Leonid Ilyich Brejnev (1906-1982), secretário-geral do Partido Comunista e chefe de Estado da URSS.

0
Powered by Rock Convert

Dirigente da União Soviética trouxe repressão e estagnação econômica

Leonid Ilyich Brejnev (Ucrânia, 19 de dezembro de 1906 – Moscou, 10 de novembro de 1982), secretário-geral do Partido Comunista e chefe de Estado da União Soviética. Líder soviético que durante quase duas décadas moldou as feições da URSS, à altura da imponente Revolução Russa, ao longo de seus 65 anos de existência, aprimorou para os seus filhos diletos. Incontestavelmente, Brejnev foi um deles – e a História o julgará não apenas pelo que fez em vida, como também pela forma inédita e surpreendente de sua sucessão. Em 1964, quando ajudou a apear do Kremlin o seu mentor Nikita Kruchev, ele citou a frase de Lênin que mais fundo caiu nos anseios da época: “Há entre nós um número demasiado de pessoas dispostas a empreender qualquer tipo de mudança. Por meio dessa reorganização, causa-se à nação o maior mal que vi em minha vida”. Foi um dos mais conhecidos, poderosos, influentes e carismáticos políticos da história.

Não tendo nenhuma vocação para a alternância do poder, e dispondo de escassa experiência no ramo – desde 1917 apenas quatro homens comandaram a nação – a União Soviética ultrapassou com espantosa agilidade a temida barreira da sucessão imediata de Brejnev. Desde 1977 acumulava o cargo de presidente da URSS. Mestre do compromisso – O mais russo dos líderes soviéticos guinou a URSS para a rota de estabilidade, mas o caminho se perdeu na estagnação. Leonid Brejnev sempre pôde apresentar as credenciais de um proletário puro: seu pai, Ilya, foi operário metalúrgico, e o filho inicialmente, também. Foi no coração da Ucrânia em Kamenskoe, que nasceu no dia 19 de dezembro de 1906, e cresceu Leonid. Foi lá, também, que buscou mais tarde seus homens de confiança e assessores. O fato de ter-se diplomado engenheiro deu-lhe o empurrão necessário para ingressar na camada social de ascensão recente em seu país e representá-la: a classe média soviética, que cresceu sob o comunismo, graduou-se em escolas socialistas, teve de substituir a antiga burguesia expulsa e ascendeu a posições das quais foi expurgada a velha guarda revolucionária.

Essa nova classe se emancipou do proletariado do qual era originária. Deixou a revolução para a China – passando a temer os chineses -, sentiu orgulho de sua pátria e vinculou-se a essa sociedade mediante privilégios, tornando mundialmente conhecida a palavra que cunhou essa elite e suas mordomias: momenklatura. Foi essa geração de Brejnev, decidida a preservar aquilo que conquistou, que mediu com precisão o momento de puxar o tapete de Nikita Kruchev, em 1964. Demolindo com carga excessiva a imagem de Stalin, promovendo reformas com precipitação demasiada e colhendo derrotas internacionais nas crises de Cuba e Berlim, Kruchev se tornara um transtorno monumental. Coube a Leonid Brejnev, seu protegido desde os tempos da Ucrânia, depois no Exército, e, por fim, nos corredores do Kremlin, a tarefa de chamá-lo por telefone na Criméia, para “deselegê-lo” do Comitê Central.

A partir daí, Brejnev levou seis anos para se desvencilhar da “liderança coletiva” idealizada inicialmente e se tornar primus inter pares através do controle efetivo do Politburo. Começou tratando dos pequenos detalhes que, num regime altamente burocrático, aumentam consideravelmente o poder: mandou que, entre os onze retratos dos membros do Politburo da época, até então do mesmo tamanho e, dispostos em ordem alfabética, e o seu fosse ampliado e colocado no centro. Também se preocupou em ocupar espaços vazios ou abrir novos horizontes. Assim, no dia 12 de agosto de 1970, deu um jeito de aparecer pela primeira vez numa foto oficial de assuntos de Estado, atrás do primeiro-ministro Alexei Kossiguin, quando este assinava, no Kremlin, o tratado de paz com a Alemanha Ocidental. Foi ele, também, como mero dirigente partidário – e, portanto, fugindo às normas internacionais, que exigem o chefe de governo ou de Estado – quem assinou com caneta de ouro o primeiro acordo de limitação de armas estratégicas com os Estados Unidos, em 1973.

