José Murilo de Carvalho, historiador e membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), considerado um dos maiores historiadores e intelectuais brasileiros, era autor de 19 livros, entre eles “A Formação das Almas”, “A cidadania no Brasil”, e “Os bestializados”

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José Murilo de Carvalho, um dos maiores intelectuais brasileiros

Historiador, cientista político e membro da ABL, acadêmico foi um dos principais intérpretes do país

O historiador José Murilo de Carvalho, em seu apartamento no bairro do Flamengo, na zona sul do Rio

(Foto: Wilton Junior/Estadão© Fornecido por Estadão)

 

 

José Murilo de Carvalho, historiador e membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), era considerado um dos maiores historiadores e intelectuais brasileiros.

José Murilo era mineiro, bacharel em sociologia e política pela UFMG e mestre em ciência política pela Universidade de Stanford, na California, onde defendeu tese sobre o Império Brasileiro.

Foi professor e pesquisador visitante nas universidades de Oxford, Leiden, Stanford, Irvine, Londres, Notre Dame, no Instituto de Estudos Avançados de Princeton, e na Fundação Ortega y Gasset em Madrid.

Foi também professor emérito da UFRJ e pesquisador emérito do CNPq. Eleito para a ABL em 2004, ocupava a cadeira nº 5. Fazia parte também da Academia Brasileira de Ciências.

Escreveu 19 livros, entre eles “A Formação das Almas”, “A cidadania no Brasil”, e “Os bestializados”.

Carvalho foi fundamental para o entendimento sobre como reflexos da escravidão, do colonialismo, da formação do Império e da República e da relação dos militares com o poder influenciam o Brasil até hoje.

Na primeira tentativa de entrar na universidade, foi reprovado no vestibular para Economia por não resolver uma equação de 2º grau. Aí veio a guinada que marcaria as Ciências Humanas no Brasil: foi o 2º melhor colocado entre os aceitos no curso de Sociologia Política pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde se formou. Mais tarde, ganhou o título de mestre em Ciência Política pela Universidade de Stanford (EUA), onde defendeu tese sobre o Império Brasileiro.

Também foi professor e pesquisador visitante em universidades de vários países, como Oxford (Reino Unido), Leiden (Holanda), Stanford (EUA), Notre Dame (França) e na Fundação Ortega y Gasset (Espanha). Foi também professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Eleito imortal da ABL em 2004, sucedeu a escritora cearense Rachel de Queiroz e ocupava a cadeira nº 5.

Na sua última entrevista para o Estadão, em 2022, Carvalho analisou o bicentenário da Independência do Brasil. Segundo ele, o País chegou à data sem um projeto de nação e longe da grandeza anunciada em 1500 pela natureza exuberante e sonhada no século 19 pelos que lutaram por sua separação de Portugal.

“A grandeza não passou de sonhos”, destacou o historiador na época. “Destruímos nosso paraíso terrestre. Nossos ares, águas, praias estão poluídas, nossas matas, destruídas, nossas terras, em perigo de desertificação, a Amazônia, ameaçada pelo desmatamento e pela mineração predatória. A grande população indígena da época da chegada dos colonizadores foi quase toda extinta. Grande parte da população ainda sofre as marcas da escravidão.”

Infância na fazenda e pesquisa durante a ditadura militar

Nascido em Andrelândia (MG), a cerca de 150 quilômetros de Juiz de Fora, Carvalho era de uma família de dez irmãos e cresceu em uma fazenda em que não havia luz nem água encanada. Lá, segundo relatava, tiravam leite de vaca e andavam descalços – só usavam sapatos quando iam à cidade.

Foi alfabetizado pelo pai, que era dentista, e depois estudou em no seminário. Ele estava na graduação, em Belo Horizonte, quando o Brasil sofreu o golpe militar de 1964. Quando já dá aulas nas pós, Carvalho enfrentou os efeitos do Ato Institucional nº 5 (1968), em um cenário de cassação e prisão de professores e alunos – ele contava que até uma namorada sua foi detida no início dos anos 1970.

Reconhecido não apenas pela pesquisa acadêmica, era também elogiado pela qualidade de seu texto. Ele dizia que a aproximação com o campo da História e o hábito de contribuir com a imprensa o ajudaram a ter uma escrita mais enxuta e elegante.

José Murilo faleceu na madrugada do domingo (13) no Rio de Janeiro. Ele tinha 83 anos e estava internado no Hospital Samaritano com Covid.

Para Marco Lucchesi, membro da ABL e presidente da Biblioteca Nacional, José Murilo foi “um dos grandes intérpretes do Brasil”, capaz de renovar “a historiografia a partir da segunda metade do século 20, com livros fundamentais” que já “nasceram clássicos”.

Diversos intelectuais e acadêmicos da ABL se manifestaram sobre a morte dele. Entre eles, o economista Edmar Bacha, para quem “José Murilo foi um dos maiores historiadores que o país jamais teve”.

Bacha destacou ainda alguns aspectos da trajetória do historiador: “Revelou as entranhas do Império, fez o elogio a dom Pedro 2º, estabeleceu as limitações da República, esclareceu o papel central dos militares na história política do país, entre outros temas”.

O velório foi às 9h da segunda-feira (14) na ABL, no Centro do Rio. Em seguida, às 13h, o corpo do historiador foi enterrado no mausoléu da ABL, no Cemitério São João Batista, em Botafogo, na Zona Sul.

(Créditos autorais: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2023/08/13 – RIO DE JANEIRO/ NOTÍCIA/ Por g1 Rio – 

(Créditos autorais: https://www.msn.com/pt-br/noticias/brasil – Estadão Conteúdo/ NOTÍCIAS/ BRASIL/ História por Redação – 13/08/2023)

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