Mira Schendel, desenhista e pintora suíça, radicada no Brasil. Participou da Bienal de São Paulo

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Mira Schendel (Zurique, 7 de junho de 1919 – São Paulo, 24 de julho de 1988), desenhista e pintora suíça, radicada no Brasil desde 1949.

 

Schendel nasceu na Suíça e se mudou para o Brasil aos 30 anos, fugindo do nazismo, depois de ter morado em Roma.

 

Participou várias vezes da Bienal de São Paulo, na década de 60, recebendo o prêmio de aquisição em 1967.

 

Expôs seus trabalhos na Bienal de Veneza, em 1968. Tinha como marca pessoal o uso de letras, palavras e símbolos matemáticos em seus desenhos.

 

Ela foi comparada a Hélio Oiticica e Lígia Clark; Mira reúne obras que exploram a escrita, seja no manuseio da palavra no papel ou nas incursões em busca da criação de uma espécie de alfabeto novo. É o caso da série “Letras Circunscritas”, de Schendel.

 

Fica claro em várias peças, o trabalho intelectual consistente por trás da trajetória da artista.

 

Muitos trabalhos têm em comum uma referência clara, como a temática de protesto religioso. É o que se vê na instalação “Ondas Paradas de Probabilidade” (1969), da brasileira Schendel, uma enorme estrutura de fios de nylon translúcidos que vão do chão ao teto. Para compô-la, a artista pendurou em um quadro de acrílico um texto do Antigo Testamento, que representa a “voz de Deus”.

 

Mira Schendel morreu dia 24 de julho de 1988, aos 69 anos, de câncer, em São Paulo.

(Fonte: Veja, 3 de agosto de 1988 – Edição 1039 – DATAS – Pág; 101)

(Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrada – ILUSTRADA / Por ANDREA MURTA DE NOVA YORK – São Paulo, 10 de abril de 2009)

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MAM expõe a obra gráfica de Mira Schendel nos 30 anos de sua morte

Séries importantes como ‘Toquinhos’ e “Frutas’ estão entre os trabalhos da mostra, que segue até abril no museu

 

 

O marchand Paulo Figueiredo, morto em 2006, foi um dos responsáveis pela ascensão da artista Mira Schendel (1919-1988). Ao fechar sua galeria, em 1995, doou ao Museu de Arte Moderna de São Paulo (em 1997) 130 obras de sua coleção. Entre elas estão monotipias, desenhos e objetos gráficos de Mira Schendel, homenageada nos 30 anos de sua morte com a exposição Signals/Sinais, na Sala Paulo Figueiredo do MAM, que tem curadoria do crítico Paulo Venâncio Filho.

Sob o signo da filosofia: obra marcada pelo conceito (Foto: Rômulo Fialdini/MAM)

Sob o signo da filosofia: obra marcada pelo conceito (Foto: Rômulo Fialdini/MAM)

 

 

 

Signals é o mesmo nome da galeria londrina que promoveu uma histórica exposição de Mira em 1967 e teve como curador o crítico Guy Brett, projetando o nome da artista na Europa – foi por essa época que ela conheceu o filósofo Max Bense (1910-1990). Ele viria a assinar textos de catálogos de suas exposições na Alemanha. Foi um ano depois da mostra inglesa, em 1968, que Mira começou a produzir a série Toquinhos, peças de acrílico transparente nas quais ela aplicava letras, signos gráficos ou pedaços de papel japonês tingido com ecoline.

 

 

 

A série é um dos principais destaques da mostra – que não é uma retrospectiva, esclarece o curador. “A ideia da exposição foi a de reunir trabalhos com predominância dos elementos comuns à obra gráfica de Mira, como os traços, as letras, as frases e os signos”, diz o curador, que instalou uma centena desses trabalhos no MAM.

 

 

 

Além dos “toquinhos” estão na mostra os objetos gráficos (produzidos de 1967 em diante) e as monotipias da artista suíça naturalizada brasileira. As monotipias, segundo a concepção do curador, são os trabalhos mais reveladores da personalidade da artista. E ela fez centenas delas. “As monotipias dizem muito sobre o caráter de Mira”, justifica. “Elas são inclassificáveis, pois têm elementos construtivos e ao mesmo tempo não abdicam da expressão, um pouco como a personalidade da artista, que era também uma intelectual”, conclui.

 

 

 

De fato, os interlocutores de Mira justificam a observação. Além de Max Bense, Anatol Rosenfeld fez parte do triunvirato de pensadores com os quais dialogou. O terceiro foi o filósofo alemão Hermann Schmitz, que conheceu nos anos 1970 e se tornou sua principal referência no campo da fenomenologia, adotando conceitos como o da individuação a partir do múltiplo caótico, presentes na obra do pensador.

