Niklas Luhmann, sociólogo é considerado, junto com Jürgen Habermas, o mais famoso representante da sociologia alemã

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Niklas Luhmann (Lunemburgo, 8 de dezembro de 1927 – Oerlinghausen, 6 de novembro de 1998), sociólogo alemão, foi professor da  Universidade de Bielefeld entre 1966 e 1993, é considerado, junto com Jürgen
Habermas, o mais famoso representante da sociologia alemã.

 

Luhmann iniciou sua carreira acadêmica como sociólogo no início dos anos 60 com um estágio em Harvard, onde foi aluno de Talcott Parsons. Nessa época trabalhava como assessor jurídico no ministério de educação e cultura do Estado da Baixa Saxônia. Após sua volta dos Estados Unidos começou a lecionar na escola superior de administração de Speyer, para depois assumir uma cátedra de sociologia na recém criada Universidade de
Bielefeld, onde trabalhou durante trinta anos no seu “único” projeto de pesquisa: uma teoria  da sociedade. Em 1984 Luhmann publicou o “capítulo introdutório”, a obra: Soziale  Systeme. Grundriß einer allgemeinen Theorie.

 

Depois seguiram-se vários estudos sobre  sistemas funcionais específicos da sociedade moderna e, em 1997, ele apresentou com Die  Gesellschaft der Gesellschaft o ponto final desse projeto gigantesco.

 

Luhmann nasceu numa família de classe média em Lünemburgo, Alemanha, no dia 8 de dezembro de 1927. Depois de se formar muito cedo no 1o ciclo (Notabitur), ele foi recrutado em 1944 e feito prisioneiro de
guerra das Forças Americanas. De 1946 a 1949, ele estudou direito em Friburgo, entrou para o serviço público e trabalhou por 10 anos como advogado administrativo em Hanover.

Em 1962, ele recebeu uma bolsa de estudos para ir a Harvard onde passou um ano com Talcott Parsons. Em 1968, ele foi nomeado professor de sociologia na recém-criada Universidade de Bielefeld, onde trabalhou até se aposentar. Pouco antes de sua nomeação, perguntaram-lhe com que objeto desejaria trabalhar na universidade. Sua resposta foi: “A teoria da sociedade moderna. Duração: 30 anos; sem custos”. Consequentemente, ele cumpriu à risca esse programa teórico. No momento de sua morte em dezembro de 1998, aos 70 anos de idade, sua obra consistia de mais de 14.000 páginas publicadas.

 

A viagem de Luhmann em direção à teoria da sociedade moderna deu-se por meio de dois enfoques; primeiro, na forma de ensaios, desde o fim dos anos 60; e, segundo, a partir dos anos 80 na forma de monografias sobre
sistemas individuais de funcionamento da sociedade tais como direito, ciência e arte. Sua evolução intelectual culmina em 1997 com a publicação de seu magnum opus A sociedade da sociedade. Qualquer pessoa que suspeite de redundância ou repetição aqui pode achar, à primeira vista, que seu ceticismo está confirmado.

Esse trabalho em dois volumes não contém nenhum assunto novo, muito menos qualquer enfoque até então inédito. Na verdade, está mais para uma conclusão, uma recapitulação, do que a exploração de um novo território. No entanto, uma segunda olhada cuidadosa revela muito que não havia sido dito antes – ou, pelo menos, não dessa forma. Contrastando com os ensaios, que são às vezes experimentais e em um tom jocoso, e que ocasional mente terminam num ponto de interrogação, o formato do livro requer uma apresentação mais sistemática. A sociedade da sociedade é a pedra final de sua catedral teórica e nos fornece um mapa, e um guia, para a compreensão da moderna teoria dos sistemas.

 

Em torno desse trabalho principal, acrescentam-se outras análises anteriores e individuais: A ciência da sociedade, A economia da sociedade, A arte da sociedade, O direito da sociedade e os dois livros póstumos: A
política da sociedade e A religião da sociedade. A introdução a essa série de análises tomou a forma de um livro de 674 páginas com o título de Sistemas sociais: esboço de uma teoria geral. Esse trabalho é a mais concentrada, abstrata e – se nos dedicarmos a estudá-lo – a mais compensadora apresenta. Em torno desse trabalho principal, acrescentam-se outras análises anteriores e individuais: A ciência da sociedade, A economia da sociedade, A arte da sociedade, O direito da sociedade e os dois livros póstumos: A política da sociedade e A religião da sociedade. A introdução a essa série de análises tomou a forma de um livro de 674 páginas com o título de Sistemas sociais: esboço de uma teoria geral. Esse trabalho é a mais concentrada, abstrata e – se nos dedicarmos a estudá-lo – a mais compensadora apresentação do núcleo teórico.

