Primeiro time feminino brasileiro de futebol

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Primeiro time feminino brasileiro é reativado em Minas

Vinte e poucos peladeiros de fim de semana observam as cinco alegres senhoras posando para fotos nas traves de um acanhado estádio na cidade de Araguari (MG), a 671 km de Belo Horizonte.

Elas são as pioneiras da bola no Brasil. As precursoras de uma modalidade hoje comandada por Marta, a melhor do planeta, e que vai buscar a Copa do Mundo na Alemanha a partir do dia 29.

Após 52 anos, o Araguari Atlético Clube voltará a ter um time feminino de futebol.

O primeiro que ele montou, entre 1958 e 1959, durou dez meses e apresentou ao país, cercado de assombro e sucesso, 22 meninas que, audaciosamente, deixaram o machismo de lado para mostrar as pernas e jogar bola.

Hoje senhoras entre 60 e 70 anos, as primeiras jogadoras de futebol do Brasil já receberam homenagens em Minas. Agora buscam o reconhecimento da rainha Marta e do governo brasileiro.

GLAMOUR E CHUTEIRAS

Araguari, 1958. A cidade via um de seus tradicionais colégios passar por dificuldades financeiras.

A escola pediu ao diretor do Araguari, um dos dois times da cidade, para fazer um amistoso e arrecadar fundos.

“Meu pai pensou em reunir as meninas da cidade e fazer uma partida diferente”, diz a historiadora Teresa Cristina Montes Cunha, filha de Ney Montes, então diretor da agremiação mineira.

A historiadora, responsável por levantamento do episódio, diz que, até então, no Brasil, só “apresentações circenses” e jogos de salão citavam mulheres no futebol.

Escolas e rádios divulgaram o que seria a primeira peneira feminina do país que, meses antes, havia vencido sua primeira Copa do Mundo, na Suécia. Quarenta meninas, entre 12 e 18 anos, apresentaram-se, e 22 foram selecionadas para o time.

Durante dois meses, as moças, todas estudantes e bem-nascidas, atraíram a atenção da cidade.

“Araguari inteira soube que havia um time feminino sendo formado. Os treinos eram lotados”, conta Heloísa Marques, 64, ex-meia e professora aposentada.

Como não havia equipes adversárias, 11 moças jogaram com a camisa do Araguari e 11 vestiram o uniforme do rival Fluminense-MG.

A primeira partida, em dezembro, foi um sucesso. Depois surgiram convites das cidades da região para jogos das “pioneiras da bola”.

A revista “O Cruzeiro” fez uma extensa reportagem. “Glamour usa chuteiras” era o título da história. O time virou assunto nacional.

“Parece curioso, mas a verdade é que um bom número de jovens, e jovens formosas, pratica esse esporte em Araguari. Futebol autêntico”, dizia a reportagem.

Em nove meses, elas arrastaram pequenas multidões em várias cidades do interior de Minas, chegaram a Belo Horizonte, Goiânia e Salvador, onde desfilaram em carro aberto pela cidade.

Foram cerca de dez partidas. Até que o sucesso chamou a atenção da sociedade e da igreja de Minas: vieram as pressões para vetar o jogo.

Colégios de freiras pressionaram contra suas alunas boleiras. Em Tupaciguara, ameaçaram atear fogo no ônibus caso as jogadoras entrassem na cidade.

Quando veio convite para jogar no México, apareceu a proibição do extinto CND (Conselho Nacional de Desportos), em 1959, que resgatou antigo decreto-lei que citava “esportes incompatíveis com as condições da natureza das mulheres”.

Era o fim do futebol feminino no país, que só voltaria a reaparecer nos anos 70.

Neste ano, o Araguari reativou seu futebol e formará equipe feminina. As veteranas foram homenageadas pelo município. Aguardam agora resposta do governo federal para ver o time reconhecido como pioneiro. E sonham encontrar Marta.

“Se o Brasil for campeão, terá um dedinho nosso”,afirma Zalfa Nader, 66, a primeira capitã do Brasil.
(Fonte: www1.folha.uol.com.br – Esporte/Por LUCAS REIS – 12/06/2011)

História das pioneiras
Em meados da década de 1950, dona Isolina, diretora de uma escola em Araguari, se deparava com as contas no vermelho. Para quitar as dívidas, teve a idéia de promover um jogo com renda revertida para a escola. Ney Montes, na época diretor de esportes, sugeriu uma partida diferente, de vanguarda. Ele acreditava que mulheres em campo certamente chamariam mais atenção do público.
Assim a diretoria conseguiu reunir 40 voluntárias para salvar o caixa escolar. No dia marcado para a primeira partida, 19 de dezembro de 1958, o estádio ficou lotado para ver a mulherada na partida realizada aqui mesmo em Araguari e o placar final: 2 x 0. O sucesso foi tão grande que a vizinha cidade de Uberlândia, quis repetir a partida e com isso foi preciso chamar a cavalaria para conter a curiosa torcida.
Do interior a notícia decolou para as páginas da revista O Cruzeiro, motivo pelo qual as então meninas de Araguari viraram atração nacional. Elas viajaram pelo Brasil, desfilaram em carro de bombeiros em Salvador e Belo Horizonte, sendo convidadas para jogar até no México.
Mas, para descontentamento de muitas e por força da lei, a alegria durou pouco. Um decreto proibia mulheres de praticar esportes coletivos com a justificativa de serem “violentos e perigosos para a anatomia feminina”. Apesar do sonho ter ido por água abaixo as pioneiras ainda insistiram para praticar o esporte apenas na escola, só por diversão. Mas ainda assim os pais proibiram.
Hoje, fica apenas na memória a lembrança e a saudade de terem sido naquela época as craques e jogadoras de Araguari que fizeram história no país.

(Fonte: www.gazetadotriangulo.com.br – Pioneiras do futebol feminino no Brasil/ Por Fabryne Obalhe – 31 de Março de 2010)

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