Rainer Werner Fassbinder, diretor de cinema alemão. Criador de um cinema antiautoritário

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Fassbinder: aprendiz de Buñuel e Godard, criador de um cinema antiautoritário

Cineasta primoroso, homem atormentado, diretor de Querelle e de grandes produções na sua carreira

 

rainer werner fassbinder

Rainer Werner Fassbinder, cineasta primoroso, homem atormentado, diretor de Querelle e de grandes produções na sua carreira (Foto: Pinterest)

 

R. W. Fassbinder (Bad Wörishofen, 31 de maio de 1946 – Munique, 10 de junho de 1982), diretor de cinema alemão Rainer Werner. Mas também Trabalhou como ator de cinema e teatro. Nasceu no dia 31 de maio, em Bad Wörishofen, uma cidade da Baviera. Em dezessete anos de carreira, Fassbinder fizera nada menos de 41 filmes – o último, Querelle, baseado numa novela de Jean Genet e estrelado por Jeanne Moreau, estava com estreia marcada para o final de 1982. É verdade que tamanha quantidade nem sempre encontrou qualidade equivalente.

Em Lili Marlene, por exemplo, sua produção mais cara, a crítica alemã foi unânime em apontar uma visão adocicada demais sobre a vida e a arte sob o nazismo. Apesar disso, com filmes como O Casamento de Maria Braun e Encruzilhada das Bestas Humanas, os únicos exibidos comercialmente no Brasil, ou Veronika Voss, com o qual venceu o último Festival de Berlim, Fassbinder conquistou um merecido prestígio ao lado de outros cineastas que construíram o “Novo Cinema Alemão” a partir dos anos 70, como Wim Venders e Werner Herzog.

A vida do cineasta alemão não teve nada de invejável. Consumido pelo álcool e pelas drogas, às voltas com o preconceito por sua opção pelo homossexualismo, Fassbinder vivia mergulhado em crises profundas, até a overdose que lhe tirou a vida em junho de 1982, aos 37 anos e 43 filmes – esses sim, invejáveis.

Herdeiro do expressionismo de Fritz Lang, diretor de M, o Vampiro de Düsseldorf, Fassbinder também se inspirava em mestres mais contemporâneos. Do espanhol Luis Buñuel, extraiu o gosto pela fantasia como um caminho indispensável para conhecer a realidade. “Quanto mais fantásticas, mais verdadeiras são as coisas”, costumava dizer. Com o francês Jean-Luc Godard aprendeu a fazer um cinema provocante, onde usava o melodrama, a ironia e até alguns elementos de ópera para romper o sentimental realismo hollywoodiano. “A encenação deve, sempre, ser feita de uma forma que permita o distanciamento e, consequentemente, a reflexão do expectador.”

Inquieto sobrevivente das barricadas estudantis que, no final dos anos 60, se espalharam pelas grandes cidades da Europa, em 1967 Fassbinder criaria o seu antiteatro, em Munique, dando nova forma a algumas peças clássicas. “O mais importante é criar a doença no interior dessas velhas instituições”, afirmava, aprendiz de um espírito antiautoritário que nunca abandonou. Autor de quase duas dezenas de peças teatrais, nunca escondeu sua própria obsessão: as relações entre o sentimento das pessoas, o poder dos governos e o dinheiro na vida das sociedades. Talvez fosse esta sua maior virtude: produzir poéticas variações em torno do assunto que é, afinal, o drama dos tempos atuais.

Para os amigos Rainer Werner, era um homem capaz de tudo – no cinema, no teatro ou em qualquer lugar. Assim, quando ele foi encontrado morto em seu apartamento em Munique, dia 10 de junho de 1982, aos 37 anos, com o aparelho de vídeo-cassete ligado, diversas garrafas de uísque e alguns tubos vazios de soníferos em volta, num trágico acidente resultante de uma mistura fatal de álcool e cocaína, que Fassbinder consumia em largas doses. Morto Fassbinder, o cinema mundial perdeu um de seus diretores mais fecundos e brilhantes.

No final chega-se à conclusão de um dos ex-companheiros de Fassbinder: “A paixão real de Rainer era mesmo o cinema”. “O diretor sempre esteve mais à vontade na arte do que na vida.”

(Fonte: Veja, 16 de junho, 1982 – Edição 719 – Datas – Pág; 136)

(Fonte: Veja, 10 de junho, 1992 – ANO 25 – Nº 24 – Edição 1238 – LIVROS – Pág: 91)

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