 

Temos agora uma primeira visão geral à nossa disposição. Se quisermos fazer justiça a Luhmann, precisamos nos situar dentro da arquitetura de sua perspectiva geral. Afora esses estudos sistêmicos, Luhmann também
publicou uma série de análises sociológicas e histórico-semânticas um pouco menos volumosa. Elas consistem dos quatro volumes do Estrutura e semântica societal e dos seis volumes do Iluminismo sociológico. Esses estudos mostram Luhmann como um scholar universal, que situa sua teoria dentro do contexto histórico do iluminismo e da filosofia européia. Além dessa pesquisa abrangente, ele também produziu uma gama de análises políticas e sociais da sociedade moderna, comentando problemas públicos urgentes. Mencionaremos somente seus livros Sociologia de risco, Comunicação ecológica, A realidade da mídia de massa e A teoria política do estado do bem estar. Ao todo, seu trabalho consiste de umas 700 publicações em traduções incontáveis para o inglês, francês, italiano, japonês, russo e chinês.

 

Em quase todo seu trabalho, Luhmann faz referência à lógica operativa de George Spencer Brown e ao construtivismo radical. Eles são tratados de maneira sumária para poder delinear o esboço e a estrutura
conceitual de sua teoria dos sistemas super-sociais, dotada de uma série de instrumentos metodológicos conseguidos dessa maneira. A teoria da política, sociologia da religião, sociologia da arte e sociologia moral são desenvolvidas em seguida.

 

Nesse nosso rápido retrato intelectual de Niklas Luhmann, primeiro, focalizamos deliberadamente a substância de sua teoria social, especialmente as ideias encontradas em sua última publicação; mas abstemo-nos de avançar na perspectiva de uma sociologia do conhecimento que tentasse entender, por exemplo, a relutância por parte das ciências sociais anglo-saxônicas em usar as noções de Luhmann tão vigorosa e proeminentemente como aconteceu não só em seu próprio país, mas também na Itália, na França e em muitas outras sociedades não falantes de inglês. Essa é uma história e um desafio que não poderão ser abordados agora. Em segundo lugar, tendo esboçado as características mais importantes do original enfoque teórico-sistêmico de Luhmann, apresentamos algumas observações e reflexões.

 

Para Luhmann, diferenciação social e formação de sistema são as características básicas da sociedade moderna. Isso também quer dizer que a teoria dos sistemas e a teoria da sociedade são mutuamente dependentes. Nesses termos, a sociedade não é a soma de todas as interações presentes, mas um sistema de uma ordem maior, de tipo diferente, determinada pela diferenciação entre sistema e ambiente; e é exatamente essa distinção o tema do livro de dois volumes de Luhmann A sociedade da sociedade.

 

 

A principal mensagem de Luhmann é a seguinte: ou a sociologia é essencialmente a teoria da sociedade, ou não é uma ciência. Se olharmos para trás, para a história da sociologia, isso não é nem um pouco evidente. Muito
pelo contrário, no começo do século passado – e particularmente depois de 1945 na Alemanha e em outras partes – a sociologia desenvolvia sua identidade escondendo sua relação com a sociedade. Era principalmente uma teoria de entidades sociais, com categorias tais como papéis, interação, intenção e ação social formando a estrutura conceitual básica de uma sociologia cada vez mais inclinada empírica e teoricamente a seguir o modelo das ciências naturais, com sua ênfase na causalidade e na descoberta de leis.

 

O conceito de sociedade, no entanto, manteve sua reinvidicação holística; defendida enfaticamente, por exemplo, pela teoria crítica e transformada por Jürgen Habermas em uma teoria da razão comunicativa. Essa
reinvidicação ia de encontro à acepção da sociologia como uma teoria universal e independente de entidades sociais. Será que a perspectiva corrente dentro da sociologia tornaria a sociedade um sistema social como outro qualquer, mas ao mesmo tempo um sistema fundamental que abarcasse tudo? A sociologia não conseguiu escapar deste paradoxo ao qual se opôs por meio de repressão e historicização: a teoria social, e particularmente a teoria crítica social, foram amplamente deixadas aos cuidados disciplinares da filosofia, que – acredita-se – possui os especialistas em abordagens holísticas das estruturas essenciais e fundamentais do pensamento e do relacionamento com o mundo. Se cientistas sociais lidavam com a teoria da sociedade, então eles o faziam tipicamente por meio de exegeses dos clássicos, como se a história de sua própria disciplina tivesse a habilidade de preservar e resgatar reinvidicações.

