Jean-François Lyotard, filósofo francês, teorizou sobre as ideias do progresso econômico capitalista

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Jean-François Lyotard (Versalhes, 10 de agosto de 1924 -– Paris, 21 de abril de 1998), filósofo francês, um dos primeiros estudiosos a teorizar sobre o pós-modernismo, expressão egressa das artes plásticas.

O termo exaltava a diversidade, o pensamento afastado de um único núcleo, negando, por exemplo, as ideias do progresso econômico capitalista ou do igualitarismo da revolução socialista.

Jean Francois Lyotard (Foto: e-panastasi.gr/ Reprodução)

Jean Francois Lyotard (Foto: e-panastasi.gr/ Reprodução)

 

Pós-modernismo 

O filósofo JeanFrançois Lyotard, foi um influente pensador francês da segunda metade do século XX, ficará associado à noção fluida de pós-modernismo, que inspirou em 1979 o mais conhecido de seus textos.

Nascido no subúrbio parisiense de Versalhes, tornou-se em 1950 professor de filosofia no ensino secundário e lecionou na Argélia, então território colonial francês.

Entre 1952 e 1966 integrou o coletivo “Socialismo e Barbárie”, espécie de grupo de neotrotskistas liderados por Cornelius Castoriadis e entre os quais também se encontrava o filósofo Claude Lefort.

Mais tarde, rompeu com o grupo e com o cordão umbilical que ainda o mantinha ligado ao marxismo. “A revolução é uma ideia pequena, insipiente. Devemos eliminá-la”, afirmou pouco depois.

Passou a fazer parte do coletivo de pensadores inconformistas que se projetou na França após o movimento estudantil de maio de 1968. Lecionou na época na Universidade de Paris-13 (Nanterre), foco do movimento e onde estavam matriculados seus dirigentes.

Transferiu-se em 1970 para a Universidade de Paris-8 (Vincennes), na qual o recém-criado departamento de filosofia foi confiado a Michel Foucault. Vincennes, onde prevalecia uma estrutura bastante aberta de ensino, funcionava como o centro de contestação ao racionalismo hegeliano.

Essa aversão a Hegel, filósofo alemão do século 18, fundador da moderna dialética e da filosofia da história, tornou-se quase obsessiva naquele clima de efervescência.

A verdadeira opressão, argumentavam professores e estudantes, não vinha apenas da burguesia, conforme afirmavam os marxistas. Vinha sobretudo do arcabouço institucional construído pelo racionalismo, e do qual o Estado foi o mais opressivo exemplo.

Essa espécie de visão libertária da política e da cultura e essa apologia da singularidade em oposição ao coletivo massificante estavam desprovidas de qualquer projeto militante, mas se tornaria um dos núcleos daquilo que nos anos 80 passou a se chamar pensamento pós-moderno.

A expressão pós-modernismo já havia sido empregada na história e na arte. Tornava-se, a partir de então, uma bandeira que exaltava a diversidade, o pensamento afastado de um único núcleo, de um único foco, como o progresso material, a revolução socialista e outras dimensões utópicas que o mercado das idéias, mesmo as supostamente revolucionárias, acabava por lastrear.

Lyotard foi quem primeiro discorreu em livro, de forma didática para os jargões da época, sobre essa nova forma de pensamento.

Não foi um filósofo original, autor de um sistema, mesmo porque o “sistemismo” se tornara um condenável palavrão. Em lugar de Aristóteles ou Hegel, sistêmicos por excelência, as referências se deslocavam para Kant e Nietzsche.

O autor de “O Pós-Moderno” (tradução no Brasil de “La Condition Post-Moderne”) foi no entanto modesto ao investir contra os representantes míticos da racionalidade. Não apenas poupou Sigmund Freud -duramente castigado por Gilles Deleuze e Felix Guatari, também professores em Vincennes- como também nele se baseou para redigir “A Economia Libidinal”, o segundo mais conhecido de seus livros.

Lyotard foi um dos críticos do que na França se convencionou chamar de “sociedade mediática”, dentro da qual a mídia faz circular o mínimo de idéias para um máximo de imagens.

Mas se trata de um paradoxo para este personagem da mídia, que cresceu no mercado editorial justamente porque a universidade e as editoras, centros de fermentação de modismos, passaram a depender, até o final dos anos 70, do espaço que a televisão lhes abria.

O fato é que Jean-François Lyotard foi hábil ao direcionar sua carreira docente com os dividendos que sua nova imagem propiciava. Tornou-se na Universidade de Paris apenas um professor emérito. 

Passou a dar conferências, e por elas ser muito bem pago, na Universidade da Califórnia e na Universidade Emory, em Atlanta, ambas nos Estados Unidos.

Lyotard morreu no dia 21 de abril de 1998, aos 73 anos, de leucemia, em Paris. Estava internado havia mais de um mês no hospital Necker, no bairro nº 15.

Numa França em que o exotismo conceitual perdeu aos poucos seus atrativos, Lyotard deixa o mundo dos vivos como um dos derradeiros e prolixos modismos.

Segundo o filósofo Gérald Sfez, que foi aluno de Lyotard e preparou um livro a respeito de sua obra, até pouco antes da internação, Lyotard continuou trabalhando, apesar da leucemia. “Ele resistiu muito e, mesmo no fim de sua vida, não mudou, permaneceu como sempre foi”, afirmou Sfez.

Ele estava escrevendo um novo livro, “La Confession d’Augustin” (“A Confissão de Agostinho”), que foi deixado praticamente pronto e deve ser publicado neste ano pela editora francesa Galilée.

