Raymond Queneau, romancista e figura literária francesa
Raymond Queneau (nasceu em Le Havre, França, em 21 de fevereiro de 1903 — faleceu em Paris, em 25 de outubro de 1976), foi escritor, poeta, ensaísta, humorista, crítico literário e argumentista francês, uma das figuras literárias mais influentes da França, que adquiriu fama internacional com seu romance “Zazie dans le Metro”.
Nascido em Le Havre, o Sr. Queneau — começou a escrever ainda estudante. Tendo se mudado para Paris para estudar filosofia no início da década de 1920 — e depois matemática, teologia e psicanálise —, ele se juntou ao movimento surrealista de poetas e artistas em torno de André Breton. Ganhando a vida sucessivamente como bancário, caixeiro-viajante, professor, jornalista, revisor e tradutor, publicou seu primeiro romance em 1933.
“La Chiendent” — “Couch-Grass” — foi um sucesso instantâneo de crítica e público, tanto pelo tema quanto pelo estilo. Como nos outros vinte romances que se seguiram, o tema do Sr. Queneau eram pequenas coisas acontecendo com pessoas comuns.
Estilo bastante inovador
O estilo era algo bastante inovador na literatura francesa contemporânea. Assim como seu colega escritor Louis-Ferdinand Céline, o Sr. Queneau ousou introduzir em uma obra literária a linguagem coloquial falada pelo povo, desconsiderando a sintaxe e a gramática prescritas pela academia.
Num verdadeiro sacrilégio literário, o Sr. Queneau às vezes ia ainda mais longe, escrevendo as palavras como elas são pronunciadas e não como o dicionário. Ele se safou.
Cinco anos após aquele primeiro romance, o Sr. Queneau recebeu a distinção da principal editora francesa, a Libraire Gallimard, que o tornou um de seus leitores. Em três anos, ele se tornou o principal editor da Gallimard.
Mas essa função, de considerável poder dentro do establishment literário francês, nunca impediu o Sr. Queneau de escrever. Ele publicou outro romance de sucesso, “Pierrot Mon Ami”, em 1942, e posteriormente meia dúzia de volumes de peças de poesia, canções como “Si tu t’imagines”, popularizada por Juliette Greco no final dos anos 40, bem como diálogos para filmes, como o de “Monsieur Rioois”, com Gérard Philipp (1922 — 1959). Ele também realizou vários documentários, incluindo “ChampsElvsés”.
Anedota irrelevante
Talvez sua obra mais inusitada tenha sido “Exercices de Style”, de 1947, em que o Sr. Queneau contou a mesma anedota irrelevante de 99 maneiras e estados de espírito diferentes, com um efeito impressionante. Essa obra levou à sua eleição para o mais alto júri literário da França, a Academia Goncourt.
“Zazie” foi lançado em 1959, contando a história de uma garotinha de língua afiada que frequentemente usava palavrões ao comentar o que via durante suas peregrinações por uma Paris decadente. Louis Malle transformou “Zazie” em um filme de sucesso.
O último trabalho do escritor, um ensaio, foi publicado no ano passado com o título “Morale Elémentaire”.
O Sr. Queneau, um homem de erudição inspiradora que abrange desde lógica até geofísica, zoologia e música, foi responsável pela ambiciosa enciclopédia Gallimard de ciências e artes até sua incapacidade em 1975.
Um dos fundadores do movimento surrealista na década de 20, caracterizou-se também como renovador da linguagem literária e da ortografia francesas. Entre os vários livros que escreveu, o mais conhecido é “Zazie no Metrô”, de 1959, posteriormente levado ao cinema.
Filósofo de formação, ex-integrante do movimento surrealista e obcecado por jogos matemáticos, nascido na cidade portuária de Havre, em fevereiro de 1903, em meio a uma família simples, que mantinha um armarinho para sobreviver, Queneau teve uma vida movimentada.
Instalando-se em Paris já no início da década de 20 para estudar filosofia na Sorbonne, participou ativamente do grupo surrealista. Por essa época, andava incomodado com a distância entre o francês falado e o escrito. Queneau criou então o “neofrancês”, tentativa de unir os registros culto e coloquial.
Era um projeto acalentado também pelo romancista Louis-Ferdinand Céline (1894—1961), cujo livro Viagem ao Fim da Noite embaçou um pouco o lançamento do primeiro romance de Queneau, Le Chiendent, de 1933.
Aos poucos, porém, e por causa de sua obra-prima, o autor de Exercícios de Estilo, livro que, publicado em 1947, tendo como pedra de toque o humor, vai se impondo no cenário francês. Em 1958, lançou Zazie no Metrô, filmado em 1960 por Louis Malle (1932—1995). Nesse ano, Queneau inspirou a criação do Grupo Oulipo, interessado em experiências matemático-literárias.
Um dos expoentes do grupo foi Georges Perec (1936—1982), autor de A Vida, Modo de Usar, um maravilhoso romance quebra-cabeça. Fora da França, o Grupo Oulipo encontrou em Italo Calvino (1923-1985), italiano de origem cubana, um de seus maiores seguidores e entusiastas.
Seu romance O Castelo dos Destinos Cruzados, inteiramente montado a partir de jogo de tarô, é um exemplo dessa influência. Isso para não falar que Calvino incluiu um vigoroso ensaio sobre Queneau num livro que, não por acaso, chamou de “Por Que Ler os Clássicos” .
Em Exercícios de Estilo, o francês Raymond Queneau conta o mesmo episódio de 99 maneiras diferentes. A brincadeira começou num dia perdido dos anos 30, quando o escritor pôs uma música do alemão Johann Sebastian Bach (1685—1750) para tocar na vitrola de seu apartamento, em Paris.
Nela, Bach tecia, em torno de um tema bem simples, uma série de variações, Queneau teve a ideia de sua vida: por que não fazer na literatura aquilo que Bach fizera naquela música? Ou seja, contar a mesma história de inúmeras maneiras diferentes? No início dos anos 40, Queneau começou a colocar em prática a ideia. Estava nascendo Exercícios de Estilo, jogo literário, proposto pelo livro em termos de estilos literários pode ser traduzido para o palco em termos de “gêneros teatrais”, o livro é daqueles que prendem da primeira à última das 99 variações.
Raymond Queneau faleceu em 25 de outubro de 1976, aos 73 anos, em Paris.
O Sr. Queneau, um homem robusto de cabelos cacheados e óculos grossos, deixa sua esposa, a ex-Jeanine Kahn, e um filho, Jean‐Marie.
Em uma homenagem, o Le Monde descreveu o Sr. Queneau como “um filósofo escondido sob a ficção; um metafísico disfarçando sua ternura; um estudioso da linguagem aplicando sua experiência a textos de humor irresistível”.
(Fonte: Revista Veja, 3 de novembro de 1976 — Edição 426 — DATAS – Pág; 73)
(Fonte: Revista Veja, 8 de novembro de 1995 — ANO 28 – Nº 45 — Edição 1 417 — LIVROS/ Por Gabriel Villela — Pág: 150/151)
(Fonte: www.editora.cosacnaify.com.br/Autor/1123/Raymond-Queneau)
(Direitos autorais reservados: https://www.nytimes.com/1976/10/26/archives — New York Times/ ARQUIVOS/ Arquivos do New York Times – PARIS, 25 de outubro — Especial para o The New York Times – 26 de outubro de 1976)
- Raymond Queneau, é autor do livro Zazie no Metrô, de 1959.