Boa parte dessa investida, naturalmente, se fez com a aquiescência de seus parceiros de poder. Nas vezes em que isso não foi possível, a linha majoritária prevaleceu de forma fulminante. Em 1977, Nikolai Podgorny, que ocupou durante doze anos o cargo de chefe de Estado, foi “liberado de suas obrigações de membro do Politburo”, desceu do estrado reservado para a elite do partido, e ocupou um lugar mais abaixo, no salão, onde estão os membros comuns do Comitê Central.

A sorte de Kossiguin nã foi muito melhor. Embora sendo o mais estimado dos líderes da tróica – seu período de influência durou pouco. Por volta de 1969 ele já estava relegado às funções técnicas de chefe de governo e encarregado da impossível condução da economia soviética. Onze anos mais tarde, Kossiguin morria após ter sido afastado “a pedido” e substituído por um homem de Brejnev. Ao contrário de Kruchev, que tratava os outros membros da liderança soviética como subordinados e, por isso, criou um mar de ressentimentos, Brejnev procurava sugerir um clima de consenso nas reuniões do Politburo – e esperava o momento certo para desfechar os golpes.

Galgando um a um todos os degraus do poder na URSS, Brejnev está entre os considerados dos poderosos, em Moscou, sem lhe faltar nenhum título: secretário-geral do Partido Comunista da URSS, marechal da União Soviética, presidente do Presidium do Soviete Supremo (cargo equivalente a chefe de Estado), comandante supremo das Forças Soviéticas, membro do Politburo. Seu peito abrigou todas as medalhas e condecorações que recebeu – ou atribuiu a si próprio – ao longo dessa trajetória. Quatro vezes “Herói da União Soviética” (a mais alta distinção do Estado), oito vezes homenageado com a Ordem de Lênin, Brejnev chegou a enfeitar-se com uma honraria visual não atribuída desde os anos 30 – o direito de usar um brasão pessoal (uma espada encimada de foice e martelo dourados), sem falar em bijuterias como o Prêmio Lênin de Literatura e uma tiragem de 65 milhões de exemplares de suas memórias.

Isso não significa que seu reinado político tenha transbordado para um tipo de culto à personalidade que criaria inimigos mortais entre seus pares. Trata-se apenas, do resultado quase burocrático de dezoito anos de poder na URSS – quase o dobro do de seu predecessor Nikita Kruchev. Mas se o estilo de liderança brejneviano foi desprovido de drama e charme, com prioridade à ordem, ao método e ao gradualismo, o mesmo não se pode dizer de seu estilo pessoal, bem mais exuberante. Quintessência do homem russo, ele foi uma mistura de frieza e calor humano, rudez e charme, esperteza e ingenuidade. “A facilidade com a qual ele passava da cordialidade à brutalidade era estarrecedora”. Segundo o raro testemunho de três jornalistas alemães que o entrevistaram longamente, em 1973, ele raramente passava por um espelho sem se olhar, era expansivo, dado a humores, “latino” no gesticular. Outras surpresas se acumulariam nas memórias de seus interlocutores americanos, com quem negociou marcos históricos como as bases para as negociações de desarmamento, o fim da Guerra do Vietnã e o cessar-fogo da Guerra do Yom Kippur, no Oriente Médio. O ritmo do líder soviético era simplesmente caótico: encontros eram cancelados à última hora, sem explicações, e reconvocados da maneira mais imprevisível.

