João Pernambuco, é o autor da melodia do velho clássico nordestino de Luar do Sertão

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Foi um dos compositores mais inventivos que o país pode conhecer a fundo.

João Teixeira Guimarães (Jatobá, hoje atual Petrolândia, em 2 de novembro de 1883 – Rio de Janeiro, 16 de outubro de 1947), violeiro, violonista e compositor, popularmente conhecido como João Pernambuco

João Pernambuco, é o autor da melodia do velho clássico nordestino de Luar do Sertão. Não há quem não tenha cantarolado os versos, da mesma forma, não há quem saiba quem foi João Pernambuco. Esse desconhecido compositor, morto em outubro de 1947, porém, é o autor, ainda que o primeiro a lhe negar a parceria legal fosse o poeta Catulo da Paixão Cearense (1863-1946), que passou à história como o único responsável pela canção.

Equívocos como esse contribuíram para que João Pernambuco continuasse anônimo, mesmo frequentando repertórios de violonistas como Baden Powell (1937-2000).

Nascido em Jatobá, Pernambuco, em novembro de 1883, João Teixeira Guimarães mudou-se para o Rio de Janeiro aos 21 anos, fugindo da seca e do desgosto com a morte de sua mãe. Trabalhou como ferreiro e, posteriormente, como contínuo da Prefeitura, função que exerceu até o fim da vida. Dividia seu tempo com o violão mas jamais foi músico profissional e, mesmo conhecendo alguma popularidade com o Grupo Caxangá e com Os Oito Batutas, seu nome se perdeu na curta memória popular.

Porém, fica evidente que, se João Pernambuco não chegou ao gênio de Pixinguinha, contribuiu para a música brasileira com algumas grandes canções. Foi homenageado em maio de 1983 com o primeiro LP que reuniu exclusivamente obras suas, “João Pernambuco 100 Anos” na interpretação do pianista Antônio Adolfo e do grupo carioca Nó em Pingo D’água.

João Pernambuco 100 Anos - (Foto: sarauparatodos.wordpress.com/ Divulgação)

João Pernambuco 100 Anos – (Foto: sarauparatodos.wordpress.com/ Divulgação)

Companheiro de Pixinguinha e do compositor Donga no Grupo Caxangá e, posteriormente, em Os Oito Batutas, dois dos conjuntos mais populares do Rio de Janeiro no início da década de 20, João é lembrado com mais frequência pela polêmica que manteve com Catulo da Paixão Cearense em torno de Luar do Sertão, e que durou trinta anos. Contra dezenas de depoimentos de testemunhas que ouviram a canção antes mesmo que ela recebesse uma letra, o poeta alegava que ele próprio construíra a melodia, a partir de um fragmento de Beethoven.

João Pernambuco era um compositor intuitivo que, mesmo analfabeto nas letras e nas partituras, deixou composições de impressionante complexidade. Entusiasta de seus chorinhos e jongos, Heitor Villa-Lobos admitia ser influenciado por eles em seu próprio trabalho e costumava exagerar para os amigos: “Bach não se envergonharia de assinar seus estudos para violão.”

João Pernambuco tecia harmonias muito ricas e extensas, como na brilhante Interrogando, que leva o ouvinte a uma viagem por surpreendentes modulações harmônicas. Já em Sentindo, transpõe uma estrutura de tango para o clima do choro, valorizando uma melodia pungente e de grande beleza. Seu universo é complexo, mas sua música arrebata o ouvinte ao primeiro acorde.

Em “João Pernambuco 100 Anos”, essa riqueza melódica é realçada por bons arranjos, que detalham as sutilezas harmônicas do compositor com instrumentos como a flauta e o violão de sete cordas. Assim, a linha melódica se desdobra, ganha mais corpo e, naturalmente, torna-se acessível a ouvintes pouco habituados à música instrumental.

(Fonte: Veja, 11 de maio de 1983 – Edição 766 – Música/ Por OKKY DE SOUZA – Pág: 125)

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