Eu É um Outro”.

Roberto Freire foi o criador da somaterapia, terapia corporal baseada nas teorias psicanalíticas do austríaco Wilhelm Reich e de conceitos anarquistas. Freire se apresentava como “anarquista, escritor e terapeuta”.

Sobre ele, leia o que Petrônio Souto anotou, depois de ler entrevista publicada em junho de 2005, quando Roberto Freire já estava bastante doente:
O terapeuta e escritor Roberto Freire vive hoje uma “solidão sem mágoa”, isto é, vive “perfeitamente sozinho” em uma Casa de Repouso na zona rural de Cotia, interior de São Paulo. Ele concedeu entrevista exclusiva a Maurício Reimberg da Revista CULT (Ano 8, nº 92), da qual retirei alguns trechos:
“Freire conta ter alcançado uma conclusão a respeito de um caminho para se chegar à liberdade, após não conseguir experimentá-la em uma relação amorosa. Fala do fracasso na tentativa de construir algo livre dentro do amor, por estar permeado de “machismos”, de amigos ou irmãos, por todos os lados.
“—Então é possível viver a liberdade individual dentro do atual modelo de sociedade?
“—A única solução é a marginalização, mas no sentido positivo. Para poder ser livre, você tem que ser um marginal criativo.
“—Isso não pode se tornar uma fonte de angústia?
“ –Se você fica marginal, seja no que for, subentende-se uma angústia, porque você não está com os benefícios nem com as vantagens que os outros possuem. Contudo, se consegue ver o tipo de atuação humana excepcional, passa a ser respeitado de qualquer maneira.”
Mais adiante:
Para Roberto Freire, a proximidade da morte não causa espanto. “Às vezes eu penso em morrer. A gente devia ter o direito de morrer na hora que quisesse. Não me mataria agora. Tenho que ver meus filhos, netos, amigos e dar esta entrevista… Vou morrer aqui (apontando para a cama, do lado direito à poltrona). Vai ser assim: vou fazer um escândalo – ‘Estou morrendo, preciso de ajuda!’ –ou eles vão me acordar de manhã cedo e já estou embarcado. Não dou a menor bola…
Em seguida, uma pausa. Balança a cabeça, mão na testa: “Tem uma frase minha para esta ocasião, diz assim: ‘É o amor, e não a vida, o contrário da morte’.”
Frases colhidas da entrevista:
O problema do ser humano é a forma como ele organiza a sociedade construída pelo próprio homem e como vive dentro dela. Portanto, seriam os conflitos da vida social que determinam a estabilidade emocional, ou não.
A radicalidade passou a ser a ética. Se me indignar, é porque estou vivo, ainda não me entreguei. Sou um marginal, está certo, mas estou berrando ainda, não estou me submetendo.
Não são os críticos literários os que vão aproveitar a minha obra, e sim os políticos, os psicólogos e os filósofos. Vou ser muito útil no desenvolvimento do anarquismo.
Opinião do editor que está cuidado da reedição dos livros de RF: “Diante da onda conservadora dos anos 1990 em diante, Roberto Freire deixou de interessar aos rebeldes circunstanciais e a uma nova geração, preponderantemente institucional, conservadora e burocrática. Para ele, Freire “precisa ser redescoberto pelos jovens, mas não por burocratazinhos teimosos por tempo determinado”.

(Fonte: cemreis.com.br – Domingo , 25 de Maio de 2008)

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