Orestes Barbosa, compositor de poesia alucinada, considerado o Rei da seresta

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Rei da seresta

Orestes Barbosa (Rio de Janeiro, 7 de maio de 1893 – Rio de Janeiro, 15 de agosto de 1966), foi um jornalista, cronista e poeta brasileiro

Compositor de poesia alucinada, onde escrever versos era ourivessaria, como dizia Olavo Bilac, mas a poesia podia estar também “no elevador”, como escreveu Oswald de Andrade na profissão de fé modernista Balada do Esplanada.

Na fervilhante virada do século XX, modernistas e cultores do estilo se digladiavam sobre se a poesia era “arte pela arte” ou se devia alimentar-se das imagens da sociedade industrial.

Nos anos 30, no terreno da música popular, o compositor fez uma síntese curiosa entre as duas tendências opostas. Para o compositor Orestes Barbosa, uma amostra desse talento para traduzir o cotidiano das metrópoles em versos metrificados e de profundo lirismo está nos versos de Arranha-Céu, em que imagens eminentemente urbanas, a começar pelo próprio título, são utilizadas para enfatizar a dor do amante abandonado.

Suas composições mais conhecidas são interpretadas pelos cantores Francisco Alves e Sílvio Caldas, seus protagonistas naqueles anos 30, foi um dos grandes letristas da música popular brasileira.

Dentre suas canções destaca-se Nega, meu bem, com Heitor dos Prazeres, Positivismo, com Noel Rosa, A mulher que ficou na taça, com Francisco Alves, Gato escondido, com Custódio Mesquita, e Arranha-céu, com Silvio Caldas.

Ao lançar mão de tais metáforas, Orestes se tornou, ao lado de Noel Rosa, que fez de uma sirene de fábrica personagem de Três Apitos, a mais perfeita tradução dos ideais modernistas na esfera da música popular.

Foi exaltado, entre outros, por Manuel Bandeira, que considerava o verso Tu pisavas os astros distraídada canção Chão de Estrelas, o melhor já escrito em língua portuguesa.

Tal verso foi objeto de um ensaio do poeta Augusto de Campos, que compara o universo imagético de Orestes ao do poeta italiano Dante. Melhor que teorizações, no entanto, é abandonar-se à magia dos versos do seresteiro Orestes.

Para isso, nada melhor do que as interpretações precisas de Silvio Caldas e Francisco Alves, que tornam palpáveis, através da música, as imagens alucinadas do poeta.

(Fonte: Veja, 8 de dezembro de 1993 – ANO 26 – Nº 49 – Edição 1317 – MÚSICA – Pág: 141)

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