O início de sua incursão no campo da política externa também foi intempestivo – e com resultados desastrosos. Em 1967, quando a área da diplomacia ainda era território exclusivo do primeiro-ministro Kossiguin, Brejnev conseguiu apoio suficiente no Politburo – apesar da resistência do veterano Mikhail Suslov, pêndulo do poder no Kremlin, falecido em janeiro de 82 – para que a URSS apoiasse os árabes em sua Guerra dos Seis Dias contra Israel. Mas já nas primeiras horas da marcha triunfal dos militares israelenses, Kossiguin pegou o telefone e ligou para o então presidente americano Lyndon Johnson: a URSS não interviria no conflito se os EUA também se abstivessem.

Foi essa, ao que se sabe, a primeira e única vez em que Brejnev se colocou frontalmente contra a posição de seus parceiros mais diretos. Quando, catorze meses mais tarde, na dramática noite de 16 para 17 de agosto de 1968, em Moscou, ele deu seu voto de Minerva desempatando o impasse do Politburo a favor da invasão da Checoslováquia, sabia que calçado na justificativa ideológica aprovada pela cúpula do bloco comunista um mês antes: “quando os interesses de outros Estados socialistas são também afetados, quando a unidade, a força e a substância do campo socialista são colocados em perigo, o dever dos comunistas e líderes dirigentes é prestar toda ajuda ao povo checo”. A “ajuda”, no caso, foram quase 300 000 soldados e 250 tanques que esmagaram em três dias um começo de liberalização do regime.

Além das fronteiras do império soviético, contudo, Brejnev assistiu impassível às rachaduras no ideário comunista. “Nós não voltaremos às estruturas e às concepções internacionalistas do passado”, declarou, em 1976, durante uma conferência europeia dos partidos, o líder do PC espanhol Santiago Carrilo. “Não existe e não pode existir um Estado-guia”, ecoou seu colega italiano, Enrico Berlinguer. O fato de que, nesses mesmos dezoito anos de “brejnevismo”, grupos que se consideram marxistas terem chegado ao poderem Angola, Moçambique, Zimbabwe, Iêmen do Sul e Nicarágua, com a ajuda da URSS, pode servir de consolo. Nas vésperas da morte de Brejnev, a URSS também empreendia grande esforço para se reconciliar com o outro colosso socialista, a China Popular. Mas no crepúsculo de uma era que ameaça sepultar seus derradeiros representantes, o que está em jogo é muito maior: dependendo do acerto de rota, a União Soviética poderá avançar no rumo da maturidade – ou então recuar mais para a condição de ditadura envelhecida e de potência imperial ameaçada.

A principal vitória de Leonid Brejnev, consiste pelo escrutínio nos funerais na Praça Vermelha. Enterrado atrás do Mausoléu de Lênin em local reservado aos heróis da pátria, ele assegurou para a URSS uma sucessão imediata e sem brigas internas, mostrando uma carta póstuma que poucos esperavam. Brejnev morreu no dia 10 de novembro de 1982, aos 75 anos, de ataque cardíaco, em Moscou, União Soviética. Assim, antes mesmo que o mundo se refizesse do susto pela morte de Brejnev, o poder na URSS já havia trocado de mãos. A primeira sucessão real da história da União Soviética desde os anos 30, quando Stalin eliminou 1 milhão de companheiros do partido. Em seu livro de memórias o ex-presidente americano Richard Nixon descreve Brejnev como “mais organizador do que visionário, mais técnico do que ideólogo, mas nem por isso um comunista menos convicto ou impiedoso”.

(Fonte: Veja, 17 de novembro, 1982 – Edição n.° 741 – Datas – Pág; 138 – INTERNACIONAL – Pág; 58 a 62 e 64 a 70)

27 de maio de 1972 – O líder soviético Leonid Brejnev e o presidente americano Richard Nixon assinaram o tratado SALT, de limitação de armas estratégicas.
(Fonte: http://www.guiadoscuriosos.com.br/fatos_dia – 27 de maio)

Em 15 de outubro de 1964 – Derrubado do poder na União Soviética, Nikita Khrushov foi substituído por Leonid Brejnev, como secretário do Partido Comunista, e Aleksey Kosygin, como primeiro-ministro.
(Fonte: www.guiadoscuriosos.com.br – Fatos do Dia – 15 de outubro)

Powered by Rock Convert
Share.