Primeiro maestro arranjador contratado por uma gravadora no Brasil

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Pixinguinha, Pai da MPB

Gênio incompreendido e muito à frente de seu tempo, só teve sua importância reconhecida muitos anos depois
Imagine um ser de outro planeta ouvindo a Música Popular Brasileira (MPB). E alucinado pela sua qualidade, viesse à Terra para entender como ela era feita. Necessariamente a pesquisa teria que começar pelo dia 23 de abril de 1898, no bairro de Piedade, Zona Norte do Rio de Janeiro. Ali nasceu Alfredo da Rocha Vianna Jr., o Pixinguinha. Foi ele quem criou as bases da atual música brasileira.

Neto de escravos e filho de músicos, Pixinguinha cresceu num ambiente onde a música tinha lugar de destaque. Se outras famílias daquela época reuniam-se em volta de uma mesa farta, nas festas dos Vianna o prato principal era a música, com o menino Pzindin – apelido dado a Pixinguinha por sua avó – como principal atração. Ele tinha 12 anos de idade e já arrasava no cavaquinho. No ano seguinte começa a tocar flauta, sua grande paixão – até hoje é reconhecido como o melhor flautista brasileiro. Aos 14 anos de idade já era diretor de harmonia de rancho carnavalesco. Com 17, tocava em orquestras, cinemas, cabarés, teatros e, com 19, era orquestrador.

Em 1919, Pixinguinha montou o grupo Os Oito Batutas que começou a tocar nas salas de espera dos cinemas do Rio de Janeiro. Naquela época, só os melhores músicos se apresentavam nos cinemas. Porém, a ousadia dos repertórios não foi bem recebida pelos críticos. Já o público ficava mais encantado com que ouvia na sala de espera do que com o que via na tela. Foi nessa fase que gravou suas primeiras experimentações nas Casas Edson, Phoenix e Faulhaber e deixou registrado duas melodias que são clássicos da MPB: Rosa e Sofres Porque Queres.

 
Logo o grupo começou a chamar a atenção de empresários ligados ao meio musical e surgiu o convite para uma apresentação na Europa. Em 1922, Os Oito Batutas chegaram a Paris para uma temporada de um mês. O sucesso foi tanto que só retornaram ao Rio seis meses depois. Esse período foi fundamental na formação do “estilo pixinguinha” de compor. A música europeia e o jazz americano, que fazia sucesso por lá, tiveram muita influência nas suas composições. Na bagagem de volta trouxe um saxofone, que foi seu instrumento a partir de 1946.
Incansável, Pixinguinha tomou frente em outros grupos musicais como a Orquestra Tipica Incansável, Pixinguinha tomou frente em outros grupos musicais como a Orquestra Tipica Pixinguinha-Donga (1928), os Diabos do Céu (1930), a Guarda Velha (1932) e a Orquestra Columbia de Pixinguinha. Com o grupo Guarda Velha acompanhava os cantores Chico Alves, Mário Reis e Carmem Miranda. Participou do jovem cinema nacional com a trilha sonora para os filmes Um dia qualquer e Sol sobre a cama.

 

Mais tarde, nos anos 40, quando já não tinha mais agilidade nos dedos por causa da bebida, trocou a flauta pelo saxofone, instrumento que o identifica para as novas gerações. Nessa época fez parceria com o flautista Benedito Lacerda em shows, gravações e composições. Pixinguinha era precursor em tudo que fazia. Foi o primeiro maestro arranjador contratado por uma gravadora no Brasil. Pesquisador incansável de sonoridades e totalmente desprovido de preconceitos, misturou ritmos africanos e música negra americana com os novíssimos acordes nacionais de Ernesto Nazareh e Chiquinha Gonzaga. Reuniu com perfeição os instrumentos de percuss?o africana com os europeus. Essa foi a gênese da MPB.

Gênio incompreendido e muito à frente de seu tempo, só teve sua importância reconhecida anos depois. A velha guarda o chama de mestre dos mestres. O músico americano Louis Armstrong era fã de Pixinguinha. O maestro Heitor Villa-Lobos o comparava com o compositor clássico J.S. Bach. Para Tom Jobim ele era “um gênio da raça”. O poeta Vinícius de Moraes dizia que Pixinguinha era o “ser humano perfeito”. Os críticos o consideram pai da MPB.

E perfeita foi sua partida – se é que pode-se chamar de perfeita a morte. Na tarde de um sábado de carnaval, dia 17 de fevereiro de 1973, o “mestre dos mestres” foi a um batizado na igreja Nossa Senhora da Paz, no bairro carioca de Ipanema. Para homenageá-lo, a banda de Ipanema tocava suas composições na praça em frente à igreja. Nesse clima, Pixinguinha teve um enfarte e caiu nos braços de seu único filho e adotivo, Alfredo da Rocha Vianna Neto. Sorte que ele era um compositor incansável e deixou mais de 2 mil músicas.

 

Foram choros, sambas, marchas, bailões, foxtrotes e maxixes. Entre elas, pérolas como Carinhoso, Rosa, Ingênuo, Um a Zero, Lamentos Urubu, Nostalgia ao luar, Mentirosa e Soluços. Uma das melhores definições para Pixinguinha veio do pesquisador da MPB Ary Vasconcelos, publicada no Panorama da Música Popular Brasileira: “Se você tem 15 volumes para falar de toda a música popular brasileira, fique certo de que à pouco. Mas, se dispõe apenas do espaço de uma palavra, nem tudo está perdido. Escreva depressa: Pixinguinha.”

 

 

 

 

 

 

 

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