O primeiro rabino a ganhar o Prêmio Carlos Magno

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O primeiro rabino a ganhar o Prêmio Carlos Magno

Para o Pinchas Goldschmidt, o antissemitismo “tornou-se novamente socialmente aceitável e politicamente correto” e isso precisa mudar. (Foto: DW / Deutsche Welle)

 

 

Pinchas Goldschmidt fomenta o diálogo entre o judaísmo e o islamismo. Ele lamenta a volta do antissemitismo em todo o mundo, sobretudo na Europa. O Prêmio Carlos Magno, uma das principais honrarias concedidas na Europa, foi na quinta-feira (09/05) entregue pela primeira vez a um rabino, o presidente da Conferência dos Rabinos Europeus, Pinchas Goldschmidt.

O homem de 60 anos preside há quase 13 anos a instituição, à qual pertencem cerca de 800 intelectuais judeus ortodoxos.

“Com esta honraria, a comitê do Prêmio Carlos Magno quer enviar um sinal de que a vida judaica é uma parte natural da Europa e que não deve haver lugar para o antissemitismo no continente”, afirmou a entidade responsável pelo prêmio.

Aumento do antissemitismo

“Infelizmente, a realidade é exatamente o contrário”, declarou Goldschmidt à DW. “Tivemos uma explosão de antissemitismo desde o 7 de Outubro.” Na data, o grupo radical islâmico Hamas, considerado terrorista por países como EUA e pela União Europeia, atacou Israel, resultando no maior assassinato em massa de judeus desde o Holocausto. Em torno de 1.200 pessoas foram assassinadas, milhares ficaram feridas e cerca de 240 foram feitas reféns na Faixa de Gaza. Israel respondeu com uma ofensiva militar em grande escala no enclave palestino.

Desde então, o ódio aos judeus tem aumentado em muitas partes do mundo. Muitas mães e pais judeus, diz Goldschmidt, têm medo de mandar seus filhos para a escola. Homens, jovens e meninos judeus têm medo de andar na rua usando uma quipá. Muitas instituições judaicas necessitam de proteção policial.

Para o rabino, o antissemitismo “tornou-se novamente socialmente aceitável e politicamente correto” e isso precisa mudar. Os governos devem deixar claro que não aceitam o ódio aos judeus, “nem nas escolas, nem nas ruas, nem na cultura”. Enquanto o ódio aberto aos judeus for tolerado, “nós temos um sério problema”. Quando Goldschmidt diz “nós”, ele não está se referindo apenas ou principalmente aos judeus. Para ele, trata-se do futuro da Europa.

A história europeia da família Goldschmidt inclui os horrores do antigo campo de concentração de Auschwitz. Pinchas Goldschmidt nasceu em Zurique em 1963 – porque seus avós se mudaram de Viena, na Áustria, para a Suíça bem a tempo, em 1938, devido à doença de sua avó. Seus bisavós maternos morreram em Auschwitz, assim como os irmãos deles, as irmãs e os irmãos de seu avô e mais de 40 de seus parentes, diz o rabino.

Fuga da guerra de Putin

Goldschmidt foi rabino-chefe em Moscou de 1993 a 2022. Poucos dias após o início da guerra de contra toda a Ucrânia, em fevereiro de 2022, ele deixou a Rússia às pressas porque o Kremlin queria forçar os representantes religiosos a seguirem sua linha.

Desde sua saída de Moscou, mais de cem mil judeus deixaram a Rússia, diz o rabino. “A situação política na Rússia está se tornando cada vez mais difícil. O país está voltando ao isolamento total, à União Soviética sem comunismo. E o antissemitismo mais uma vez se tornou parte da política do governo”.

Desde então, Goldschmidt e sua esposa, que têm sete filhos e vários netos, vivem em Jerusalém. Veio o 7 de Outubro, e Israel também entrou em guerra. “Passei de uma guerra para outra guerra”, diz ele. A guerra, diz ele, é “terrível, uma das coisas mais terríveis que a humanidade inventou”. Mas Israel, como todo país, tem o direito de se defender, ressalta.

O Islã e a Europa

Esse rabino multilíngue é um mestre do diálogo. Ele dialoga com muitos políticos importantes, foi convidado frequente na chancelaria federal em Berlim e visitou o papa Francisco várias vezes.

Depois que se tornou presidente da Conferência dos Rabinos Europeus, Pinchas estabeleceu um diálogo entre os principais estudiosos rabínicos e imãs muçulmanos de países europeus e do norte da África, que já resultou em várias encontros.

“Em vez de combater o Islã radical, estamos simplesmente combatendo a religião islâmica. Isso é um erro muito grande”, diz Goldschmidt. O Islã radical deve ser combatido, mas, ao mesmo tempo, está claro que “o Islã pode se tornar uma parte valiosa da Europa se seus crentes e representantes praticarem ativamente os valores europeus, como liberdade, democracia e tolerância”.

Ele disse estar muito feliz por receber o Prêmio Carlos Magno. “Para mim, pessoalmente, e para a comunidade judaica na Europa, isso é um belo sinal, pois gostaríamos de ver mais apoio da sociedade civil para as comunidades judaicas. Isso seria muito importante”.

Um dos principais prêmios da Europa

O Prêmio Carlos Magno é uma das principais honrarias concedidas na Europa e tradicionalmente homenageia pessoas que se empenham pela unidade europeia. O nome é uma homenagem ao imperador Carlos Magno (742-814), chamado por alguns de “o pai da Europa”, que unificou grande parte da Europa Ocidental pela primeira vez desde o fim do Império Romano. No final do século 8, ele escolheu a cidade de Aachen, na Alemanha, como sua capital.

Entre os vencedores das edições anteriores do prêmio estão o papa Francisco, o presidente francês, Emmanuel Macron, e o secretário-geral da ONU, António Guterres. Em 2023, o agraciado foi o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski.

(Créditos autorais: https://www.terra.com.br/noticias/mundo – Deutsche Welle/ NOTÍCIAS/ MUNDO – 8 mai 2024)

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