(Fonte: Veja, 29 de abril de 1998 -– ANO 31 -– N° 17 – Edição 1544 -– DATAS – Pág; 121)

(Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq22049824 – FOLHA DE S. PAULO – ILUSTRADA/ Por JOÃO BATISTA NATALI da Reportagem Local/ RODRIGO AMARAL  de Paris – 22 de abril de 1998)

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O fim das metanarrativas

FILOSOFIA PÓS-MODERNA

O filósofo francês Jean-François Lyotard (1924-1998) definiu o pós-moderno como “a incredulidade em relação às metanarrativas” (em sua obra A condição pós-moderna). Com isso, ele queria dizer que a experiência da pós-modernidade decorreria da perda de nossas crenças em visões totalizantes da história, que prescreviam regras de conduta política e ética para toda a humanidade.
Falsos consensos universais
Um exemplo de metanarrativa é a filosofia iluminista, que acreditava que a razão e seus produtos – o progresso científico e a tecnologia – levariam o homem à felicidade, emancipando a humanidade dos dogmas, mitos e superstições dos povos primitivos.

O marxismo é outro exemplo de metanarrativa. Para os marxistas, a história era impulsionada pelo confronto entre duas classes contraditórias, a burguesia e o proletariado, que resultaria, ao fim da revolução do proletariado, numa sociedade sem classes, de plena liberdade e igualdade: o comunismo.

A história, porém, mostrou que, na prática, tais teorias não funcionaram conforme o previsto. Ao mesmo tempo em que a razão e a ciência melhoraram as condições de vida das pessoas, promovendo a cura para as doenças e a alfabetização em larga escala, também deram ao homem o poder de produzir armas de destruição em massa, como a bomba atômica lançada em Hiroshima em 1945, ao final da Segunda Guerra Mundial, além de provocar mudanças climáticas causadas pela poluição nas grandes cidades, e que hoje ameaçam a sobrevivência da espécie humana.

O marxismo, por sua vez, quando confrontado com a realidade, ao invés do prometido “paraíso na terra”, trouxe regimes totalitários para países como Rússia, China e Cuba, cujo povo sofreu – em alguns casos, sofre até hoje – com restrições às liberdades civis e violações dos direitos humanos (que não são exclusivas de países comunistas, como demonstra a história recente dos EUA e mesmo do Brasil).

Por esta razão, criou-se um clima de desconfiança em relação a qualquer discurso que proponha formar consensos universais, ou seja, projetos coletivos que visem “mudar o mundo”. Cria-se, assim, um ambiente para o pós-modernismo.

O saber pós-moderno
Se as grandes narrativas que mobilizaram a humanidade foram abandonadas, surge, entre outros problemas, o de como justificar o saber na sociedade contemporânea. Por “saber”, Lyotard entende um conjunto de conhecimentos que autoriza a determinada pessoa (cientista, juiz, filósofo, artista, etc.) emitir juízos de verdade, moral e estética, isto é, dizer que isto é certo ou errado, bom ou mal, feio ou bonito.

A questão é que não há mais um acordo em comum sobre esses valores. Ou, nas palavras do filósofo francês, não há mais uma metanarrativa que torne os discursos aceitos por todas as culturas. Para a civilização ocidental, fundada em ideais como a democracia, a liberdade e os direitos individuais, esse relativismo representa um sério risco.

Mas Lyotard também não aceita uma continuidade do projeto de modernidade que se assente sobre o diálogo livre de coerções, como quer Habermas, pois vê nisso um retorno à metanarrativa iluminista (ver o texto “Habermas, Apel e a ética da linguagem”). O que fazer?
Performance
Lyotard baseia-se no conceito de jogos de linguagem, de Wittgenstein (ver o artigo “Filosofia pós-moderna – Heidegger e Wittgenstein”) para afirmar que a legitimação dos saberes só pode ser local e contextual. Assim como a linguagem só adquire sentido quando usada, isto é, quando se torna um “lance” em um jogo específico, os saberes também, para Lyotard, são justificados por consensos provisórios e parciais.

Este problema de legitimação apareceu, por exemplo, no recente debate ético a respeito do uso de células-tronco embrionárias pela ciência. Para o Iluminismo, bastava seguir a razão, não a fé religiosa, que estaríamos agindo da maneira correta. Como fica quando a ciência não tem mais um meta-discurso por meio do qual justifique seus experimentos? E mais: como saber se uma teoria é válida ou não?

O que nos resta como parâmetro, segundo Lyotard, é sua performance, isto é, a eficácia que tem a teoria. Bom é o saber que produz os melhores resultados.

Neste ponto de vista, espera-se menos que as experiências realizadas no LHC – Grande Colisor de Hádrons (na sigla em inglês), localizado na fronteira entre a Suíça e a França, revelem uma suposta essência do universo do que produzam resultados concretos que justifiquem o investimento bilionário no projeto.
Paralogia
Mas a pura performance reduz a ciência ao seu aspecto industrial, comercial e lucrativo. Lyotard busca então uma alternativa em um dos aspectos mais positivos da pós-modernidade: o reconhecimento e o convívio harmonioso com as diferenças.

No campo dos saberes, o reconhecimento das diferenças passa pelo que ele chama de paralogia, que significa que um bom saber é aquele que percebe “anomalias” e constrói novos conceitos. O que legitima o saber seria seu aspecto mais criativo, digamos assim. Descobrir, em uma infinidade de informações que bombardeiam a todo instante nossos sentidos, aquelas que são relevantes e se tornarão conhecimento.

(Fonte: www. educacao.uol.com.br – José Renato Salatiel/ jornalista e professor universitário)

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