 

 

A despeito dessa proximidade com a filosofia, Mira insistia que não produziu uma obra exclusivamente cerebral, mas visual. De fato, o que se vê na sala Paulo Figueiredo do MAM é um a obra de simplicidade desconcertante, até mesmo despojada, que, no entanto, leva o espectador a superar os dualismos e se deixar levar pela beleza das composições.

 

 

 

“Toda essa extensão alcançada com os mais simples meios gráficos constitui uma estrutura sígnica variável, aberta, inconstante, flexível, em contínua e infinita expansão”, define o curador, aproximando esses sinais gráficos de Mira de uma tabela periódica que, por meio de uma disposição sistemática de traços, letras e rabiscos, conduzem a uma espécie de revelação epifânica, mesmo que eles sejam apenas esquemas.

 

 

A esse respeito, o crítico Alberto Tassinari observou, a respeito de uma série chamada Frutas (representada na mostra), que esses desenhos ficam a meio caminho entre a figuração e abstração. Não são exatamente frutas, mas esquemas de frutas, escreveu Tassinari.

Entre outros “esquemas” é possível identificar em dois desenhos da exposição esboços daquela que viria a ser sua obra maior, a série Sarrafos (1987), exibida em sua última mostra e feita em gesso e têmpera sobre madeira, quebrando a fronteira entre a pintura e a escultura.

(Fonte: https://cultura.estadao.com.br/noticias/artes – NOTÍCIAS / ARTES / CULTURA / Por Antonio Gonçalves Filho, O Estado de S. Paulo – 23 Janeiro 2018)

 

 

 

 

 

 

 

Mira Schendel criou uma gramática própria capaz de ser lida de ujma infinidade de modos diversos e percebida muito além da dimensão dos idiomas.

Suíça radicada no Brasil em 1949, Mira Schendel deixou uma obra que a situa como uma das artistas fundamentais de sua época no país.

Dona de uma criatividade rica em autodesafios, ela pensava e refazia constantemente em seus trabalhos os caminhos abertos por ela própria. Foi assim que participou por sete vezes da Bienal Internacional de São Paulo – inclusive da primeira, em 1951 – e inscreveu seu nome no circuito artístico europeu antes mesmo de representar o Brasil na Bienal de Veneza de 1968.

Apesar disso, não alcançou em vida um retorno financeiro correspondente a sua estatura artística: seus trabalhos eram geralmente disputados apenas pelos círculos de colecionadores, críticos de arte e colegas. A contribuição de Mira à arte nacional só começou a ser resgatada poucos anos antes de sua morte.

POESIA CONCRETA – A retrospectiva de suas obras faz uma viagem pela vertente gráfica da obra de Mira Schendel desde seu início, representado por um desenho de 1952. Nessa época, ela morava em Porto Alegre – primeira cidade onde se radicou após chegar da Europa – e ainda assinava o sobrenome de solteira: Hargersheimer.

Fazia trabalhos figurativos, com prateleiras de louças ou conjuntos de garrafas e frutas, que além da delicada atmosfera de luzes e formas, deixavam entrever uma vocação construtiva na divisão rigorosa do espaço e na distribuição dos volumes.

A porção mais característica de sua obra começaria a ser elaborada na década de 60, já morando em São Paulo, quando passou a explorar signos gráficos, letras e transparências em papel vegetal e acrílico.

Essa aparente aproximação com a palavra atraiu o entusiasmo dos poetas concretos, que formaram um dos primeiros núcleos de admiradores da artista. Mira nunca aderiu a grupos. Ela chegou a ter fama de arredia e de difícil relacionamento – preferia conviver com um pequeno círculo de amigos, como os artistas plásticos José Resende e Sérgio Camargo.

Nos últimos tempos, esse círculo ganhou acréscimos da nova geração de artistas, como Nuno Ramos e Fábio Miguez, do extinto grupo de pintores paulista Casa Sete. Leitora voraz de obra sobre filosofia, chegou a manter correspondência assídua com um filósofo alemão, Hermann Schmitz, especializado em fenomenologia.

Em junho de 1988, a artista embarcara para uma viagem à Europa. Na Alemanha, sentiu-se mal subitamente e consultou um médico. O diagnóstico foi câncer pulmonar em estágio avançado e não possível de cirurgia.

Mira Schendel morreu de câncer no pulmão em julho de 1988, aos 69 anos.

(Fonte: Veja, 15 de março de 1989 – ANO 22 – Nº 11 – Edição 1071 – Arte/ Por Angélica de Moraes – Pág: 112/113)

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