Pixinguinha, um dos mais ilustres nomes da música brasileira em todos os tempos, o maior flautista

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Alfredo da Rocha Viana Filho (Rio de Janeiro, 23 de abril de 1897 – Rio de Janeiro, 17 de fevereiro de 1973), flautista, músico e compositor, o Pixinguinha, um dos mais ilustres nomes da música brasileira em todos os tempos e, indiscutivelmente, o seu maior flautista.

Nascido no bairro da Piedade, onde seu pai, também flautista, reunia músicos amigos, desde criança tocou flauta, bombardino e cavaquinho. Se a noitada começava a avançar, mandavam-no para a cama. Obediente, perdia um pedaço da seresta. Mas, em compensação, ganharia uma parte de seu apelido: “Pizin din”, comentava a avó Edwiges, em dialeto africano, querendo dizer “bom menino”. Os companheiros de rua, onde ele era campeão de bola de gude, dariam a outra parte, chamando-o de “Bexiguinha”, por causa do rosto marcado de varíola (bexiga).

O prestígio – Foi esta a base da formação do compositor de alguns choros e valsas que se tornaram clássicos, como “Carinhoso” e “Rosa”. Ainda de calças curtas, os surpreendentes improvisos de sua flauta o levaram a tornar-se profissional em 1912, contratado (“a 6 000 réis por noite”) pela casa de chope A Concha.

Entre músicos, desfrutava já de algum respeito e, por isso, foi convidado a participar dos recitais da orquestra do Teatro Rio Branco. Ao vê-lo, o maestro exclamaria: “Isso, flautista?” Mas, ao ouvi-lo, reservou-lhe um lugar na equipe escolhida para tocar na peça “Chegou Neves”, com o melhor elenco da cidade.

Esses tempos, nas entrevistas que Pixinguinha dava, eram os mais explorados. Ele gostava de lembrá-los, de comparar o Rio de Janeiro de antes, pacato, favorável à formação de pequenos grupos, com o de hoje, onde os talentos se dispersam. As comparações estendiam-se também a Paris, onde ele trabalhou durante sete meses , em 1922, com o seu conjunto os Oito Batutas.

Foi depois da temporada europeia que o prestígio de Pixinguinha atingiu o máximo, como maestro da RCA Victor e arranjador de uma infinidade de sucessos dos anos 30 a 40. Nas décadas seguintes, talvez por ter deixado a flauta (as mãos trêmulas, por causa da boêmia, pediam instrumentos de manejo mais brando, como o saxofone), viveu em segundo plano. Também a idade pesaria. Veio um enfarte, em 1964, quando foi obrigado a reduzir a três doses de uísque a sua cota de todos os dias, entre 10 da manhã e 2 da tarde, na uisqueria Gouveia (onde tinha mesa cativa). Veio a morte da esposa, Albertina (que ele conheceu há mais de trinta anos, quando ela era cantora, com o pseudônimo de Jandira Aimoré), em 1972. Ainda assim tinha planos de continuar compondo para discos e trilhas sonoras de filmes de amigos. E só reclamava das recomendações médicas: “Esse negócio de descansar é que me cansa”.

Pelo seus planos, ainda não chegara a hora de se escreverem necrológios: “Pretendo viver mais seis anos. Oitenta anos é uma bela idade para se fechar o paletó”. Morreu no dia 23 de abril, aos 74 (completaria 75 a 23 de abril, de enfarte, “dia de São Jorge”, como costumava frisar), na sacristia da igreja Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, Rio de Janeiro. Enquanto batizava o filho de um amigo, queixou-se de dores. Solicitada, a ambulância chegou quando o padre já trocara os paramentos e óleos do batismo pelos da extrema-unção: estava morto Alfredo da Rocha Viana Filho, o Pixinguinha, o maestro, indiscutivelmente um gênio.

(Fonte: Veja, 21 de fevereiro de 1973 – MEMÓRIA – Edição 233 – Pág; 24)

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