 

Hoje a exclusão da sociedade pela sociologia parece estar se vingando. Como no mundo reprimido de Max Weber onde os deuses celebravam seu retorno ao mundo na forma de conflitos incessantes de valores, o
conceito de sociedade está hoje voltando em uma ampla diversidade de termos tais como “sociedade pós-industrial” (Bell), “sociedade de conhecimento” (Stehr) e “sociedade pós-moderna” (Lyotard); como se um aspecto
da sociedade fosse capaz de representar o todo. Tal fabricação a do de terminologia revela o que está sendo suprimido: a saber, a exigência de compreender a sociedade em sua totalidade.

 

Então, o que isso significa exatamente para a sociologia, pergunta Luhmann, se queremos evitar a armadilha do objetivismo ingênuo, que vê a sociedade como um objeto dado que efetivamente precede toda observação
científica? A implicação do ponto de vista objetivo seria que teríamos que observar a sociedade de um ponto externo à sociedade. Não há tal lugar. Tanto a ciência como a sociedade são uma expressão da realidade social. É precisamente nesse ponto que a sociologia clássica do conhecimento não se sustentou. Ela foi forçada a delegar a observação do conhecimento a uma hipotética inteligência livre que não estava sujeita a nenhuma distorção devido a interesses ou ideologias. Mais recentemente, algumas perspectivas aceitaram a ideia que o ato da cognição é sempre ele mesmo um momento na totalidade da cognição. Luhmann adere a essa perspectiva – e ao mesmo tempo vai além dela com a argumentação de que não pode haver um objeto “sociedade” acessível à observação independente.

 

Assim que cessamos de ver a sociedade meramente como outro objeto de pesquisa sociológico e, ao invés disso, focalizamos seu significado operacional como condição de possibilidade para a própria cognição social, então a sociologia torna-se um sujeito que lida consigo mesmo do mesmo modo que a filosofia dedica-se à reflexão. Luhmann transfere a estrutura do modo de operação auto-referencial do sujeito à teoria dos sistemas sociais. Ao mesmo tempo, ele responde à pergunta: como é possível praticar a sociologia como uma teoria da sociedade que não descarta prematuramente a conexão entre teoria e sujeito? Isto, de acordo com Luhmann, requer uma rejeição radical de posições epistemológicas baseadas na dicotomia do paradigma sujeito-objeto. A sociologia é confrontada com a sociedade como sujeito. Portanto Luhmann argumenta que isso requer pesquisas sobre as características que ela própria já gerou.
Luhmann consistentemente apresenta uma idéia de sociedade radicalmente antihumanista, não ontológica e construtivista radical.

 

A suposição mais radical do enfoque teórico maduro de Luhmann é sua ênfase nas diferenças, mais precisamente nas distinções que não são mais vistas como diferenças objetivas mas como construções. A substituição do conceito de sujeito e a transferência da diferenciação sujeito-objeto para uma distinção entre sistema e ambiente levam Luhmann a uma teoria pós-ontológica da sociedade, desenvolvida numa base naturalística e empírica
como uma teoria da observação. Esse questionamento fundamental da filosofia moderna do sujeito e sua distinção entre as ciências naturais e as humanidades (acrescido da rejeição de um conceito humanístico-antropocêntrico para definir a sociedade) atraiu um grande número de críticas, e mais incompreensão ainda, ao enfoque de Luhmann.

 

 

(Fonte: Veja, 18 de novembro de 1998 – ANO 31 – N° 46 – Edição 1573 – DATAS – Pág: 41)

(Fonte: http://www.infoamerica.org/documentos – Armin Mathis/Cientista Político, Prof. Adjunto do NAEA/UFPA)

(Fonte: http://www.scielo.br/pdf/ts/v13n2/v13n2a10 – Recebido para publicação em agosto/2001 – Tradução de Marina H. G. MacRae)

BECHMANN, Gotthard & STEHR, Nico. Niklas Luhmann. Tempo Social; Rev. Sociol. USP, S. Paulo, 13(2): 185-200, November 2001.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LUHMANN , Niklas. (1997) Die Gesellschaft der Gesellschaft. Frankfurt am
Main, Suhrkamp.
_______. (1998) Observations on modernity. Stanford, Stanford University
Press.
Sugestões para outras leituras
LUHMANN , Niklas. (1989) Ecological communication. Chicago, University
of Chicago Press.
_______. (1990) Essays on self-reference. New York, Columbia University
Press.
_______. (1993) Risk: a sociological theory. New York, Aldine de Gruyter.
_______. (1995) Social systems. Stanford, Stanford University Press.

 

 

 

 

 

 

 

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