Piero Manzoni, foi um dos artistas criadores mais radicais da história

0
Powered by Rock Convert

 

 

"Merda d'Artista"

“Merda d’Artista”

 

 

“Todos os artistas deveriam vender suas impressões digitais ou a sua própria merda em latinhas”, escreveu Piero Manzoni, numa carta de 1961. “Se o colecionador quiser algo íntimo e pessoal, que seja mesmo do artista, ele pode comprar a sua merda.” 

Piero Manzoni (Soncino, 13 de julho de 1933 – Milão, 6 de fevereiro de 1963), foi provavelmente o mais importante artista da Itália, e também da Europa, do pós-guerra. 

De fato, esse italiano entrou para a história da arte com uma obra em que alegava vender suas próprias fezes – ele criou 90 latinhas etiquetadas “Merda d’Artista” dois anos antes de morrer, por causa de problemas ligados ao alcoolismo, aos 29, em 1963.

Radical, o trabalho ganhou dimensões inimagináveis para um artista então quase desconhecido. No pódio das estripulias que marcaram as vanguardas do século 20, a provocação de Manzoni talvez só perca para Marcel Duchamp e o urinol que expôs em 1917 como uma escultura.

Mas sua obra foi muito além da boutade escatológica. Uma mostra no Museu de Arte Moderna, a primeira dedicada a ele na América Latina, redimensionou o artista como um dos criadores mais radicais da história, mostrando, além das latinhas, suas telas em branco e uma série de esculturas.

Todo o lado crítico de sua obra ficou um pouco obscurecido pela caricatura. Ou pelo mito. Manzoni, que vivia em Milão, sabia que precisava chamar a atenção num cenário artístico periférico. A Europa estava em ruínas, devastada pela Segunda Guerra, e Nova York, já desbancara Paris como a capital mundial da arte.

Era então que os primeiros lampejos de um novo momento começavam a dar as caras naquela terra arrasada. Todo mundo duvidava dele, mas ele queria vencer e ter sucesso. Tanto que Manzoni chegou a comandar uma revista e abriu uma galeria em Milão.

Ele queria ser porta-voz de uma nova estética da depuração, obras de arte que dissessem tudo com quase nada e tivessem, ao mesmo tempo, a presença do corpo do artista. Daí suas latas de excrementos, os ovos marcados com impressões digitais e as telas sem cor, feitas de isopor, plástico ou tecido. Seus quadros brancos, sem uma gota de tinta, queriam expressar a própria presença e nada mais, uma materialidade tátil.

Nesse sentido, Manzoni fez uma espécie de ponte entre o primeiro concretismo europeu, surgido nos anos 1920 na Holanda, e o minimalismo do Grupo ZERO, que então despontava na Alemanha com obras ancoradas na pesquisa sobre o comportamento da luz.

Foi um artista que procurou contatos e conexões com outros artistas e grupos, em especial o Grupo ZERO, buscando rearticular as vanguardas europeias do final dos anos 50.

Fundou revista e galeria, e sua influente presença agiu, na época, além da Itália, na Alemanha, Dinamarca, Holanda e França. Seu agudo conceitualismo irônico que se revela em um trabalho – hoje icônico – como Merda de Artista, renovou uma tradição derivada de Duchamp e do Dadaísmo.

O artista foi considerado um pioneiro pesquisador de novos materiais sintéticos que utilizou na sua importante série de trabalhos monocromáticos intitulada de Achromes. Manzoni, mais que qualquer outro artista, representa a jovem vitalidade que buscava novas direções para a arte numa Itália e Europa culturalmente traumatizadas pela guerra.

Suas obras, passando por aquelas que hoje são consideradas exemplos do espírito radical das vanguardas europeias dos anos 50 e 60.

Obras, como as linhas de tecido embaladas em caixas etiquetadas com o seu comprimento, levam a entender como Manzoni tentou reduzir uma obra de arte a seus mínimos elementos.

Mas por mais que lutasse contra a reificação da arte, o artista virou também uma grife, vendido, como as latinhas de fezes, a preço de ouro.

 

 

(Fonte: http://mam.org.br/exposicao/piero-manzoni)

(Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2015/04/1612614- ILUSTRADA – SILAS MARTÍ de São Paulo – 06/04/2015)

 

 

Powered by Rock Convert
Share.