Mina Bern, corajosa e versátil atriz, um dos últimos elos do fragmentado mundo do teatro iídiche

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Mina Bern, versátil atriz iídiche, morre aos 98 anos

Mina Bern, corajosa e versátil atriz e cantora que foi um dos últimos elos em Nova York do fragmentado mundo do teatro iídiche.

O famoso mundo do teatro iídiche da Segunda Avenida, onde estrelas como Jacob Adler, Paul Muni e Molly Picon ofereceram risos e melodramas a operários e moradores em pelo menos 14 teatros, estava em forte declínio quando a polonesa Bern chegou a Nova York em 1949. Ela e Ben Bonus, que viria a ser seu segundo marido, deram-lhe fôlego para que sobrevivesse por mais um tempo considerável.

“O iídiche não era mais a língua franca da comunidade imigrante, então o teatro iídiche se mantinha com pouca gente, e ela e seu marido estiveram entre essas pessoas nas décadas de 1950, 1960 e 1970”, disse Zalmen Mlotek, diretor artístico do Teatro Nacional Iídiche ¿ a Folksbiene que, com 95 anos, afirma ser a mais antiga companhia iídiche em produção contínua do mundo. Outros que contribuíram foram Menashe Skolnick, Joseph Buloff, Seymour Rexite, Miriam Kressyn, Zypora Spaisman, Fyvush Finkel e Shifra Lerer, os dois últimos ainda vivos.

Bern era conhecida não só por seu poder dramático como também por seu canto de cabaré e seu talento humorístico. Ela interpretava uma mulher sedutora em um esquete, uma bisbilhoteira de mente pequena no outro e, num terceiro, uma mãe idosa cujos filhos a deixam morar com eles apenas por mais um curto período. Nahma Sandrow, autora de Vagabond Stars: A World History of Yiddish Theater (Harper & Row, 1977), disse que Bern “era adorável em esquetes”.

“Ela tinha aqueles olhos azuis cheios de vida e costumava atuar com muita inocência, mesmo quando representava alguém irritante”, disse Sandrow.
Bern e Bonus, empresários e artistas, fizeram turnê pelos Estados Unidos, Canadá e América Latina com uma mistura de obras do teatro de revista iídiche. Eles às vezes pessoalmente cuidavam do cenário, faziam as fantasias e vendiam os ingressos. O público que os viu se lembra de duetos que foram incorporados ao repertório iídiche, como o lamento azedo Vos Dergeystu Mir Di Yorn? (literalmente, por que você arruína meus anos?)

Eles levaram espetáculos como Let’s Sing Yiddish (1966) e Light, Lively and Yiddish (1970) à Broadway, perdendo dezenas de milhares de dólares que não tinham enquanto assimilação cultural, educação e prosperidade material acabavam com a desejada audiência. Por pelo menos duas temporadas nos anos 1960, eles chegaram a operar um teatro na Segunda Avenida.

Em uma entrevista para o New York Times após a morte de Bonus em 1984, Bern disse que eles foram a lugares “onde as pessoas não escutavam muito o iídiche” para que a cultura não fosse esquecida. “Ele tinha isso como uma missão dentro dele”, ela disse sobre seu marido.

Mas amigos afirmam que isso era igualmente verdadeiro para ela, já que continuou entretendo mesmo bem depois dos 90. Em 2002, ela interpretou a mulher que supervisiona o mikvah, um banho ritualístico, em uma produção de Yentl, peça baseada numa história de Isaac Bashevis Singer. Em 2005, ela fez um espetáculo solo sobre sua vida. Ela também assumiu papéis em filmes de Hollywood que precisavam de imigrantes idosas, ente eles Amor à Segunda Vista (1988), Avalon (1990) e Rabugentos e Mentirosos (1996).
Bern nasceu em 5 de maio de 1911 como Mina Bernholtz, numa casa de língua iídiche em Bielsk Podlaski, na Polônia. (Hoje, atores iídiche provavelmente aprenderam a língua em aulas na faculdade, não em casa.) Um parente distante era uma personalidade do teatro iídiche, assim, ainda moça ela se juntou a Ararat, um popular produtor da kleynkunst (arte pequena), os sofisticados espetáculos de variedades que incluíam esquetes e monólogos.

Quando os nazistas atacaram a Polônia em setembro de 1939, ela e sua filha fugiram para o leste, onde ela passou a entreter audiências da União Soviética. Em certo ponto ¿ os relatos são conflitantes ¿, ela entreteve refugiados poloneses em Uganda e acabou no mandato britânico da Palestina, apresentando o teatro de revista iídiche onde se privilegiava o hebreu como a nova língua do corajoso povo judaico. Em 1949, ela foi à Nova York com o espetáculo Shalom, Tel Avi.
Ela deixa uma filha do primeiro casamento, Renya Pearlman, de Israel. Ela também deixa duas netas e quatro bisnetos.

Em 1999, Bern foi premiada com um Obie por “prolongada excelência”. Ela havia recentemente feito a abertura do musical iídiche Sweet Dreams, de Reissa, produzido pela Folksbiene.

“Ela podia estar se sentindo péssima, mas no minuto em que subia ao palco ela ficava superlativamente viva”, disse Reissa. “Ela sempre se certificava de que havia feito um bom trabalho e sempre tentava melhorar suas falas, o que era ótimo.”

Morreu no domingo (10 de janeiro de 2010) em Manhattan. Ela tinha 98 anos e vivia em Lower East Side.Ela morreu de falência cardíaca, disse sua amiga Eleanor Reissa, artista iídiche que dirigiu Bern em quatro espetáculos.

(Tradução: Amy Traduções)

(Fonte: diversão.terra.com.br/gente – Notícia/Diversão – Por JOSEPH BERGER – 14 de janeiro de 2010)

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