Marquês de Sade, deu liberdade à literatura, era o sol negro do século das luzes

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Autor de obras ‘pornográficas’, Marquês foi preso inúmeras vezes e morreu em asilo de loucos

Marquês de Sade (Paris, 2 de junho de 1740 – Saint-Maurice, 2 de dezembro de 1814)escritor francês nascido Donatien Alphonse François de Sade, foi um polêmico autor do século 18, que foi censurado no país até 1957 por motivo de “ultraje à moralidade pública e à religião”.

O marquês Donatien Alphonse François de Sade, nascido em junho de 1740, em Paris, foi preso inúmeras vezes acusado de agressões sexuais e imoralidade e faleceu em dezembro de 1814 em um asilo de loucos, onde passou os últimos 13 anos de sua vida.

Chamado durante muito tempo de “monstro”, sua obra era considerada “maldita” e “pornográfica”.

Seus textos foram rejeitados em razão do forte erotismo associado a atos de violência e crueldade, com torturas, estupros, assassinatos e incestos.

SEXO, SANGUE E GUILHOTINA, O TERROR NA ALCOVA

 

 

Durante quatro meses exatos, de 27 de março a 27 de julho de 1794, a cabeça do marquês de Sade dependeu do corpo de sua bela e dedicada amante, Marie-Constance Quesnet, apelidada de Sensível, durante a Revolução Francesa.

Ele preso na “casa de saúde” de Picpus; ela, entregando-se a deputados corruptos da Assembleia Nacional Popular para livrá-lo da guilhotina. A lâmina do Terror reinava no ano II da República, sob Robespierre, o Incorruptível.

O esquema de corrupção que livrou muitos nobres e ricos da guilhotina, pelo menos por um tempo, envolvia gorjetas para advogados ligados ao presidente do Tribunal, para meirinhos, diretores de prisão, oficiais de polícia e para os médicos que assinavam o atestado de doença.

O preso era transferido então para uma das “casas de saúde” do esquema e lá permanecia enquanto tivesse dinheiro para pagar a “pensão” caríssima, na esperança do fim do Terror. Quando o dinheiro acabava, guilhotina. Sade, sem dinheiro, sobreviveu.

Coloca-se o pensamento de Sade em confronto com a moral, a política e a sociedade de seu tempo. Tempo de alto risco para o pensamento, que dirá para o comportamento do marquês. Quando um dos prisioneiros diz a Sade que se ele vivesse cinquenta anos antes não teria os problemas que tinha, Sade responde: “Cinquenta anos antes, cinquenta anos depois, com mil diabos!, eu não seria quem sou.”

 

Quando a guilhotina é mudada da Praça da Revolução para a frente dos muros de Picpus, até então, Sade organizava um espetáculo de teatro com os presos, escrevia a peça. Lá fora, o teatro do Terror, o corte das cabeças, sessenta por dia, o sangue que apodrece e não s einfiltra na terra, a grande vala aberta nos jardins da “casa da saúde”, onde os mortos nus são jogados e apodrecem descobertos, a fedentina.

 

Quando proíbem a encenação da peça, a loucura de Sade explode e ele encena uma grande orgia, teatralizada, em que são usadas as roupas dos decapitados. A contraposição das duas longas cenas – ou seja, uma grande mortandade em nome da pureza do regime contraposta-se às sevícias sexuais da orgia do marquês.

 

A punição: Sade é inscrito na lista dos que vão morrer. Numa cena em que dezesseis carmelitas são decapitadas cantando o hino Laudate Dominum. Sade pensa: “Se os homens são realmente como eu os vejo, só posso me felicitar por ter infringido as leis da sua sociedade.” 

O nome Sade se tornou famoso em todas as línguas, dando origem à palavra sadismo, que faz referência às cenas de crueldade e de torturas descritas em seus livros.

Os Cento e Vinte Dias de Sodoma é a sua obra mais famosa, escrita na prisão da Bastilha em 1785, pouco antes da Revolução Francesa.

Para impedir que a obra fosse apreendida, Sade recopiou o texto com uma letra minúscula e colou as folhas para formar um fino rolo de papel, que tinha 12 metros de comprimento.

O texto só foi encontrada em 1904 e qualificado pelos opositores como “um longo catálogo de perversões”. A obra inspirou o filme “Saló ou os 120 dias de Sodoma”, do cineasta italiano Pier Paolo Pasolini.

 

Clandestinidade

No século 19, seus textos circulavam clandestinamente, “por baixo dos casacos”.

Victor Hugo, Gustave Flaubert, Honoré de Balzac, que se inspirou em Sade para escrever A Menina dos Olhos de Ouro, todos liam Sade.

 

Foi somente em meados do século 20, em 1957, que uma editor francês, Jean-Jacques Pauvert, tirou Sade da clandestinidade ao publicar, apesar da censura ainda vigente, suas obras com o nome oficial da editora.

Pauvert foi processado, mas conseguiu obter, em um recurso na Justiça, o direito de publicar as obras do marquês.

A verdadeira consagração de Sade na França só ocorreu quase dois séculos depois de seus escritos, com a publicação, em 1990, de suas obras completas pela prestigiosa Pléiade, a mais renomada coleção de livros da França, da editora Gallimard.

A Pléiade inclui em seu catálogo grandes nomes da literatura mundial, como Marcel Proust, Antoine de Saint-Exupéry, Albert Camus e Leon Tolstoi.

Sade, e sua influência na literatura e no mundo das artes. O castelo de Lacoste, no sul da França, pertenceu ao marquês e foi adquirido pelo costureiro Pierre Cardin.

Suas obras eram repletas de perversidade e violência, mas Sade, era um humanista. Sade defendia a abolição da pena de morte.

Foi justamente por gritar através das grades de sua cela na Bastilha às pessoas que passavam na rua que prisioneiros estavam sendo degolados no local que Sade foi transferido, às pressas, para um asilo de doentes mentais pela primeira vez.

Ele foi solto em 1790, após a Revolução, mas foi novamente internado em um hospício sem julgamento, em 1801, na época de Napoleão I, e nunca mais foi liberado.

O marquês foi preso sob todos os regimes políticos da época em que viveu (monarquia, república, consulado – na época de Napoleão Bonaparte – e império). No total, ele ficou detido 27 de seus 74 anos.

A Pléiade publicou cartas escritas por Sade à sua mulher. Outros livros que falam sobre sua personalidade e sua vida repleta de escândalos também estão sendo lançados, como duas obras do escritor Jacques Ravenne, Cartas de uma vida e As sete vidas do marquês (em tradução literal).

Ele deu liberdade à literatura. Dois séculos após Os 120 dias de Sodoma, ninguém foi tão longe. Ele era o sol negro do século das luzes. 

 

 

(Fonte: Veja, 17 de janeiro de 1996 – ANO 29 – N° 3 – Edição 1427 – LIVROS/ Por IVAN ANGELO – O Terror na Alcova/ de Serge Bramly – Pág: 104/105)

(Fonte: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/03/140318 – Marquês de Sade – 

 

 

 

 

 

 

 

 

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