Neuza Goulart Brizola, mulher do governador Leonel Brizola, do Rio de Janeiro.

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Neuza Goulart Brizola, mulher do governador Leonel Brizola, do Rio de Janeiro. Uma das últimas representantes daquela categoria de mulheres que respirou política e conviveu com o poder a vida inteira sem ter-se candidatado a um cargo público. Amiga do ex-presidente Getúlio Vargas, que foi seu padrinho de casamento, irmã do ex-presidente João Goulart, a quem chamava de “Janguinho”, Neuza acompanhou a carreira do marido, nas glórias e no exílio, e teve uma vida sofrida. Casada há 43 anos com Brizola, Neuza foi enterrada na cidade gaúcha de São Borja, ao lado do túmulo de Jango, seu irmão predileto.
Filha de fazendeiros ricos do Rio Grande do Sul, vizinhos de Getúlio Vargas, Neuza foi uma jovem bonita e elegante que coonheceu o seu marido numa convenção do Partido Trabalhista Brasileiro, em São Borja. Trocou um pretendente rico pelo jovem engenheiro que iniciava sua carreira política. Casou-se aos 28 anos e teve três filhos com Brizola, um marido apaixonado e amoroso que a cercava de atenções, tratava-a carinhosamente por “queridinha” e fez dela sua única confidente.
Neuza sofreu com a política, as ausências prolongadas de Brizola e as divergências políticas que separaram o marido do seu irmão Jango, só reconciliados às vésperas da morte do ex-presidente, em 1976. Sofreu com as perseguições durante o regime militar e, ao lado de Brizola, amargou quinze anos de exílio entre o Uruguai, Estados Unidos e Portugal, o mais longo de um político brasileiro na História republicana.
TROCA DE BILHETES – Em 1964, o ano do golpe militar, Neuza foi para o Uruguai na companhia do marido e dos três filhos. Nos primeiros seis anos, a família viveu num apartamento do balneário de Atlântica, sem calefação para amenizar o rigoroso inverno uruguaio. Em 1970, a família mudou-se para uma fazenda, a 250 quilômetros de Montevidéu, onde não havia luz nem telefone. Ali, Neuza enfrentou o fogão pela primeira vez. Inexperiente, disse “Só quem passou pelo exílio sabe como é triste ser brasileiro fora de sua pátria”, às vésperas da aprovação da Lei da Anistia, de 1979, que permitiu a volta do marido ao Brasil.
Em 1977, com o golpe militar no Uruguai, a família foi expulsa do país e transferiu-se para Nova York. Outro período duro. Neuza e o marido moraram em hotéis durante um ano, até que trocaram Nova York por Lisboa, de onde só saíram para regressar ao Brasil, em 1979. Das sete fazendas que herdou dos pais, Neuza doou uma delas, nos anos 60, para o então governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, instalar colonos num projeto de reforma agrária. Desfez-se de outras quatro para garantir o sustento da família no exílio. Vendeu a sexta ao voltar ao Brasil, para comprar o apartamento da Avenida Atlântica, em Copacabana, onde morou até sua morte. Já no Brasil, era comum vê-la abatida, mergulhada em crises de depressão. Em 1983, passou 75 dias nos Estados Unidos tratando-se de uma crise e não assistiu à primeira posse do marido no governo do Rio de Janeiro.
Na campanha presidencial, em 1989, era comum Brizola mudar a sua agenda para retornar ao Rio de Janeiro para ajudar a mulher em suas recaídas e períodos de depressão aguda.
O começo do seu fim aconteceu no dia 7 de janeiro, em Nova York, quando acompanhava o governador numa viagem. Com uma úlcera perfurada, internada às pressas no New York Hospital, Neuza foi operada. Sofreu três infecções pulmonares e ficou dois meses sedada na UTI. O governador a visitava duas vezes por dia e era capaz de passar horas sentado à beira da cama afagando suas mãos.
Em março de 1993, Neuza foi transferida para a Pró-Cardíaco, no Rio.
Brizola parecia prever sua morte e até antecipou para o dia 18 de março o casamento da neta Laila, para evitar que a festa acontecesse durante o luto da família.
Neuza confessou algumas vezes que sonhava com o dia em que ela e Brizola pudessem se recolher definitivamente em São Borja, para envelhecer juntos e longe da política. Não houve tempo.
Neuza morreu no dia 7 de abril de 1993, aos 71 anos, vítima de infecção generalizada e problemas respiratórios, na clínica Pró-Cardíaco, do Rio de Janeiro.

(Fonte: Veja, 14 de abril de 1993 – Edição 1283 – Memória )

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